Agentes da PF se deslocaram à comunidade Uxiu na madrugada de hoje para fazer a perícia no local do crime e colher depoimentos das testemunhas; ministro dos

A Polícia Federal abriu neste domingo uma investigação para apurar as circunstâncias do ataque a tiros sofrido ontem por uma comunidade do povo Ianomâmi. A região de Uxiu, situada em Roraima, ainda sofre com a invasão de garimpeiros ilegais, que têm sido expulsos do território indígena desde janeiro em uma megaoperação do governo federal.

Ilson Xirixana, de 36 anos, morreu após ser baleado com um tiro na cabeça. Ele foi encaminhado para a unidade de saúde da base do Exército de Surucucu, mas não resistiu aos ferimentos. Outros dois indígenas, de 24 e 31 anos, também foram baleados. Eles seguem hospitalizados em um hospital de Boa Vista, para onde eles foram encaminhados após receberem os primeiro-socorros em Surucucu.

Presidente do Conselho Distrital de Saúde Indígena do povo Ianomâmi (Condisi-YY), Junior Hekurari, informou que Xirixana era agente indígena de saúde da comunidade Uxiu. Segundo ele, os três indígenas se dirigiram a um acampamento de garimpeiros, que fica a 500 metros da comunidade, para pedir acesso à internet.

Houve uma discussão entre eles e os garimpeiros iniciaram os disparos com tiros de revólver, segundo Junior Hekurari, que conversou com um dos feridos enquanto era levado ao hospital. — Eles me disseram que não sabiam porque os garimpeiros atiraram neles. Tentamos reanimar o agente de saúde por cinco ou seis vezes. A situação dos outros dois é grave — disse ele ao GLOBO.

Nesta manhã, a Polícia Federal foi ao acampamento em busca de provas contra os autores do crime.

Em suas redes sociais, a ministra dos Povos Indígenas, Sonia Guajajara, acusou os garimpeiros de terem perpetrado o ataque. Segundo ela, uma comitiva do governo Lula "está a caminho de Roraima para reforçar ainda mais as ações de desintrusão dos criminosos".

"A situação de invasores na TI Yanomami vem de muitos anos e, mesmo com todos os esforços sendo realizados pelo governo federal, ainda faltam muitas ações coordenadas até a retirada de todos os invasores do território", escreveu Guajajara. Ela pediu apoio do Ministério da Justiça para esclarecer o ataque a tiros.

Em nota, a Polícia Federal informou que, além da investigação, está fazendo diligências para "identificar, localizar e prender os autores dos crimes". "A PF apurou indícios dos crimes cometidos contra os indígenas, ouviu testemunhas, realizou perícia de local de crime e aguarda a elaboração dos respectivos laudos e relatórios para prosseguimento das investigações", complementa o texto.

Maior reserva indígena do país, o território Ianomâmi passa por um processo de desocupação dos mais de 20.000 garimpeiros que reviravam o solo na área protegida atrás de ouro e cassiterita. Apesar de boa parte dos garimpeiros já terem saído espontaneamente do território, parte deles ainda resiste.


Fonte: O GLOBO