Grupo francês enviou um pedido de desculpas ao governo brasileiro depois de episódio em que cedeu à pressão de agricultores e ameaçou deixar de comprar produtos do Mercosul


Foto: Sir Velpertex di Crantx/Wikimedia Commons

Porto Velho, RO - O Grupo Carrefour ameaçou barrar a compra de carnes brasileiras para as suas unidades na França, mas, depois de ser criticado pelo Ministério da Agricultura e por entidades do País, deverá voltar atrás da decisão.

Inicialmente, o grupo avisou ao mercado que iria ceder à pressão de agricultores franceses, que rechaçam um eventual acordo entre a União Europeia e o Mercosul, sob a alegação de que os produtores sul-americanos não são submetidos às rígidas regras europeias. O cenário, segundo eles, criaria uma concorrência desleal.

Nesta terça-feira 26, porém, o Carrefour divulgou uma nota em que destacou a “grande qualidade” das carnes de frigoríficos brasileiros.

O comunicado diz que o grupo tem “orgulho de ser o primeiro parceiro e promotor histórico da agricultura brasileira”, a rede francesa disse lamentar que a informação da semana passada “tenha sido entendida como um questionamento” da sua “parceria com a agricultura brasileira e uma crítica a ela”.

“Compramos dos produtores brasileiros quase toda a carne que necessitamos para as nossas atividades, e seguiremos fazendo assim”, afirmou o grupo.

“Sabemos que a agropecuária brasileira fornece carne de alta qualidade e sabor. Continuaremos a valorizar os setores agrícolas brasileiros, como fazemos há 50 anos. Por meio do nosso crescimento, contribuímos também para o desenvolvimento dos produtores agrícolas brasileiros, em uma lógica que sempre foi de parceria construtiva. Assim seguiremos prestigiando a produção e os atores locais e fomentando a economia do Brasil”, insiste o Carrefour no comunicado.

O ministro da Agricultura, Carlos Fávaro, confirmou ter recebido a carta com pedidos de desculpas do presidente global do Carrefour, Alexandre Bompard. Segundo ele, a retratação representa uma “vitória” do Brasil, colocando o País em uma posição mais favorável na intrincada negociação pelo acordo Mercosul-UE.

“O Mapa [Ministério da Agricultura e Pecuária] afirma que trabalha sempre no intuito de esclarecer os fatos para não permitir que declarações equivocadas coloquem em dúvida um trabalho de defesa agropecuária de alto nível e de uma produção de alta qualidade e comprometida com uma das legislações ambientais mais rigorosas do planeta”, diz ainda a pasta em nota sobre a carta do mercado da França.

O comunicado inicial de que o Carrefour não compraria mais carnes brasileiras foi seguido de uma série de retaliações. Frigoríficos brasileiros ameaçaram um boicote generalizado à rede, incluindo as suas unidades no Brasil. O caso também levou o presidente da Câmara, Arthur Lira (PP-AL), a cobrar uma retratação de Bompard e iniciar a tramitação de projetos de lei que visam responder ao boicote francês.

O impasse acontece em um momento importante das negociações entre os dois blocos, já que, nesta terça, em Brasília (DF), negociadores dos dois lados vão dar início a uma rodada de conversas sobre o acordo.


Fonte: Carta Capital