Alegação surge em meio à tensão entre Pequim e Washington após a derrubada de um objeto voador chinês pelos americanos no início deste mês; EUA negam

Em meio à tensão entre Pequim e Washington após a derrubada de um balão chinês no início deste mês, a China afirmou nesta segunda-feira que balões dos EUA entraram em seu espaço aéreo sem permissão "mais de 10 vezes" desde janeiro de 2022. Wang Wenbin, porta-voz do Ministério das Relações Exteriores, disse que era uma “ocorrência comum” balões de alta altitude dos EUA cruzarem fronteiras aéreas sem autorização.

— Não é raro que os Estados Unidos entrem ilegalmente no espaço aéreo de outros países — disse a repórteres Wan sem entrar em detalhes. — Somente no ano passado, os balões dos EUA sobrevoaram a China mais de 10 vezes sem qualquer autorização.

Wang pediu aos Estados Unidos para “refletirem sobre si mesmos e corrigirem seus caminhos, em vez de caluniar, difamar ou incitar o confronto”.

Ele também reiterou a posição de Pequim de que o balão chinês que flutuou sobre os Estados Unidos este mês antes de ser abatido era um dirigível civil com propósitos meteorológicos que acidentalmente se desviou do espaço aéreo americano.

A porta-voz de segurança da Casa Branca, Adrienne Watson, reagiu à afirmação chinesa. Sem comentar se objetos voadores americanos adentraram no espaço aéreo chinês, ela negou que os Estados Unidos enviem balões espiões para a China.

"Qualquer alegação de que o governo dos EUA opera balões de vigilância sobre a República Popular da China é falsa. É a China que tem um programa de balão de vigilância de alta altitude para coleta de inteligência, que usou para violar a soberania dos EUA e de mais de 40 países nos cinco continentes", escreveu em nota.

"Esse é o exemplo mais recente da luta da China para minimizar os estragos. Ela alegou repetida e erroneamente que o balão de vigilância que enviou sobre os EUA era um balão meteorológico e não ofereceu nenhuma explicação confiável para sua invasão em nosso espaço aéreo, o espaço aéreo de outros", acrescentou.

O Pentágono descreveu o objeto voador chinês como um dispositivo espião projetado para coletar informações confidenciais. Sua destruição foi denunciada pela China, que desde o início disse se tratar de um simples balão civil que se desviou da sua trajetória.

Desde esse incidente, outros objetos voadores foram avistados sobre o Canadá e os Estados Unidos, posteriormente sendo abatidos.

No momento, a natureza desses objetos e de onde eles vêm é desconhecida. O governo da China admitiu apenas que o primeiro objeto era procedente do país. Pequim se negou a comentar os novos abates e limitou a pedir que os jornalistas procurassem o Ministério da Defesa, que não respondeu aos pedidos de comentários da AFP.

Questionado sobre como a China respondeu às supostas incursões, Wang respondeu que a "gestão (dos incidentes) por parte de Pequim foi responsável e profissional".

— Se querem saber mais sobre balões de grande altitude americanos que entram ilegalmente no espaço aéreo da China, sugiro que procurem a parte americana — acrescentou.

A AFP entrou em contato com o Departamento de Estado e o Pentágono para pedir comentários sobre as acusações de Pequim, mas não recebeu respostas até o momento.

Na China, as autoridades locais perto de uma cidade portuária da região norte disseram no domingo que haviam avistado seu próprio objeto voador não identificado e estavam preparadas para derrubá-lo, segundo a mídia estatal chinesa.

Uma agência marítima do governo local alertou os barcos de pesca próximos para terem cuidado com possíveis destroços, disse o relatório. Mas até a tarde de segunda-feira em Pequim, não havia nenhum anúncio oficial sobre o objeto ou se as autoridades haviam disparado contra ele.

'Precaução'

O governo dos Estados Unidos reforçou a vigilância do espaço aéreo, ao mesmo tempo que aumenta o número de incursões aéreas, das quais a China nega ter conhecimento.

O Pentágono afirmou no domingo que ainda não tem detalhes sobre os outros três objetos que foram derrubados: um na sexta-feira sobre o Alasca, outro no sábado sobre o território canadense de Yukon e o mais recente no domingo sobre o lago Huron.

As autoridades informaram que o objeto abatido no domingo havia sido rastreado durante quase um dia e não se parecia com o suposto balão de vigilância chinês que foi destruído na costa do Atlântico em 4 de fevereiro, depois de atravessar o país.

O presidente Joe Biden ordenou que um caça F-16 derrubasse o dispositivo por "precaução", informou uma fonte do governo.

O objeto foi descrito como uma estrutura octogonal com cordas penduradas. O dispositivo permaneceu à deriva quase 6 mil metros sobre Michigan e poderia representar um perigo para a aviação civil, segundo a fonte.

O general Glen VanHerck, chefe do Comando Norte dos Estados Unidos, disse que, depois de enviar aviões para inspecionar o objeto mais recente, as Forças Armadas concluíram que não havia indícios de qualquer ameaça, assim como nos objetos anteriores.

— O que estamos vendo são objetos muito, muito pequenos que produzem uma seção transversal de radar muito, muito baixa — afirmou.

Sem descrever a forma ou o tamanho dos objetos, ele disse que eles se deslocavam muito lentamente, na velocidade do vento.

As especulações sobre sua natureza dos objetos dispararam nos últimos dias.

— Vou deixar que a comunidade de inteligência e a comunidade de contrainteligência averiguem — disse VanHerck.


Fonte: O GLOBO