Descontentamento com ex-presidente do Senado e aliado número 1 do atual abre dissidências pró-Marinho

Davi Alcolumbre é, hoje, um cabo eleitoral quase tão eficiente para Rogério Marinho quanto Jair Bolsonaro. 

A onipresença do ex-presidente do Senado ao lado de Rodrigo Pacheco e os privilégios com que o atual presidente até hoje trata o antecessor são apontados como a razão de dissidências pró-Marinho nas bancadas de União Brasil, PSD, PSDB e Podemos.

Alcolumbre foi o responsável por construir a candidatura de Pacheco quando foi impedido pelo Supremo Tribunal Federal de disputar mais um mandato à frente do Senado, em 2021. Em retribuição, Pacheco deu ao senador do Amapá a presidência da Comissão de Constituição e Justiça, relatorias importantes e o deixou no comando do orçamento secreto.

Finda essa modalidade de exercício de poder, ainda assim Alcolumbre continua gozando de status vip. Existe uma verdadeira comoção com o fato de ele ter pleiteado e levado o gabinete da ex-senadora e hoje ministra Simone Tebet, um dos mais concorridos do Senado, e, não satisfeito, ter derrubado a parede que separava sua própria sala da nova e construído um latifúndio maior que a própria presidência.

Outra demonstração de poder que foi mal digerida na Casa foi o fato de ele ter indicado o conterrâneo Waldez Góes para o ministério de Lula antes mesmo de ele se filiar ao União Brasil, sem consultar a bancada. O resultado prático disso: dos 8 votos do União Brasil, Marinho deve contar com entre 3 e 4.

No PSD, partido do próprio Pacheco, Marinho pode conseguir de 2 a 3 apoios. Nelsinho Trad e Lucas Barreto são computados como dissidências certas, e Daniela Ribeiro está na coluna da dúvida. Oposição a Pacheco? Não, a Alcolumbre.

Mesma origem teria a debandada do já minúsculo PSDB em direção ao candidato bolsonarista, um movimento que acaba por reforçar o vexame desse partido que já abrigou nomes como Fernando Henrique Cardoso e Mário Covas e hoje bate palma para o grupo político que promoveu o 8 de Janeiro.

Quais são os riscos? Os cálculos da vantagem de Pacheco deixaram de ser tão elásticos e estão mais na base do "com emoção". Governistas trabalham para conter os incêndios prometendo que Alcolumbre não será o sucessor de Pacheco nem terá mais o poder enorme que tem hoje.

A eleição do próprio Alcolumbre, que venceu o veterano Renan Calheiros em 2019, é prova de que zebras são, sim, possíveis no Senado, e não só na Câmara. O problema é que, nesse caso, uma zebra pode colocar em risco a democracia.


Fonte: O GLOBO