Sob pressão financeira, companhia trabalha para fazer a renovação antecipada de seu contrato de concessão que vence em 2026

A Light registrou um prejuízo de R$ 5,67 bilhões em 2022, ante um lucro de R$ 398 milhões um ano antes, informou a companhia na noite desta terça-feira.

Esse tombo vem principalmente, explica a empresa, no segmento de distribuição de energia, em razão do provisionamento no valor de R$ 1,08 bilhão para devolução de créditos de PIS/Cofins aos consumidores, que atualizado passou a R$ 1,58 bilhão, além de . Além de baixa contábil (impairment) relativa despesa tributária de R$ 1,63 bilhão.

Octávio Lopes, CEO da Light, no comando da companhia desde agosto, afirma em mensagem no relatório de resultados que a renovação antecipada do contrato de concessão é fundamental para manter a operação.

"A readequação da nossa estrutura de capital da Light SESA e a renovação do seu contrato da concessão em bases sustentáveis são essenciais para garantir a qualidade, continuidade e expansão do nosso serviço de Distribuição na nossa área de concessão", diz o executivo.

Ele reconhece que a companhia trazia dificuldades "estruturais históricas da área de concessão", por particularidades do Rio de Janeiro, mas que elas foram agravadas pelo cenário econômico atual, que levou a companhia dar início a uma reestruturação de sua estrutura de capital.

Nesse sentido, Lopes cita que o consumo faturado de energia no Rio no ano passado não retomou o patamar pré-pandemia. E, no mercado de baixa tensão, ficou 12,5% abaixo do registrado em 2013.

Desafios para manter a operação

A Light SESA, que é a distribuidora de energia da companhia — o grupo tem ainda a geradora Light Energia e a comercializadora LightCom —, sozinha, registrou prejuízo de R$ 5,81 bilhões. Isso demonstra a situação financeira e operacional complexa.

O endividamento fechou 2022 em R$ 9,03 bilhões, 23% acima do registrado um ano antes e à frente dos R$ 8,7 bilhões registrados até o fim de setembro.

Além do alto endividamento e da geração de caixa operacional insuficiente para que a companhia possa fazer frente a seus compromissos sozinha, pesam na conta níveis elevados de perdas por furto de energia e inadimplência, além da dificuldade de atuar em áreas de alto risco no Rio de Janeiro.

As perdas não técnicas, aquelas que são resultado de furto de energia, ficaram em 50% no mercado de residências e pequeno comércio em 2022. É um dos fatores minando o resultado da companhia segundo o relatório, que destaca ainda a alta da taxa de juros que encareceu a dívida.

Nesta quarta-feira, no dia seguinte à divulgação do resultado, a Light terá uma reunião com um grupo de detentores de títulos da dívida da companhia. Eles poderão decidir pelo vencimento antecipado de algumas obrigações após o rebaixamento da nota de classificação de risco dessas emissões.

Isso provocaria vencimento antecipado de outros contratos de empréstimos, financiamentos e debêntures automaticamente, segundo o relatório de resultados.

Negociação com a Aneel

Com as finanças sob pressão, a Light tem atuado fortemente para renovar antecipadamente seu contrato de concessão, que vence em meados de 2026.

No início do mês passado, a Light informou à Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel) que, por causa dessa perda por furto de energia, não contava com geração de caixa suficiente para garantir a sustentabilidade da operação.

Antes disso, a companhia anunciara a contratação da Laplace Finanças para ajudar a companhia a melhorar sua estrutura de capital. No mercado, chegou-se a aventar que a Light poderia pedir recuperação judicial. Esse recurso, porém, é vedado à concessionárias na área de energia.


Fonte: O GLOBO