Negociação oscila do otimismo de Ciro Nogueira, presidente do PP, à cautela de Marcos Pereira, à frente do Republicanos; União Brasil, de Antônio Rueda, mantém interesse no acordo, mas turbulência interna atrapalha

Discutida desde o ano passado, a criação de uma superfederação de partidos do Centrão empacou diante de expectativas diversas de seus líderes. O mais otimista é o senador Ciro Nogueira, presidente do PP, que já admite fechar um acordo apenas com o Republicanos, colocando as discussões com o União Brasil em segundo plano. 

A sigla agora comandada por Antônio Rueda mantém interesse em um acordo, mas vive uma crise motivada pelo conturbado processo de sucessão interna. Já o deputado Marcos Pereira, chefe do Republicanos, tem deixado as negociações em banho-maria e defende adiar qualquer decisão para o fim do ano, após a eleição municipal, ou até para 2025.

Entre uma conversa e outra, os problemas aparecem, como a disputa de caciques regionais e a campanha da sucessão pela presidência da Câmara, hoje ocupada por Arthur Lira (PP-AL). No triângulo do Centrão, a tendência, hoje, é uma junção apenas entre o PP e o Republicanos. 

Como manda a legislação, caso o casamento ocorra, as duas siglas seriam obrigadas a atuar como um único partido pelo período de pelo menos quatro anos. Só em 2023, elas tiveram acesso, somadas, a cerca de R$ 144 milhões do Fundo Partidário — com o União, o valor chega a R$ 241 milhões.

Até o momento, o maior número de reuniões sobre o assunto ocorreu entre Nogueira e Pereira. O presidente do PP dá como certa essa composição, com anúncio neste mês, enquanto o mandatário do Republicanos ainda evita cravar um desfecho ou data.

— A federação deve ser anunciada em abril — disse Ciro Nogueira ao GLOBO.

No União Brasil, por sua vez, a expectativa é que as conversas continuem. A ideia de dirigentes da legenda é que os detalhes sejam colocados à mesa, principalmente para alinhar os comandos locais do grupo. 

Um exemplo das dificuldades enfrentadas é São Paulo, maior colégio eleitoral do país. Já há acordo entre PP e Republicanos para que o diretório estadual fique nas mãos de Marcos Pereira. Se o União também entrar na jogada, porém, Rueda teria que abdicar da influência que tem hoje no comando regional.

— Estamos alinhados para conversar ao longo do ano — disse ao GLOBO o líder do União na Câmara, Elmar Nascimento, um dos defensores da federação.

Apesar do otimismo de Nogueira, as movimentações não devem resultar em acordo fechado antes das eleições municipais, segundo outros dirigentes. As cúpulas de PP e Republicanos, por exemplo, já haviam concordado que será mais benéfico às legendas disputarem o pleito deste ano separadas diante da falta de acordo em alguns estados.

Se apenas os dois partidos fecharem o acordo, serão 92 parlamentares em uma mesma bancada, só perdendo para o PL, que hoje conta com 95 deputados federais. Com o União, esse número passaria a 150, tornando o grupo a maior força política do Congresso.

O avanço das negociações tem travado também por causa da disputa pela sucessão na Câmara. Lira tem como preferido para sua sucessão Elmar Nascimento, do União. No caso de uma federação com o Republicanos, o apoio do grupo, porém, poderia ser a Marcos Pereira, que tem norteado todas as suas articulações de olho na cadeira da presidência da Câmara. Pereira tem dito que não sairá da disputa.

Assim, a inclusão do União na federação só deverá ocorrer se os dois chegarem a um acordo para que só um deles dispute o comando da Casa.

Aliados de Pereira dizem o fato de o partido ter aberto mão do governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas, é um indicativo de que não cederá. O ex-ministro de Jair Bolsonaro está de malas prontas para sair do Republicanos e embarcar no PL.


Fonte: O GLOBO