Porto Velho, RO. Na segunda-feira (20), o presidente dos Estados Unidos, Joe Biden, afirmou que não reconhece as ações do Exército israelense na Faixa de Gaza como genocídio.
Para compreender como a posição do presidente norte-americano afeta as relações internacionais e a vida dos palestinos em Gaza, a Sputnik Brasil conversou com especialistas.
O presidente dos Estados Unidos, Joe Biden, disse na segunda-feira (20) que os mandados de prisão solicitados pelo Tribunal Penal Internacional (TPI) contra líderes de Israel são "escandalosos" e reiterou o apoio de Washington ao país judeu.
"O pedido do promotor do TPI de mandados de prisão contra líderes israelenses é ultrajante. E deixe-me ser claro: independentemente do que esse promotor possa sugerir, não há equivalência entre Israel e o [grupo islâmico] Hamas. Sempre apoiaremos Israel contra ameaças à sua segurança", disse Biden em comunicado.
No mesmo dia, o presidente da Câmara, Mike Johnson, disse que o Congresso dos Estados Unidos está explorando todas as opções, incluindo sanções para punir o TPI.
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Para o doutor em ciência política e professor da Universidade Federal do Piauí (UFPI) Elton Gomes, a política externa dos Estados Unidos é guiada por interesses de poder, mais do que por valores morais.
"Israel é um aliado histórico dos Estados Unidos no Oriente Médio, com uma parceria política, econômica e militar de longa data", afirmou o professor.
Segundo Bruno Campos, mestrando em relações internacionais pela Universidade de São Paulo (USP), pesquisador do Laboratório de Estudos do Oriente Médio (LEOM) e professor, desde o início da guerra em Gaza, Joe Biden "tem assumido a garantia do direito de Israel em se defender e atacar as atividades do Hamas na Faixa de Gaza". Em contrapartida, "o governo Biden tem subido o tom com atitudes do governo israelense, principalmente na manutenção do fechamento da passagem humanitária para Gaza".
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Recentemente, o Departamento de Estado americano declarou que não considera justa a equiparação entre o primeiro-ministro israelense, Benjamin Netanyahu, e o líder do Hamas, Yahya Sinwar, como criminosos de guerra.
Gomes aponta que "essa posição está relacionada à parceria histórica entre Estados Unidos e Israel, bem como à complexa geopolítica do Oriente Médio, onde os Estados Unidos tentam manter alianças estratégicas, inclusive com países adversários de Israel, como a Arábia Saudita".
Lier Pires Ferreira, pesquisador do Laboratório de Estudos Políticos de Defesa e Segurança Pública da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (Lepdesp/UERJ) e do Núcleo de Estudos dos Países BRICS da Universidade Federal Fluminense (NuBRICS/UFF), destaca que Washington, assim como outros centros globais de poder, "só reconhecem um órgão internacional quando ele está moldado aos seus interesses e conveniência".
"Isso não significa que Washington apoie acriticamente as ações de Netanyahu em Gaza e muito menos que ratifique sem reservas as ações extremistas que estão sendo praticadas pelas forças israelenses. Se pudesse escolher, acredito que eles não desejariam o conflito; não porque estão preocupados com os palestinos — na verdade, poucos estão — mas porque o conflito em Gaza gera desgastes com os quais os Estados Unidos preferiam não ter que lidar", pontuou o analista internacional.
Ele complementa: "Daí as tentativas, tímidas, é verdade, em viabilizar um cessar-fogo ou mesmo um acordo de paz, que neste momento daria um grande lastro de legitimidades à administração Biden, visto como um líder errático e sem a firmeza necessária para gerir as grandes questões globais."
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Gomes destaca que, ao apoiar Israel incondicionalmente, Washington também tem que lidar com implicações políticas domésticas significativas.
"Ao apoiar Israel, os Estados Unidos muitas vezes se veem associados às consequências negativas das ações militares, como a perda de vidas civis. Biden, em várias ocasiões, pediu para que Israel abrandasse suas operações em Gaza, em especial em Rafah, tentando limpar a barra de ambos", explicou.
O professor conclui que, embora haja uma dimensão moral e ética, as decisões dos Estados são principalmente pragmáticas.
"Quando conveniente, evocam-se princípios éticos e humanitários. Quando não, prevalecem os interesses objetivos de política externa", finalizou.
Fonte: noticiabrasil
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