Professora Ana Célia prestou depoimento nesta quinta-feira. Docente diz que voltará a dar aulas e que sente “dó” do jovem que a atacou: “É só uma criança”

A Polícia Civil de São Paulo ouviu nesta quinta-feira a professora Ana Célia Rosa, de 58 anos, uma das vítimas do ataque a faca praticado por um estudante de 13 anos na Escola Estadual Thomazia Montoro, na Zona Oeste da capital, na segunda-feira. A docente levou diversos golpes na perna esquerda, na mão, no braço e na cabeça. Ficou internada até a tarde de terça-feira no Hospital das Clínicas e levou ao todo 64 pontos.

A professora contou que não dava aulas para o autor do crime e que não o reconheceu de imediato quando foi atacada, momentos após o jovem ter esfaqueado sua colega Elisabeth Tenreiro, de 71 anos, que morreu na ocasião.

— Entrei na sala porque ouvi os alunos gritando que era para ajudar a professora Elisabeth, eu não sabia o que tinha acontecido. Até então, para mim ela tinha passado mal na sala de aula. Quando cheguei, ela estava caída, já tinha uma poça de sangue. Ele (o autor do ataque) veio na minha frente, eu pedi ajuda para ele. Disse: ‘por favor, ajuda, ajuda’. Eu não tinha nem reparado que ele estava com máscara. Foi quando ele me deu a primeira facada. Acho que foi aleatório mesmo. Quem ele pegasse ele machucaria. Infelizmente fui eu — relatou a professora a jornalistas.

Ana Célia, que é professora de História, disse que não deixará de dar aulas por causado ocorrido, classificado por ela como um “pequeno grande acidente”. Perguntada sobre seu sentimento em relação ao jovem que fez o ataque, Ana Célia disse que é “dó”:

— Ele é só uma criança, gente. Ele é uma vítima do sistema… é só uma criança. Eu quero que ele encontre na vida dele um anjo da guarda que nem eu tenho na minha. Eu falei para todo mundo: meu anjo da guarda não dorme. Então eu quero que ele encontre o dele também — disse, emocionada, a professora.

O caso é investigado no 34° Distrito Policial, na Vila Sônia. Além da professora Ana Célia, também estava previsto para esta tarde o depoimento da diretora de outra escola que o autor do ataque frequentou, na região da Rodovia Raposo Tavares.

A polícia se concentra no momento em apurar se o adolescente contou com ajuda de outras pessoas. Dois outros alunos são considerados suspeitos: um colega de classe que teria incentivado o jovem pelas redes sociais e outro estudante que conversou com ele, já dentro da escola, momentos antes do ataque.

Além desses dois alunos, que já foram ouvidos e negaram envolvimento com a ação, outra adolescente também é suspeita de ter apoiado o ataque. A mãe dessa jovem, que mora no interior do estado, registrou boletim de ocorrência relatando que a filha é uma amiga virtual do menor infrator e teria interagido com ele antes da ação.

A Justiça autorizou a quebra de sigilos telefônico e telemático do estudante, segundo o delegado responsável, Marcus Vinicius Reis. Agora a polícia poderá acessar os dados contidos no celular, em um HD externo e no console de videogame Xbox usados pelo estudante.

O autor do ataque está detido provisoriamente em uma unidade da Fundação Casa. Sua situação será reavaliada em audiência por videoconferência marcada para 4 de abril.


Fonte: O GLOBO