Interlocutores da área diplomática afirmam que posição do Brasil é neutra e governo brasileiro já condenou invasão da Ucrânia pelos russos mais de uma vez

O governo brasileiro convidou o chanceler da Ucrânia, Dmytro Kuleba, para visitar o Brasil cerca de dez dias antes de o ministro das Relações Exteriores, Mauro Vieira, fazer o mesmo convite a Sergey Lavrov, às margens de um encontro do G-20 (grupo que reúne as maiores economias do mundo), na Índia. 

Segundo relatos de integrantes da área diplomática ao GLOBO, Lavrov, "que é uma águia", aproveitou a oportunidade para vir a Brasília, fazer declarações em defesa de seu país e ainda ser recebido pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva.

Em resposta às críticas de que o governo brasileiro conversa com mais frequência com os russos do que com os ucranianos, essas fontes afirmaram que Kuleba foi convidado a vir ao Brasil, também por Mauro Vieira, em uma reunião, em fevereiro último, durante uma conferência internacional de segurança em Munique, Alemanha. 

Um graduado diplomata brasileiro afirmou que, se realmente houvesse vontade política do país do Leste Europeu, o chanceler ucraniano "teria comprado uma passagem e vindo a Brasília", tal como fez Lavrov.

As declarações de diplomatas americanos, publicadas no último domingo pelo GLOBO e repetidas abertamente pela Casa Branca na segunda-feira, de que o Brasil estaria tomando partido da Rússia, não são verdadeiras, disse um interlocutor do governo brasileiro. O principal argumento é que o Brasil condenou a invasão da Ucrânia pelos russos.

Não houve, até momento, contatos formais entre os governos do Brasil e dos EUA, ou da União Europeia. De acordo com fontes ligadas ao Itamaraty e ao Palácio do Planalto, a posição brasileira é e sempre foi de neutralidade.

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva defende a criação de um grupo de países para negociar um acordo de paz entre Rússia e Ucrânia. No entanto, algumas declarações de Lula têm causado polêmica. Um exemplo é quando ele diz que os ucranianos precisam querer a paz e talvez tenham de deixar de brigar pela península da Crimeia, anexada pela Rússia em 2014.

Nesta manhã, o porta-voz da diplomacia ucraniana, Oleg Nikolenko, fez uma postagem em seu Facebook afirmando que "observa com interesse os esforços do presidente do Brasil de encontrar uma solução para pôr fim à guerra". Ele convidou Lula a ir à Ucrânia, para ver de perto a realidade do país.


Fonte: O GLOBO