Conflito com Hamas logo completará um ano, e dinâmica continua a mesma, com combates e crise humanitária; mas, para alguns, não faz diferença: 'Mundo fez nada'
Menino caminha em campo de refugiados palestinos no norte de Gaza — Foto: Omar Al-Qattaa/AFP
E agora, há um medo crescente de ser esquecido.
A atenção internacional foi desviada, primeiro por ataques militares israelenses mortais em cidades palestinas na Cisjordânia ocupada neste mês e, nesta semana, por ataques coordenados contra o grupo militante Hezbollah no Líbano. Os líderes israelenses têm sinalizado cada vez mais que pretendem mudar seu foco da Faixa de Gaza para a fronteira norte com o Líbano, no que o ministro da defesa do país, Yoav Gallant, descreveu esta semana como uma "nova fase da guerra".
Mas a guerra que já está sendo travada em Gaza não desapareceu. Israel, que diz querer erradicar o grupo armado Hamas, que liderou o ataque de 7 de outubro, não interrompeu seus ataques aéreos ou terrestres. E alguns habitantes de Gaza se preocupam com o fato de que os esforços, que já estão se esgotando, para chegar a um cessar-fogo entre Israel e o Hamas serão deixados de lado à medida que as tensões aumentam em outras áreas do Oriente Médio.
— Infelizmente, as pessoas veem a atenção voltada para a Cisjordânia ou para o Líbano — disse Muhammad al-Masri, um contador de 31 anos que foi forçado a se deslocar várias vezes. — Não sabemos o que vai acontecer aqui. Não se trata apenas de depressão ou miséria. É uma catástrofe de uma forma assustadora, e a situação está piorando o tempo todo.
Ele exibiu um breve vídeo que mostrava ele e sua família fugindo recentemente na traseira de um caminhão, com o rosto queimado de sol e coberto de suor. "O deslocamento", disse ele, deixando a câmera captar uma estrada repleta de pessoas fugindo em veículos e carroças de burro, é "a pior coisa que as pessoas podem viver".
Com o acesso humanitário restrito, cerca de 96% da população de Gaza ainda enfrenta altos níveis de insegurança alimentar aguda, informou este mês a Classificação Integrada das Fases de Segurança Alimentar (IPC), uma parceria de agências da ONU e grupos humanitários internacionais. Cerca de meio milhão de pessoas estão enfrentando níveis catastróficos de insegurança alimentar aguda, o que significa que as famílias estão sofrendo com a falta extrema de alimentos e enfrentam a fome, informou o grupo.
Uma coalizão separada de grupos de ajuda que trabalham em Gaza analisou dados recentes sobre a entrada de ajuda no território e disse que Israel tem "sistematicamente bloqueado" a entrada de alimentos, medicamentos, suprimentos médicos, combustível e barracas desde o início da guerra.
A análise das organizações constatou que, como resultado das restrições do governo israelense à ajuda, 83% dos alimentos de que os habitantes de Gaza precisam não estão entrando. Os habitantes de Gaza passaram de uma média de duas refeições por dia no início da guerra para apenas uma a cada dois dias, informou o grupo.
O COGAT, órgão do Ministério da Defesa israelense que implementa a política do governo na Cisjordânia ocupada e em Gaza, não respondeu a um pedido de comentário sobre o relatório dos grupos de ajuda.
Em agosto, uma média de apenas 69 caminhões humanitários entraram em Gaza por dia, bem abaixo da média de 500 caminhões, incluindo os que transportavam mercadorias comerciais, antes da guerra, de acordo com as Nações Unidas. Informaram ainda que cerca de 1,87 milhão de pessoas estão precisando de abrigo, com pelo menos 60% das casas danificadas ou destruídas.
— Com o início da temporada de inverno, qualquer rajada de vento faz com que todas as tendas voem, pois são apenas cobertores — disse Al-Masri. — Se nós, seres humanos, entramos em colapso, estamos cansados, estamos caindo aos pedaços, como uma barraca vai se manter unida por um ano inteiro?
Há apenas alguns meses, os habitantes de Gaza acompanhavam cada novo desenvolvimento nas negociações de cessar-fogo. Mas agora, as pessoas perderam a esperança.
— Acordamos e vamos dormir, e os ataques aéreos não param — disse Rawoand Altatar, que mora com seus pais na Cidade de Gaza. — Além disso, há pouca comida e pouca água e a disseminação de doenças. As pessoas andam pelas ruas falando sozinhas.
Mas Ahmed Saleh, um funcionário público de 44 anos da Cidade de Gaza, disse que não importava se a comunidade internacional desviasse sua atenção para outro lugar, porque por quase um ano "o mundo não fez nada por Gaza".
Fonte: O GLOBO
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