Vereadores e agentes públicos de cidades do estado de São Paulo são alvos da operação; contratos somam mais de R$ 200 milhões

O Ministério Público de São Paulo, por meio do Grupo de Atuação Especial de Combate ao Crime Organizado (GAECO) e a Polícia Militar deflagrou, na manhã desta terça-feira, a Operação Muditia, que tem o objetivo de desarticular um grupo criminoso investigado por fraudes em licitações no estado. O grupo teria conexões com o Primeiro Comando da Capital (PCC).

As empresas do grupo têm contratos públicos que somam mais de R$ 200 milhões nos últimos anos, de acordo com o g1. Alguns deles atendiam a interesse do PCC, que tinha influência na escolha dos ganhadores de licitações e a divisão dos valores obtidos ilicitamente.

A investigação aponta que empresas atuavam para frustrar a competição nos processos de contratação de mão de obra terceirizada em diversas prefeituras e Câmaras Municipais de São Paulo.

Estão sendo cumpridos mandados de busca e apreensão em 42 endereços e 15 de prisão temporária. Os mandados foram expedidos pela 5ª Vara Criminal de Guarulhos. Guarulhos, São Paulo, Ferraz de Vasconcelos, Cubatão, Arujá, Santa Isabel, Poá, Jaguariúna, Guarujá, Sorocaba, Buri, Itatiba e outros municípios têm contratos sob análise.

De acordo com a promotoria, havia simulação de concorrência com empresas parceiras ou de um mesmo grupo econômico. Há ainda evidências de corrupção de agentes públicos e políticos (secretários, procuradores, presidentes de Câmara de Vereadores, pregoeiros etc.) e diversos outros crimes – como fraudes em documentos.

Operação contra empresas de ônibus

A operação deflagrada pelo Ministério Público de São Paulo (MP-SP) na semana passada contra duas empresas de ônibus que seriam usadas para lavar dinheiro do PCC mostrou o alcance das atividades da facção criminosa em negócios que fazem parte do cotidiano dos paulistas, como o transporte público, investimentos imobiliários, clínicas e postos de combustível. A UPBus e a Transwolff (TW), alvos da operação, transportam cerca de 700 mil pessoas por dia na zonas Sul e Leste da capital paulista e receberam quase R$ 800 milhões em remuneração da prefeitura por seus serviços.

A Operação Fim da Linha foi uma continuidade da Sharks, realizada em 2020. Os órgãos da força-tarefa que a executou mostram como a atividade da facção criminosa se diversificou. Além do Grupo de Atuação Especial de Combate ao Crime Organizado (Gaeco) do MP-SP e da Polícia Militar, participaram a Receita Federal e o Conselho Administrativo de Defesa Econômica (Cade), que atua na preservação da livre concorrência.

Entenda como o PCC lava dinheiro do tráfico com empresas de ônibus

O Primeiro Comando da Capital (PCC) aproveitou uma mudança no setor de transporte para se imiscuir no poder público e lavar dinheiro do tráfico de drogas. Em 2015, quando a Prefeitura de São Paulo tentou regularizar a situação dos perueiros, a facção injetou recursos nas então cooperativas de ônibus e as tornou empresas competitivas a ponto de vencerem licitações, de acordo com o Grupo de Atuação Especial de Combate ao Crime Organizado (GAECO).

Depois de dez anos de investigação, com o apoio da Polícia Militar, da Receita Federal e do Conselho Administrativo de Defesa Econômica (CADE), O MP deflagrou ontem a Operação Fim da Linha, a maior já feita no país contra a infiltração da facção no poder público municipal.

Apesar de não ser novidade, o esquema de lavagem de dinheiro por meio das empresas de ônibus é sofisticado, segundo Marcela de Andrade Fonseca, auditora-fiscal da Receita Federal.

— O fato de serem empresas operacionais, que prestam serviço de fato e que têm grande movimentação financeira dificulta a identificação. Por isso demorou tanto tempo para o esquema ser descoberto — afirma Marcela. — É mais fácil encontrar o ilícito quando a empresa é criada para lavar dinheiro.

As duas empresas investigadas são a Transwolff (TW) e UPBus. Juntas, elas transportam quase 700 mil pessoas por dia.


Fonte: O GLOBO