Projétil supostamente teria sobrevoado sobre a Romênia; Bucareste, no entanto, nega; Moscou impõe limites à sua produção de petróleo, e combustível sobe 3%

A Rússia lançou uma nova série de grandes ataques aéreos contra o sistema elétrico da Ucrânia nesta sexta-feira, o 352º dia da guerra. 

Segundo a Força Aérea ucraniana, 71 mísseis de cruzeiro e mísseis balísticos foram lançados contra o país, além de pelo menos sete drones suicidas, no que constituiu um dos piores ataques desde o início da campanha de bombardeamentos contra a infraestrutura energética do país em outubro passado. 

A Força Aérea ucraniana afirma ter conseguido abater 61 de 71 mísseis, mas alguns deles atingiram o alvo e danificaram a rede elétrica. Houve cortes de energia em várias regiões.

Além dos danos físicos, o governo ucraniano fez uma afirmação que despertou controvérsia: segundo Kiev, dois mísseis russos entraram no espaço aéreo da Romênia, país membro da Otan. Se verdade, esta teria sido a primeira vez desde o início da guerra que armas russas entraram no território da Aliança Atlântica. Bucareste, no entanto, nega.

A informação foi dada pelo comandante-em-chefe do exército ucraniano, general Valeri Zaluzhni. Em uma mensagem no seu canal no Telegram, Zaluzhni disse que nesta sexta-feira “por volta das 10h18, dois mísseis de cruzeiro Kalibr russos cruzaram a fronteira do Estado ucraniano com a República da Moldávia. Aproximadamente às 10h33, esses mísseis cruzaram o espaço aéreo romeno. 

Depois disso, eles entraram novamente no espaço aéreo ucraniano no ponto de passagem das fronteiras dos três Estados."

Tratava-se, disse ele, de projéteis lançados da Frota do Mar Negro, que tinham como alvo as províncias ocidentais da Ucrânia, disse Kiev. A Moldávia, que não faz parte da Otan, confirmou e condenou a violação de seu espaço aéreo. 

No entanto, o Ministério da Defesa romeno negou. “O ponto mais próximo da trajetória do alvo [o míssil] do espaço aéreo romeno foi gravado a aproximadamente 35 km da Fronteira Nordeste”, disse em comunicado.

Apesar do desmentido, o presidente da Ucrânia, Volodymyr Zelensky — que na quinta-feira fez uma viagem pela Europa e foi a Bruxelas para um discurso no Parlamento Europeu em busca de mais ajuda —, reiterou a informação, e disse que a Otan foi ameaçada. 

“Esses mísseis são um desafio para a Otan e para a segurança coletiva”, escreveu o líder ucraniano no Telegram. Em novembro, quando houve a informação de que um “míssil russo” atingiu o território polonês, Zelensky pediu para a Otan entrar na guerra. Posteriormente, o governo polonês disse que o míssil provavelmente viera das defesas ucranianas.

Em relação ao ataque de mísseis, o ministro da Energia ucraniano, Herman Halushchenko, disse que usinas termelétricas e hidrelétricas, bem como outras infraestruturas de alta tensão em seis regiões foram afetadas. Os alarmes soaram cedo em todo o país e logo depois foram relatadas explosões em várias regiões e cidades, incluindo Kiev.

A situação mais difícil foi nas regiões de Zaporíjia, que registrou um dos maiores ataques desde o início da guerra. Explosões foram ouvidas em várias partes da região, onde fica a maior usina nuclear da Europa. A própria cidade de Zaporíjia foi atingida 17 vezes em uma hora, segundo o secretário do Conselho Municipal de Zaporizhia, Anatolii Kurtiev.

Além disso, houve ataques sérios em Kharkiv e Khmelnytskyi. Os relatos de vítimas por enquanto limitam a sete pessoas feridas em Kharkiv, duas em condição grave.

Em outra frente da guerra, a Rússia anunciou nesta sexta-feira um corte de produção de meio milhão de barris de petróleo por dia a partir de março. A medida visa se contrapor às sanções energéticas contra o país. Desde dezembro, países da União Europeia do G7 instituíram um teto de preços para quem quiser importar petróleo russo usando transportadoras sediadas nesses países, que dominam o mercado.

A medida, que foi seguida neste domingo por sanções semelhantes contra os refinados de petróleo russos, visava diminuir as receitas russos, evitando ao mesmo tempo provocar um choque global no mercado de combustíveis. 

A Rússia já tinha anunciado que não iria mais trabalhar com transportadoras que respeitam o teto de preço — elas rapidamente vêm sendo substituídas por outras sem reputação. Ao propositalmente reduzir sua produção, Moscou pode chacoalhar os preços globais.

O anúncio foi feito esta sexta-feira pelo vice-primeiro-ministro russo, Alexander Novak, responsável pela política energética.

“A partir de hoje, estamos vendendo todo o volume de petróleo produzido. No entanto, como já dissemos, não venderemos nosso petróleo para aqueles que direta ou indiretamente aderirem aos princípios do preço máximo", disse Novak em comunicado divulgado nesta sexta-feira. Em reação ao corte na produção, o preço do barril de petróleo Brent, referência na Europa, subiu mais de 3% esta sexta-feira, atingindo valor acima dos US$ 86

Hoje foi anunciado que o presidente da Rússia, Vladimir Putin, fará um discurso no Parlamento russo no dia 21 de fevereiro, três dias antes do aniversário de um ano da invasão da Ucrânia. Putin supostamente falará sobre a invasão, economia e bem-estar social. 

O anúncio ocorreu depois que o ministro da Defesa da Ucrânia, Oleksii Reznikov, expressou preocupação na semana passada de que a Rússia possa renovar sua ofensiva para marcar o aniversário de um ano da guerra total.


Fonte: O GLOBO