Volante de 28 anos se abre em depoimento exclusivo ao GLOBO, contando sobre trajetória entre perda da filha durante a gestação e o sonho de conquistar a Libertadores de novo
Tinha dias em que eu chegava em casa e encontrava a Erika chorando. Eu tinha que engolir o meu choro, para que ela não entendesse que eu estava debilitado também. Passar uma força para ela e, ao mesmo tempo, encontrar força emocional para ir ao treino. Atleta tem dificuldade como qualquer outra pessoa, mas temos que dar resultado, independente de qualquer coisa. Em campo, tem que vencer, até pela competitividade que existe.
Eu estava totalmente destruído, fisicamente, emocionalmente. E aí tive uma lesão e a temporada praticamente acabou para mim. Eu já sabia que o plano seguinte era me reinventar, fortalecer o meu emocional. Naquela altura, isso era fortalecer a minha família. Nunca foi fácil.
Danilo Barbosa abre jogo sobre perda da filha e os quase dois anos de Botafogo — Foto: Beatriz Orle / Agência O Globo
Nesse contexto, voltar para o Brasil, sair do Nice e vir para o Botafogo, foi muito bom. Eu tive proposta para permanecer na Europa, em outros clubes, mas escolhi, em conjunto com ela, não permanecer. Se fosse para outro país, eu iria ter a minha rotina de atleta, e talvez não fosse sofrer tanto quanto ela. Ia ter minha mente ocupada. Mas não poderia esquecer a Erika.
Ela é uma pessoa fantástica, ativa, muito produtiva. Ir para um novo país implicaria muito no dia a dia dela. Estar em um lugar onde você não fala o idioma, depende de pessoas. Ela, naquele momento, precisava muito mais de alguém próximo, com quem pudesse se expressar, colocar para fora o que estava sentindo.
Maturidade emocional
Escolhemos juntos voltar ao Brasil, para que ela pudesse se cuidar. Hoje, se mantém ativa, pratica esportes, tem acompanhamento com psicólogo. Eu não tenho um acompanhamento como ela tem, mas acho que isso é muito válido, tanto para ela quanto para mim. Eu já tenho a minha maturidade emocional, mas sempre que sinto a necessidade de conversar, eu ligo, converso, explico o que estou sentindo. A minha melhor terapia, abaixo de Deus, é ver a minha família bem. Isso se tornou uma troca muito boa de energia e de respeito, e vem dando tudo certo.
Comentei com ela: “Eu me sinto bem em te ver bem”.
Nesse contexto, voltar para o Brasil, sair do Nice e vir para o Botafogo, foi muito bom. Eu tive proposta para permanecer na Europa, em outros clubes, mas escolhi, em conjunto com ela, não permanecer. Se fosse para outro país, eu iria ter a minha rotina de atleta, e talvez não fosse sofrer tanto quanto ela. Ia ter minha mente ocupada. Mas não poderia esquecer a Erika.
Ela é uma pessoa fantástica, ativa, muito produtiva. Ir para um novo país implicaria muito no dia a dia dela. Estar em um lugar onde você não fala o idioma, depende de pessoas. Ela, naquele momento, precisava muito mais de alguém próximo, com quem pudesse se expressar, colocar para fora o que estava sentindo.
Maturidade emocional
Escolhemos juntos voltar ao Brasil, para que ela pudesse se cuidar. Hoje, se mantém ativa, pratica esportes, tem acompanhamento com psicólogo. Eu não tenho um acompanhamento como ela tem, mas acho que isso é muito válido, tanto para ela quanto para mim. Eu já tenho a minha maturidade emocional, mas sempre que sinto a necessidade de conversar, eu ligo, converso, explico o que estou sentindo. A minha melhor terapia, abaixo de Deus, é ver a minha família bem. Isso se tornou uma troca muito boa de energia e de respeito, e vem dando tudo certo.
Comentei com ela: “Eu me sinto bem em te ver bem”.
E, nesse caminho, fico feliz e orgulhoso de poder somar e dar minha parcela de contribuição para que o Botafogo cresça ainda mais. Sei que é uma mudança pela qual o clube passa, desde a chegada da SAF. Cheguei no período em que não tinha nem um campo para treinar. Não tinha vestiário. O clube também se mobiliza, começa a trabalhar em função disso, entendendo que é um processo. O elenco foi formado de última hora (em 2022) e a gente conseguiu dar uma resposta, brigar até por uma vaga na Libertadores. Acabou que fomos para a Sul-Americana.
No ano seguinte, pusemos o Botafogo onde ele merece estar, brigando lá em cima. No resumo, a gente fica muito feliz. Claro que tinha o “ganhar” (Brasileirão de 2023). A grande maioria das pessoas vai focar só nisso, mas entendemos que é o processo. Vamos trabalhar sempre, buscando nossos objetivos, e uma hora as coisas vão acontecer.
São vários fatores quando paramos para analisar 2023 (após abrir até 14 pontos de vantagem, o Botafogo perdeu o título e ficou em 5°). É uma série de acontecimentos, acredito que ninguém seja capaz de explicar de forma clara. Muitas coisas aconteceram e as pessoas perguntaram por quê. E, até hoje, não tem uma explicação. Quando pegamos como um todo, sobre o caminhar desse clube, claro que fica um pouco a frustração de você não ter conseguido ter a cereja do bolo, que era o título.
Danilo Barbosa abre jogo sobre perda da filha e os quase dois anos de Botafogo — Foto: Beatriz Orle/Agência O Globo
E a gente tinha começado a sonhar já no fim do Carioca do ano passado. Não foi um sonho que começou na reta final, quando estávamos bem. Foi um Carioca muito difícil, semelhante com o de 2024 (o time ficou de fora das semifinais).
Mas nunca deixamos de acreditar que seria possível fazer boas performances, competir de igual para igual com os favoritos. E isso acarretou grande esperança por parte da torcida. Temos essa consciência.
O Botafogo, hoje, está de volta ao cenário nacional e internacional, competindo de igual para igual com os grandes clubes, obtendo bons resultados dentro e fora de casa. E isso é o que fica. Essa chama acesa. Temos um grupo muito forte. A gente não pode querer ultrapassar as coisas, mas sabemos da nossa qualidade. Vamos sempre buscar o nosso melhor, jogo após jogo. Se Deus quiser, se a gente for coroado com um título, esse clube e essa torcida merecem.
Um novo líder
Está sendo muito bom nosso período com o Artur (Jorge, novo treinador). Mesmo que em pouco tempo. E eu aí falo com a particularidade de conhecer muito bem a escola portuguesa. Se eu não me engano, é o oitavo treinador português com quem eu trabalho. Tem um método muito rígido, no sentido de cobrança. Na hora de trabalho, é trabalho. Na hora de brincar, é hora de brincar. Mas o Artur chegou no momento que a gente realmente estava precisando desse líder. Tanto na parte específica do campo, quanto fora.
Danilo Barbosa abre jogo sobre perda da filha e os quase dois anos de Botafogo — Foto: Beatriz Orle / Agência O Globo
Quem teve a felicidade de ser campeão da Libertadores (ele venceu em 2021, pelo Palmeiras), sabe que é uma sensação única. Você ganhar a competição mais difícil aqui da América do Sul. Eu sigo esperançoso, trabalhando com os meus companheiros, para que, se tudo der certo, quem sabe, conquistar esse ano de novo. Sabemos da dificuldade, longe de sermos favoritos, mas também sabemos que é possível. Tem que manter esse espírito do “acreditar” e de trabalhar no limite até o final. Se as contas forem positivas, vamos sair felizes.
A pequena Ester
Eu tive um período muito duro quando eu vim para cá. Tinha o sonho de ser pai de uma menina e a minha volta foi em função da nossa perda, da frustração desse desejo. Depois do luto, isso se torna um pouco distante. A gente cria dúvida, medo, ansiedade por tudo que passou. Mas, no meio do ano passado, nasceu a Ester (hoje com 10 meses, a caçula do casal). Foi especial.
Nos completamos, procuro desfrutar dela, desfrutar do nosso pequeno Elias (seis anos), o primogênito. Eu só tenho o sentimento de gratidão. Não só com o futebol, que é um esporte que eu amo, e, muitas e muitas vezes, é uma terapia única para mim. Mas não basta você estar só bem no campo. Hoje, me sinto um cara realizado, feliz, uma pessoa melhor, um pai e um esposo melhor.
* Em depoimento ao repórter Davi Ferreira
Danilo Barbosa, 28 anos, é volante do Botafogo e um dos destaques da temporada, com três gols. Revelado pelo Vasco, tem passagens por Nice, Palmeiras, Braga, Benfica e Valencia.
Fonte: O GLOBO
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