Apesar da fragilidade do Panamá, a seleção pode comemorar o padrão de jogo aplicado em toda a partida

A goleada do Brasil sobre o Panamá, por 4 a 0, na estreia da Copa do Mundo da Austrália e Nova Zelândia, conta algumas histórias. A principal delas, claro, da meia-atacante Ary Borges. A jovem de 23 anos que fez um hat-trick em sua estreia em Mundiais e ainda deu um passe de calcanhar para o quarto gol de Bia Zaneratto. E já é a artilheira da competição.

Ary é a representação da evolução do Brasil no ciclo sob o comando de Pia Sundhage, que renovou metade do elenco, mas conta com larga experiência internacional. Se ainda não pode ser colocada na prateleira das maiores favoritas, a seleção certamente será competitiva contra qualquer adversária. Bem diferente do time de 2019, que também estreou com boa vitória sobre a então estreante Jamaica por 3 a 0, mas não transparecia tanta confiança para o futuro.

Qualquer análise da vitória desta segunda-feira, no entanto, vai ter a ponderação da fragilidade do Panamá. O desafio não era dos maiores. A seleção da América Central foi a última a se classificar para a Copa do Mundo — venceu o Chile na repescagem — e não figura entre as 50 melhores do mundo. 

O ponto positivo é que o Brasil soube impor sua superioridade nos 90 minutos. Um dado reflete a disposição da equipe: em determinado momento, o time levava apenas sete segundos para recuperar a bola. Se era muito melhor que a adversária, provou por quê.

Neste processo de evolução do jogo do Brasil treinado pela sueca, os elementos que fizeram a seleção empatar com a Inglaterra, na Finalíssima, e vencer a Alemanha, em amistoso, estavam lá, ainda que com formações diferentes. 

Mostra que já há um padrão de jogo e suas variações. E até mais aprimorado no aspecto coletivo como aconteceu no decorrer da partida após um início de nervosismo natural. O quarto gol brasileiro, de Bia Zaneratto, traduz a coletividade e o talento do time. Cinco jogadoras participaram da jogada, já na entrada da área, com direito à caneta e a toque de calcanhar.

Viu-se um time coeso, com um meio-campo de proteção primoroso, jogadas bem ensaiadas e que propôs o jogo do primeiro ao último minuto — uma goleada ainda maior não seria surpresa. Apesar de Ary Borges ter sido a craque do jogo, há vários destaques na partida, como Luana, que dominou a intermediária ao lado de Kerolin, Debinha, que flutua no ataque e a imposição física de Bia Zaneratto dentro da área. E, claro, todo o lado esquerdo da seleção, costurado por Tamires, que se mostrou o ponto forte do time. Todos os gols saíram por aquele lado.

Tudo isso sem a presença de Marta como titular — ela entrou no lugar de Ary Borges, que comemorou com uma dancinha em sua homenagem, e só atuou na parte final do jogo para ganhar ritmo —, confirmando que a coletividade é a marca da seleção, como Pia sempre quis. Mesmo com as mudanças no segundo tempo, o time não perdeu totalmente a coesão. Mudou um pouco o estilo com o ataque formado por Gabi Nunes e Geyse, que tinha esperanças de começar o jogo.

É necessário, porém, ter pés no chão. A defesa não foi testada. Praticamente em nenhum momento. Foram apenas dois chutes na direção do gol de Lelê, todos no segundo tempo. Rafaelle e Lauren conseguiram apresentar o bom passe na saída de bola, mas serão exigidas na parte defensiva mesmo contra a França, que tem seu jogo forte pelas alas e na bola aérea.


Fonte: O GLOBO