Para o ex-presidente, investigação é uma conspiração maior planejada por seus oponentes políticos, incluindo o atual presidente, Joe Biden

O ex-presidente dos Estados Unidos Donald Trump respondeu à notícia de que havia sido denunciado no caso de suborno a uma atriz pornô chamando o voto do Grande Júri de Manhattan de "perseguição política e interferência eleitoral no nível mais alto da História".

A declaração de Trump ecoou o que tem sido um esforço extraordinário e intenso para tentar impedir que o promotor distrital de Manhattan, Alvin Bragg, o denuncie. Ainda assim, foi notável o quão agressivo ele se mostrou contra a acusação e um sinal do que mais pode vir.

“Os democratas mentiram, trapacearam e roubaram em sua obsessão de tentar ‘pegar Trump’, mas agora eles fizeram o impensável denunciando uma pessoa completamente inocente", escreveu o ex-presidente.

Trump enquadrou a investigação que resultou na denúncia como a mais recente na longa linha de investigações criminais que ele enfrentou, nenhuma das quais resultou em acusações formais. Os detalhes do caso ainda não são conhecidos, mas espera-se que se concentrem no papel do republicano em um pagamento clandestino à atriz pornô Stormy Daniels nas vésperas da eleição presidencial de 2016.

Para Trump, a investigação é uma conspiração maior planejada por seus oponentes políticos, incluindo o atual presidente, Joe Biden: “Estou certo de que esta caça às bruxas vai se voltar fortemente contra Joe Biden”, disse ele, que também se referiu a Bragg como “desgraça”.

Funcionários da Casa Branca se recusaram a comentar o caso. Anteriormente, Biden prometeu manter a independência do Departamento de Justiça durante as investigações de Trump, evitando o tipo de interferência e intimidação que foi uma marca registrada do governo anterior.

O Departamento de Justiça também não fez comentários sobre a acusação de Trump. Mas a decisão foi recebida com algum ceticismo e com bastante apreensão nos círculos federais de aplicação da lei. Altos funcionários acreditam que o caso é o mais fraco das investigações criminais pendentes sobre o ex-presidente.

Eles estão preocupados que o público possa confundir a investigação de Bragg com a investigação dupla do procurador especial Jack Smith sobre os esforços de Trump para permanecer no cargo após perder a eleição de 2020 e seu papel em instigar os eventos de 6 de janeiro de 2021, quando o Capitólio foi invadido por apoiadores do ex-presidente republicano.

Membros do Partido Democrata, muitos dos quais tentaram responsabilizar Trump por irregularidades por meio de dois julgamentos de impeachment no passado, expressaram satisfação com a decisão de Bragg, ele também um democrata. Muitos repetiram o mesmo refrão: que as acusações mostram que ninguém está acima da lei.

"A acusação de um ex-presidente não tem precedentes. Mas também é a conduta ilegal em que Trump se envolveu. Uma nação de leis deve responsabilizar os ricos e poderosos, mesmo quando ocupam altos cargos. Especialmente quando o fazem. Fazer o contrário não é democracia", declarou o deputado Adam Schiff, democrata da Califórnia, nas redes.

Para Jessica Velasquez, presidente do partido no estado do Novo México, "esta acusação é um passo muito atrasado para responsabilizar Trump por seu flagrante desrespeito às nossas leis e democracia. O sistema legal está finalmente responsabilizando-o por transgressões passadas, mas cabe aos eleitores responsabilizá-lo em sua atual candidatura à presidência".

Por outro lado, muitos republicanos seguiram o exemplo de Trump, descrevendo a denúncia como parte de um esforço politicamente motivado para prejudicá-lo antes que ele se candidatasse Presidente novamente em 2024. Para Kevin McCarthy, presidente da Câmara, a denúncia contra o ex-presidente "prejudicou irreparavelmente o nosso país".

— O povo americano não vai tolerar essa injustiça, e a Câmara dos Representantes vai responsabilizar Alvin Bragg e seu abuso de poder sem precedentes — acrescentou.

Ron DeSantis, governador da Flórida e principal rival de Trump em 2024, chamou a acusação de "antiamericana" e disse que seu estado, onde Trump reside, não responderia favoravelmente a "um pedido de extradição" do ex-presidente.

O deputado Jim Jordan, que tentou questionar a legitimidade da investigação do promotor distrital de Manhattan, tuitou apenas uma palavra em resposta à notícia: "Ultrajante".

Também houve algumas chamadas para protestar. Na transmissão online de "War Room" de Steve Bannon, um programa influente entre os apoiadores de Trump, o ex-funcionário da Casa Branca Sebastian Gorka pediu aos apoiadores que “protestassem pacificamente” contra a acusação.

— Vamos ver quem são os políticos, quem são os golpistas e quem são os patriotas dos Estados Unidos em primeiro lugar — disse ele. — Este é um momento de separar o joio do trigo.

Chris Kise, um dos advogado de Trump, chamou a acusação de “o ponto mais baixo da História para nosso sistema de Justiça criminal".

— O que antes era o escritório do promotor distrital mais respeitado e reverenciado do país foi totalmente degradado por um político oportunista que busca, como muitos outros, lucrar com a marca Trump. 

A completa falta de base legal, juntamente com a natureza politicamente direcionada da acusação, deve causar medo em todos os cidadãos deste país, independentemente de suas opiniões sobre o presidente Trump — declarou Kise.

Os filhos do ex-presidente também se manifestaram imediatamente após a acusação vir a público. Donald Trump Jr., o mais velho, abriu seu podcast “Triggered” nesta quinta-feira dizendo que ouviu a notícia 15 minutos antes.

— Isso é uma coisa que faria Mao, Stálin, Pol Pot corarem — disse ele, acrescentando um aviso aos republicanos que disseram não apoiar seu pai: — Espere até que eles venham atrás de você, porque eles irão.

Eric Trump, o segundo filho de Trump tuitou: "É uma prática processual ruim de terceiro mundo. É um direcionamento oportunista de um oponente político em um ano de campanha", referindo-se à campanha do pai para concorrer à indicação republicana de 2024.


Fonte: O GLOBO