Secretário-geral da Otan, Jens Stoltenberg, disse que apoio contínuo a Kiev permanecerá, mas que não há intenção de entrar diretamente no conflito

Porto Velho, Rondônia - Enquanto líderes ocidentais tentavam demonstrar apoio ao presidente da Ucrânia, Volodymyr Zelensky, convidado de honra da cerimônia de 80 anos do Dia D, nesta quinta-feira, na Normandia, o secretário-geral da Otan, Jens Stoltenberg, afirmou que a aliança militar não tem planos de enviar tropas ao país do Leste Europeu, em guerra com a Rússia. A fala de Stoltenberg ocorre em um momento de escalada de tensões entre Moscou e o Ocidente, que trocaram ameaças sobre um possível acirramento direto entre as potências em lados opostos na Ucrânia.

— A Otan não tem planos de enviar forças à Ucrânia — disse Stoltenberg durante uma visita à Finlândia. — [A Otan busca] um compromisso financeiro de longo prazo para garantir o apoio à Ucrânia durante o tempo necessário.

Embora reforce o apoio contínuo que os aliados ocidentais pretendem manter a Kiev, a declaração de Stoltenberg parece frear algumas linhas narrativas mais exaltadas, que sugeriam uma ampliação da participação do bloco, incluindo com envio de militares ao terreno. A possibilidade ganhou força no mês passado, quando o presidente da França, Emmanuel Macron, surpreendeu ao mencionar a chance de enviar instrutores militares ao território ucraniano.

Em uma declaração anterior, em janeiro, Macron já havia dito que os aliados não podiam descartar o envio de soldados ao aliado do Leste Europeu, e já classificou a guerra como uma possível ameaça existencial à Europa livre.

Os comentários de Macron ganharam repercussão ainda maior dentro de um contexto em que os aliados aprovaram outras medidas que afetam diretamente Moscou. EUA e Alemanha autorizaram expressamente que a Ucrânia utilize os armamentos cedidos pelos países contra o território russo — algo que os aliados haviam evitado até o momento, dizendo ser uma responsabilidade exclusiva da liderança ucraniana escolher o que fazer com a ajuda enviada.

Os assuntos foram tratados pelo presidente da Rússia, Vladimir Putin, durante uma coletiva de imprensa em São Petersburgo, na quarta-feira. Em uma postura de confronto, Putin afirmou que instrutores militares franceses já estavam em solo ucraniano e ameaçou entregar armas de longo alcance em áreas onde as potências ocidentais poderiam ser alvo de ataques, caso fornecessem esse tipo de armamento à Ucrânia.

Presidente da Rússia, Vladimir Putin fala com chefes de agências de notícias internacionais em São Petersburgo — Foto: Valentina PEVTCOVA / POOL / AFP

— Se alguém pensa que é possível fornecer essas armas a uma zona de guerra para atacar nosso território [...] por que não temos o direito de enviar armas do mesmo tipo para regiões do mundo onde serão atingidas instalações sensíveis de países que agem contra a Rússia? — questionou Putin. — Ou seja, a resposta pode ser assimétrica. Vamos pensar sobre isso.

Anteriormente, o ministro das Relações Exteriores da Rússia, Serguei Lavrov, já havia dito que qualquer militar francês na Ucrânia seria visto como um alvo legítimo por Moscou. Na coletiva de quarta, Putin não descartou agir contra qualquer ativo estrangeiro na Ucrânia, mas classificou como "bobagens" as alegações de que a Rússia planeja atacar os membros da Otan.

— Não procurem nossas ambições imperiais. Elas não existem — disse.


Fonte: O GLOBO