Em Ata do Copom, instituição não descarta 'ajustes futuros' para que meta seja cumprida, diante de um 'cenário externo adverso' e surpresa com a atividade econômica. Comitê também reforça a necessidade de uma 'política fiscal crível'

Porto Velho, Rondônia - O Banco Central (BC) indicou na Ata do Comitê de Política Monetária (Copom), publicada nesta terça-feira, que a taxa básica de juros não deve cair tão cedo e reforçou que, diante de um "cenário externo adverso", há necessidade de se manter uma "política fiscal crível".

No documento, o BC diz que "a política monetária deve se manter contracionista por tempo suficiente em patamar que consolide não apenas o processo de desinflação, como também a ancoragem das expectativas em torno de suas metas".

"O Comitê se manterá vigilante e relembra, como usual, que eventuais ajustes futuros na taxa de juros serão ditados pelo firme compromisso de convergência da inflação à meta", continua o comunicado.

A meta de inflação para este ano é de 3%, com intervalo de tolerância de 1,5 ponto percentual para cima ou para baixo. Ou seja, o limite inferior é 1,5% e o superior 4,5%.

Decisão unânime

Na semana passada, o Copom manteve a Taxa Selic em 10,5% ao ano, interrompendo o ciclo de corte dos juros, após sete quedas consecutivas. A decisão foi unânime, colocando lado a lado o presidente do BC, Roberto Campos Neto, considerado um “adversário” pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva, e Gabriel Galípolo, visto como favorito do petista para o cargo em 2025.

Na reunião anterior, em maio, o racha entre os quatro diretores indicados por Lula e os cinco que já estavam no comitê na gestão Jair Bolsonaro teve impacto negativo nos ativos brasileiros, como o dólar.

A decisão de interromper o ciclo foi justificada pelo Copom pela incerteza em relação ao cenário global, principalmente sobre os juros dos Estados Unidos, e doméstico, em que a atividade econômica se mostra mais forte do que o esperado e as expectativas de inflação estão acima da meta de 3%, centro da meta do indicador.

O cenário internacional e a surpresa com o aquecimento da economia brasileira voltaram a ser citados na ata divulgada hoje.

"O ambiente externo mostra-se mais adverso, em função da incerteza elevada e persistente sobre a flexibilização da política monetária nos Estados Unidos e quanto à velocidade com que se observará a queda da inflação de forma sustentada em diversos países", diz o comunicado. Por isso, diz o BC, "a incerteza global sugere maior cautela na condução da política monetária doméstica."

Sustentabilidade da dívida

A autoridade monetária diz ainda que "os dados de atividade econômica surpreenderam" e chama a atenção para a alta do consumo das famílias, "sustentado primordialmente pelo mercado de trabalho, benefícios sociais e pagamentos de precatórios", e dos investimentos. Isso contrasta com o cenário de desaceleração da demanda que havia sido previsto pelo Comitê.

O Copom cita ainda a incerteza sobre os efeitos econômicos da tragédia no Rio Grande do Sul sobre a economia e enfatiza a necessidade de se ter uma política fiscal "crível" para manter a inflação sob controle.

"O Comitê monitora com atenção como os desenvolvimentos recentes da política fiscal impactam a política monetária e os ativos financeiros" e "reafirma que uma política fiscal crível e comprometida com a sustentabilidade da dívida contribui para a ancoragem das expectativas de inflação e para a redução dos prêmios de risco dos ativos financeiros, consequentemente impactando a política monetária".

Após a divulgação da ata do Copom, o ministro da Fazenda, Fernando Haddad, disse que “não faz sentido” que o BC leve em conta os efeitos econômicos da tragédia no Rio Grande do Sul para formular política monetária.

Segundo o ministro, os impactos gerados pela tragédia no estado geram uma “pequena pressão” na inflação, e que é de curto prazo.


Fonte: O GLOBO