Estudantes de outra instituição foram até o Galois, colégio de elite na capital federal, para disputar partida da competição escolar, mas acabaram ouvindo ofensas como 'macaco e pobrinho'

Uma competição interescolar em Brasília virou palco de acusações de racismo sofrido por alunos da Escola Franciscana Nossa Senhora de Fátima, que foram até o Galois, colégio de elite na capital federal, para uma partida de futsal, realizada no último dia 3. Segundo os relatos, alunos locais que assistiam ao jogo usaram termos como "macaco", "filho de empregada" e "pobrinho" para se referir aos jovens adversários. O evento fazia parte da "Liga de Escolas" de Brasília.

Representada pela diretora Inês Alves Lourenço, a Escola Franciscana publicou, na última quarta-feira, uma nota de repúdio na qual denuncia que seus estudantes foram vítimas de "preconceito social" e "injúria racial" e relata que não houve qualquer intervenção por parte dos árbitros da partida ou de responsáveis do Galois diante da situação. Os ataques, pontua o texto, tornaram "o ambiente inóspito" e deixou "alunos abalados".

"Importantes destacar que os alunos 'agressores' encontravam-se em sua maioria uniformizados, ou seja, estavam sob a guarda e responsabilidade do Colégio Galois, que, neste caso, mostrou-se conivente com a situação humilhante e vexatória vivda pelos alunos da Escola Fátima", prossegue a nota, frisando que a "falta de intervenção eficaz" é "igualmente preocupante".

Orientador educacional e professor de futsal da Escola Franciscana, Carlos de Souza Maia decidiu que o seu time não se retiraria de quadra mesmo diante das ofensas, classificado por ele como "absurdo" e "inaceitável". O educador conta que foi difícil superar a revolta interior para priorizar os estudantes:

— A minha demanda é como professor. Por isso, tive que cuidar do sentimento de tristeza dos meus alunos, apesar de também ter ficado muito mal com a situação.

'Extrema seriedade'

Nesta sexta-feira, o Colégio Galois soltou um posicionamento oficial por meio do seu diretor Angel Pietro Andres. O texto afirma que já foi iniciada uma investigação rigorosa para apurar atos de "extrema seriedade e que precisam de uma intervenção imediata" e ressalta que a escola acredita na educação como um meio de "poderosa de transformação social", sobretudo "entre jovens."

"Solidarizamo-nos profundamente com os alunos e a comunidade da Escola Franciscana Nossa Senhora de Fátima que se sentiram ofendidos e magoados. Entendemos que o ocorrido não só afetou esses alunos, mas também manchou o espírito de amizade e respeito que deve prevalecer em eventos educacionais e esportivos", sustentam os responsáveis pelo Galois.

Na última quinta, Carlos, acompanhado do advogado e vice-diretor da Escola Franciscana, esteve na 1ª DP de Brasília para relatar o episódio. Eles foram aconselhados a encaminhar a demanda para a Delegacia da Criança e do Adolescente (DCA). O professor, no entanto, pontua que a postura da escola não é no sentido de buscar punição, mas sim de cobrar medidas educacionais para que as crianças e adolescentes entendam a gravidade de quaisquer atos discriminatórios.

(estagiário sob supervisão de Luã Marinatto)


Fonte: O GLOBO