Em Ciudad Juárez, ao lado de El Paso, no Texas, muitos estrangeiros que tentam entrar ilegalmente no país vizinho em busca de refúgio ficam retidos

Um incêndio deixou ao menos 40 mortos e 28 feridos em um centro de migrantes em Ciudad Juárez, cidade no norte do México que faz fronteira com o município americano de El Paso, no Texas, informou o governo mexicano nesta terça-feira. 

O presidente Andrés Manuel López Obrador culpou os próprios migrantes pela tragédia, afirmando que o fogo começou durante um protesto contra deportações, mas imagens de câmeras de segurança mostram que guardas estavam no local no momento e não liberaram os migrantes mesmo com o avançar das chamas.

O incêndio, sem precedentes nesse tipo de instalação, começou na segunda-feira à noite na área do Instituto Nacional de Migrações (INM) onde estavam alojados estrangeiros sem documentos. Havia 68 homens no local, todos maiores de idade e procedentes da América Central e da América do Sul.

O governo mexicano atribuiu o fogo a pessoas que protestavam contra suas deportações. A investigação do caso foi assumida pela Procuradoria-Geral e pelo INM, indicou o presidente Andrés Manuel López Obrador.

— Isso teve a ver com um protesto que eles começaram, quando, supomos, descobriram que seriam deportados, mobilizados — disse López Obrador em sua coletiva de imprensa diária. — Em protesto, colocaram colchões à porta do abrigo e atearam fogo neles, não imaginando que causariam essa desgraça terrível — acrescentou.

Imagens de videomonitoramento divulgadas pela mídia mexicana mostram como um grupo de pessoas, aparentemente migrantes, chuta um portão tentando abri-lo enquanto o fogo se alastra no local onde estão trancados.

Simultaneamente, pelo menos três agentes migratórios uniformizados circulam do outro lado da cerca sem fazer nenhuma manobra visível para ajudá-los. Então a fumaça invade o local. A veracidade do vídeo foi confirmada pelo secretário do Interior, Adán López, em entrevista a uma emissora local.

Ainda não há informações sobre os nomes e as nacionalidades de todas as vítimas. havia no local "principalmente migrantes da América Central e alguns da Venezuela", acrescentou López Obrador, lamentando a tragédia.

"O governo guatemalteco confirmou a morte de 28 de seus cidadãos e disse que trabalhará para punir os responsáveis ​​e indenizar os familiares. O Ministério das Relações Exteriores do Equador também informou a morte de um de seus cidadãos.

No México, a Procuradoria-Geral informou que entre os “imigrantes identificados” também há 13 hondurenhos, 12 venezuelanos, 12 salvadorenhos e um colombiano, sem diferenciar entre mortos e feridos.

"A migração irregular traz consigo uma série de riscos, que novamente ficaram em evidência", advertiu o instituto, chamando seus compatriotas a "tomar decisões acertadas antes de empreender a viagem, que muitas vezes não tem retorno nem destino final".

Uma correspondente da AFP observou o momento em que as equipes de emergência retiravam os corpos do local e os carregavam para o estacionamento do centro migratório, antes do transporte por parte dos legistas.

A tragédia no centro de migrantes provocou a mobilização de bombeiros, e dezenas de ambulâncias foram enviadas ao local, que permanece vigiado por militares e pela Guarda Nacional.

Vários migrantes foram transferidos para esse centro migratório nos últimos dias, depois que as autoridades locais retiraram vendedores ambulantes, muitos deles estrangeiros, das ruas.

'Não falam nada'

Viangly, uma venezuelana, gritava desesperada do lado de fora do centro migratório, para onde seu marido, de 27 anos, foi levado depois de ser detido, apesar de, segundo a jovem, estar com documentos que autorizam sua permanência no México.

Ela sabe que o marido está entre as vítimas do incêndio, mas não tem informações sobre o estado de saúde.

— Ele foi levado em uma ambulância. Eles [agentes migratórios] não falam nada. Um parente pode morrer, e eles não falam 'está morto' — afirmou a mulher com a voz embargada.

Vizinha de El Paso, Ciudad Juárez é uma das cidades fronteiriças onde muitos estrangeiros que tentam entrar nos Estados Unidos em busca de refúgio ficam retidos.

Um relatório recente da Organização Internacional para as Migrações (OIM) indica que, desde 2014, cerca de 7.661 imigrantes morreram ou desapareceram a caminho dos Estados Unidos, e 988 morreram em acidentes ou viajando em condições subumanas.

O presidente americano, Joe Biden, endureceu a política migratória e obrigou os migrantes de Ucrânia, Venezuela, Cuba, Nicarágua e Haiti a pedirem asilo a partir dos países de trânsito, ou por meio de consultas online.

As medidas foram anunciadas depois que o presidente democrata foi acusado pela oposição republicana de perder o controle da fronteira, com mais de 4,5 milhões de pessoas sem documentos interceptadas na região desde que ele assumiu o poder.


Fonte: O GLOBO