A maneira como gastam o dinheiro que nunca para de jorrar do Oriente Médio separa os dois clubes

É fabuloso que as duas cenas tenham acontecido ao mesmo tempo: em Paris, torcedores do PSG protestavam contra Neymar e Messi, enquanto 800 quilômetros ao norte dali o Manchester City destruía o pobre West Ham e dava mais um passo rumo ao inevitável título do Campeonato Inglês. O que une os dois clubes é o propósito para o qual foram adquiridos. 

O Manchester City pertence a Abu Dhabi, o PSG ao Catar. Dois projetos de “sportswashing”, termo já gasto para explicar o uso do esporte para lustrar reputações — neste caso de dois Estados com péssimo histórico de direitos humanos. O que os separa é a maneira como gastam o dinheiro que nunca para de jorrar do Oriente Médio.

O PSG escolheu ser uma conferência de celebridades, uma reunião de influencers que de vez em quando — entre um evento publicitário e uma guerrinha de indiretas pelo instagram — joga futebol. Dá e sobra para ganhar o Campeonato Francês, afinal orçamento do PSG equivale ao da soma de Lyon, Olympique de Marselha e Monaco, mas não é suficiente para competir na Europa.

O Manchester City fez precisamente o contrário: importou um sistema altamente vencedor no Barcelona, contratou o melhor técnico do mundo e deu a ele tudo para montar um time perfeito. O City está prestes a conquistar a Premier League pela quinta vez em seis anos, de maneira muito mais avassaladora do que os outros dois times que conseguiram essa façanha — o Liverpool entre 1979 e 1984 e o Manchester United de 1996 a 2001.

Não poderia haver maior diferença entre PSG e Manchester City do que a maneira como eles lidaram com o mesmo adversário na atual edição da Champions League. 

Nas oitavas de final, o Bayern de Munique varreu o PSG com duas vitórias e não permitiu nem sequer um gol ao time que ostentava os dois melhores jogadores do mundo como dupla de ataque. É preciso fazer algum tipo especial de esforço para ter Messi e Mbappé (Neymar estava machucado) e não conseguir fazer um gol em 180 minutos.

O Bayern avançou às quartas e então foi destroçado pelo Manchester City de Pep Guardiola. Levou 3 a 0 no jogo de ida em Manchester e empatou por 1 a 1 na volta em Munique — só foi fazer um gol de pênalti no fim do segundo jogo. 

Numa dessas partidas a torcida do Bayern protestou contra os autocratas que estariam destruindo o futebol. (Talvez fosse uma reclamação contra o fato de Haaland ter trocado o Borussia Dortmund pelo City, e não seguir o caminho até ontem obrigatório para qualquer craque do futebol alemão: ser comprado pelo Bayern de Munique. Mas este é outro assunto).

Acostumado a mimar suas estrelas, o PSG nesta semana puniu Messi com duas semanas de afastamento por causa de uma viagem não autorizada para a Arábia Saudita. A decisão levou protestos contra o melhor jogador do mundo, que deixará o clube pela porta dos fundos após dois anos. 

O desatino levou o colunista Benoît Lallement a escrever no jornal Le Parisien: “O clube teria agido de outra forma se não quisesse se livrar de Messi? (...) Falta ao PSG ser um clube, um clube sério. Se fosse, este caso teria sido resolvido com mais dignidade”. Enquanto isso, os cérebros em Manchester vão transformando dinheiro em troféus.


Fonte: O GLOBO