Assinatura de acordos comerciais entre os dois governos será adiada, mas novos contratos com empresas chinesas serão anunciados na quarta

Em um ambiente de frustração com o adiamento da visita oficial do presidente Luiz Inácio Lula da Silva à China, empresários que desembarcaram em Pequim com expectativa de ampliar as relações com os chineses, embalados pelo peso político do mandatário brasileiro, ficaram restritos aos eventos do setor privado.

O governo brasileiro adiou a assinatura de 20 acordos comerciais e convênios com o governo chinês, mas os contratos e novas parcerias sino-brasileiras no âmbito privado serão anunciados nesta quarta-feira.

O presidente da BraCham, associação que representa 130 empresas brasileiras na China, Henry Oswald, reconheceu que “a decepção é grande”.

- Não bastasse a ausência do presidente, os ministros também não virão. Poucos empresários cancelaram a vinda, até porque não deu tempo, muitos já estavam aqui, e entre eles, muitos do agronegócio que chegaram antecipadamente, como o ministro da Agricultura, Carlos Fávaro - completou Oswald.

Temor de esvaziamento

Apesar da frustração, eles tentarão manter a agenda. Um problema adicional é que com o adiamento da visita de Lula, a previsão é de que muitos empresários chineses e autoridades do governo chinês também devem desistir de participar dos eventos empresariais.

A expectativa com a terceira visita de Estado de Lula à China era alta não apenas entre os empresários. Dias antes do cancelamento da viagem, o Itamaraty havia divulgado um comunicado oficial sobre a agenda destacando que o presidente levaria para a China uma “delegação recorde” de empresários.

O presidente também seria acompanhado por ministros, pelo menos 30 parlamentares, incluindo o presidente do Senado, Rodrigo Pacheco (PSD-MG), e lideranças do Congresso. Pacheco cancelou a ida à China, assim como o ministro da Fazenda, Fernando Haddad.

Em uma comitiva estimada em 248 empresários e executivos, inclusive de oposição ao governo, o Executivo festejava a conjuntura positiva, especialmente, para o agronegócio, com a retomada das vendas da carne brasileira para a China, e o anúncio da habilitação de novos frigoríficos para a exportação.

A China é o principal parceiro comercial do Brasil. Em 2022, importou mais de US$ 89,7 bilhões, segundo o Itamaraty.

O CEO da Petrobahia, distribuidora de óleo e gás natural, Tiago Andrade, soube do cancelamento da viagem de Lula quando estava desembarcando em Pequim, ainda no aeroporto. Andrade lamentou a ausência do presidente, admitindo que a expectativa com a viagem era “a melhor possível”.

- Estávamos com agenda de reuniões, íamos participar da comitiva presidencial, da qual a Petrobahia já participou em 2004”, relembrou. “íamos reviver esse momento, interagir com investidores e parceiros, agora, esperamos que seja remarcado o mais breve possível- completou.

‘Planos B e C’ para a ausência de Lula

Andrade admitiu que, ao embarcar para a China em Salvador, ciente da pneumonia do presidente, imaginou que a visita presidencial poderia ser adiada. Por isso, reorganizou sua agenda na China. “Já estava com plano B e C, tinha sinais desse adiamento”, afirmou.

Num momento em que os chineses buscam modelos de negócios voltados para a transição para uma economia de baixo carbono, a empresa desenvolve um projeto para transformar a rede de distribuição, baseada em um “gasoduto virtual”, em uma infraestrutura para a cadeia do hidrogênio.

A discussão sobre desenvolvimento sustentável, mudança climática e economia verde é a pauta do Fórum China-Brasil que ocorre nesta segunda-feira em Pequim, promovido pelo Centro Brasileiro de Relações Internacionais (Cebri), em parceria com o Center for China and Globalization (CCG).

O seminário tem o apoio da Suzano, Vale, JBS, Sigma Lithium, BOCOM BBM, Cargill, SPIC Brasil e Syngenta. Lula havia confirmado participação no evento antes de cancelar a viagem.

A mesa de abertura terá palestras de Walter Schalka (Suzano), Gilberto Xandó (JBS), Alexandre D‘Ambrosio (Vale), pelo lado brasileiro. Entre os executivos chineses, estão confirmados Zhang Guofu, presidente da China Forestry Seed Group , e Quan Taiyong, da Cargill.

Na quarta-feira, as novas parcerias entre brasileiros e chineses serão anunciadas em evento realizado pela Comissão Sino-Brasileira de Alto Nível (Cosban), ligada à vice-presidência da República, e pela Agência Brasileira de Promoção de Exportações e Investimentos (Apex).

O presidente da Apex Brasil, ex-senador Jorge Viana, desembarca nesta segunda-feira em Pequim para acompanhar a agenda com empresários. Ele participa da abertura do seminário organizado pela Cebri, e coordenará o evento de quarta-feira.


Fonte: O GLOBO