Cantor e compositor mineiro estava internado desde 17 de outubro; artista marcou gerações com clássicos como "O Trem Azul" e "Paisagem da Janela" — Foto: Flávio Charchar 

Porto Velho, RO - Morreu nesta segunda-feira (3), em Belo Horizonte (MG), o cantor e compositor Lô Borges, aos 73 anos. Um dos fundadores do lendário Clube da Esquina, movimento que revolucionou a música brasileira nos anos 1970, Lô esteve internado desde 17 de outubro, após sofrer uma intoxicação por medicamentos. A família confirmou a morte na manhã de hoje.

O artista estava na UTI e precisava de ventilação mecânica. No dia 25 de outubro, passou por uma traqueostomia. A notícia abalou fãs e músicos de todo o país, que confirmaram em Lô um dos grandes nomes da música popular brasileira (MPB).

Da infância em Santa Tereza ao nascimento do Clube da Esquina

Nascido em Belo Horizonte, no bairro Santa Tereza, Salomão Borges Filho, nome de batismo de Lô, cresceu em uma família com 11 irmãos e desde cedo declarou talento para a música. Aos 10 anos, conheceu Milton Nascimento nas escadas do Edifício Levy, na Avenida Amazonas — uma amizade que marcou para sempre a história da música brasileira.

Foi dessa convivência que nasceu o Clube da Esquina, movimento formado por jovens músicos mineiros que uniam rock, jazz, bossa nova e música regional. Ao lado de Milton Nascimento, Beto Guedes, Toninho Horta e outros, Lô assinou composições que atravessaram gerações.

“Comecei a mostrar a harmonia que eu estava fazendo, era uma harmonia do Clube da Esquina, ele começou a fazer a melodia. E aí a gente fez a parceria Clube da Esquina”, contornou Lô em entrevista ao Conversa com Bial, em 2023.

Clássicos e reconhecimento mundial

Em 1972, Lô Borges lançou, junto de Milton, o disco "Clube da Esquina", considerado o maior álbum brasileiro de os tempos pela crítica especializada e o nono melhor disco da história mundial, segundo a norte-americana Revista Paste.

No mesmo ano, o cantor gravou seu primeiro álbum solo, conhecido como o “Disco do Tênis”, um marco do pop mineiro. Entre seus maiores sucessos estão “Um Girassol da Cor do Seu Cabelo”, “O Trem Azul” e “Paisagem da Janela”, músicas que se tornaram eternas no repertório da MPB.

Pausa, maturidade e novas parcerias

Após o sucesso arrependido, Lô se levou dos palcos e viveu um período em Arembepe (BA). Em 1978, retornou à música com o álbum “Via Láctea”, seguido de “Sonho Real” (1984), com o que percorreu o Brasil em turnê.

Na década de 1990, retomou o sucesso nacional com “Dois Rios”, parceria com Samuel Rosa (Skank). Mais recentemente, manteve uma rotina criativa intensa, lançando álbuns anuais com músicas inéditas. O último, “Céu de Giz”, saiu em agosto de 2025, em parceria com Zeca Baleiro.

Legado de um poeta musical

Com uma carreira marcada pela sensibilidade e pela harmonia única, Lô Borges deixa um legado inestimável para a cultura brasileira. Sua obra segue viva nas vozes de novas gerações de artistas e no coração dos fãs que cresceram ouvindo suas melodias.

Lô Borges foi mais do que um músico — foi um símbolo de liberdade criativa e de união entre filhos, amigos e sonhos. O Clube da Esquina, nascido nas ruas de Belo Horizonte, segue sendo um farol da música mundial.