Para analistas, mercado de trabalho aquecido, renda em alta, juros em queda e inflação controlada pode manter resiliência dos dados do segmento

Os serviços cresceram um pouco menos do que o mercado esperava em dezembro. O avanço foi de 0,3%, contra uma projeção de 0,8%. Na comparação frente a dezembro de 2022, houve uma retração de 2%, quando expectativa era de um resultado positivo de 1%. 

No dado fechado de 2023, a Pesquisa Mensal de Serviços (PMS), divulgados nesta sexta-feira pelo IBGE, mostra que o setor cresceu 2,3%. É a terceira alto anual. No indicador acumulado nos últimos 12 meses, o setor mostrou perda de dinamismo ao passar de 3,1% em novembro para 2,3% em dezembro de 2023.

Na visão de João Savignon, head de pesquisa macroeconômica da Kínitro, o setor de serviços permanece em "desaceleração compatível com uma acomodação do ritmo de crescimento da atividade, dada a base de comparação elevada". 

Ele pontua que há um arrefecimento dos setores que vinham sendo os motores do crescimento deste segmento," como transportes, mas por outro lado, algumas atividades que estavam mais atrasadas voltaram a andar, como os serviços prestados às famílias, que subiram 6,6% nos últimos dois meses".

Cláudia Moreno, economista do C6 Bank , também destaca a evolução dos serviços prestados às família em dezembro como uma tendência. Ela pondera, no entanto, que quando se pensa na influência do dado em relação ao ciclo de cortes de juros pell Banco Central do Brasil , não há nenhuma alteração de cenário:

-O que a gente gosta de olhar mais perto para acompanhar a dinâmica da inflação de serviços é a parte do mercado de trabalho. E eu acho que é isso que o Banco Central vai olhar também. A gente está com uma taxa de desemprego em patamar baixo, um pouquinho abaixo de 8%. 

A nossa expectativa é que se mantenha nessa faixa, o que cria uma dificuldade da inflação de serviço mostrar uma maior desaceleração. O Banco Central vai olhar ainda a parte de rendimento real, que vem apresentando tendência de alta. Isso é importante acompanhar nas próximas divulgações.

A economista projeto um crescimento de 1,6% para o setor de serviços em 2024, influenciado pelo mercado de trabalho ainda aquecido e pela queda da Selic. Em relação ao PIB, a previsão do C6 Bank é de alta de 1,5% em 2024 e em 2025.

Na avaliação de Rafael Perez, economista da Suno Research, a política monetária restritiva do Copom teve efeito sobre o setor que aponta uma perda de dinamismo nos últimos meses. Mas destaca que "devemos continuar observando uma expansão do segmento, ainda que menor do que anos anteriores, ao longo de 2024", lembrando que a ata do Copom, divulgada na última terça-feira, faz alerta sobre a inflação de serviços.

Igor Cadilhac, economista do PicPay, acrescenta que "a perspectiva é que um mercado de trabalho aquecido, a regra de valorização do salário mínimo e a inflação comportada sirvam para contrabalançar essa perda de fôlego do setor", apontada pela PMS.

Com os números de atividade de dezembro fechados, Cadilhac estima que os avanços da indústria e dos serviços devam prevalecer sobre a queda no comércio. E projeto um Índice de Atividade Econômica do Banco Central (IBC-Br) de 0,8% no mês.

Já Étore Sanchez, economista-chefe da Ativa Investimentos, revisou para baixo suas estimativas para o crescimento do PIB de 2023 de 2,9% para 2,8%, após ver o resultado dos serviços em dezembro.


Fonte: O GLOBO