Neo Química Arena, estádio do Corinthians — Foto: Fernando Bueno e Vinícius Alves/ Agência Corinthians
Porto Velho, Rondônia - Dois assuntos avançam em paralelo no futebol e frequentemente estão correlacionados, mas a turma só dá bola para um deles. Basta notar que todo mundo tem opinião sobre a SAF, seus prós e contras, quem deu “certo” ou “errado”, mas quase ninguém sabe o que é uma recuperação judicial. Tanto faz. Falem ou não desses processos em público, eles continuam a acontecer, com alto grau de controvérsia. E está chegando a vez de Corinthians e Vasco.
A recuperação judicial é uma renegociação coletiva entre devedor e credores. O clube, quebrado, inscreve suas dívidas e ganha tempo para formular uma proposta de pagamento. A oferta geralmente contém desconto considerável, para lá dos 80%, e novo prazo, para lá dos dez anos. Se os credores aceitarem as condições, segue o jogo. Se eles recusarem, falência.
Teoricamente, o dirigente pode fazer a recuperação judicial e não converter o clube em SAF, e vice-versa, mas hoje há correlação nos movimentos porque existe lógica financeira. Não faz sentido para o investidor recém-chegado assumir um monte de dívidas. O dinheiro que ele aporta seria carcomido por juros e dívidas em si. Então, primeiro se joga o credor contra a parede para ele dar o tal desconto, depois se vende a SAF ao novo dono com passivo baixo.
Esse foi o procedimento adotado pelo Coritiba, guiado pela consultoria Alvarez & Marsal. A associação fez sua recuperação judicial, baixou seu endividamento, montou a empresa e vendeu participação majoritária para a Treecorp. A mesma consultoria acudiu Ronaldo, quando o Cruzeiro viu que precisava dessa renegociação “bruta” para a SAF não sucumbir. E hoje a Alvarez & Marsal está no Corinthians, formulando soluções para a dívida de R$ 2,3 bilhões.
O Corinthians está à venda? O presidente Augusto Melo jura que não, que não haverá SAF, termo proibido para o time que se entende como o mais popular e democrático do país. Depõe contra o cartola o primeiro semestre devastador para a credibilidade de sua administração, e o fato de que a sua nova diretoria é formada por especialistas em reestruturar para vender.
Aliás, diferente de empresas que estão em estado falimentar, o Corinthians faturou quase R$ 900 milhões em 2023 e teve EBITDA positivo em R$ 270 milhões — a diferença entre receitas e custos. Óbvio que há problemas financeiros, sobretudo no tamanho do endividamento e nos juros que ele acarreta, mas há que se discutir, caso o plano da recuperação vá adiante, se estamos diante do clube que não consegue pagar suas contas ou não quer pagar suas contas.
As circunstâncias do Vasco são diferentes. A sua diretoria assumidamente está à procura de novo comprador para a SAF, e o clube sofre mais para lidar com as dívidas, por arrecadar menos e ter menos sobra de caixa. Não quer dizer que o processo seja simples ou livre de polêmicas, por causa da natureza agressiva da renegociação, mas, por comparação ao Parque São Jorge, o caso em São Januário hoje é muito menos complicado de entender e de explicar.
Fonte: O GLOBO
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