Primeira-dama discutiu em Nova York o papel da mulher na política, que tem baixa representatividade no alto escalão do governo Lula

A primeira-dama Rosângela da Silva, a Janja, fez a sua primeira viagem oficial internacional na semana passada, sem estar acompanhada do presidente Luiz Inácio Lula da Silva. Em Nova York para participar de evento da ONU, ela dedicou a semana para reforçar internacionalmente a política de gênero que está sendo construída pelo governo federal, que tem baixa representatividade feminina em postos-chaves.

Ao lado da ministra das Mulheres, Cida Gonçalves, que liderou a delegação brasileira, Janja realizou mais de dez reuniões bilaterais, participou de eventos do Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (PNUD), de café da manhã com delegações e discursou durante a Comissão da ONU sobre a Situação das Mulheres, o maior evento depois da Assembleia Geral.

A Comissão da ONU sobre a Situação das Mulheres (CSW, na sigla em inglês) reúne lideranças mundiais, ONGs, empresas, e parceiros das Nações Unidas para discutir o direito e empoderamento das mulheres em todo o mundo.

Durante a sua passagem pelo evento, Janja andou pelos corredores da ONU carregando uma ecobag personalizada levando um kit preparado por ela mesma para dar a todas as delegações durante as reuniões e encontros. Dentro da bolsa, ela levava, além de blocos e canetas personalizados com a identidade visual do G20, uma camiseta da Aliança Global Contra a Fome e a Pobreza e um livro com a agenda transversal do governo para as mulheres feito a partir do Plano Plurianual (PPA) 2024-2027.

O Relatório Agenda Transversal de Mulheres foi elaborado com o apoio da ONU Mulheres e fornece um panorama dos objetivos e resultados esperados a partir do Plano Plurianual (PPA), prevendo 191 entregas e 75 ações normativas ou institucionais.

No governo federal, como o GLOBO mostrou, as mulheres ainda ocupam menos da metade dos postos em ministérios do governo Lula: 45% dos cargos de confiança das pastas são ocupados por mulheres, mesmo patamar da gestão do ex-presidente Jair Bolsonaro.

Lula também já sofreu críticas por ter indicado dois homens para as vagas no Supremo Tribunal Federal (STF). Após ter escolhido o advogado Cristiano Zanin para uma das cadeiras, o presidente decidiu colocar seu ex-ministro da Justiça Flávio Dino na vaga aberta com a aposentadoria de Rosa Weber na Corte.

Janja chegou a criticar a falta de mulheres na Suprema Corte. Hoje, há apenas a ministra Cármen Lúcia. Janja afirmou ainda que Lula tinha "muito o que aprender" com as mulheres.

— Toda vez que eu chego lá num evento no Supremo, eu vou direto para ela (Cármen Lúcia). Porque eu sempre entro naquela sala, e é uma sala muito masculina. Aquilo me incomoda muito, e aí eu sempre busco a ministra Cármen lá. Eu espero, realmente, é um espaço muito difícil, mas eu espero que ainda esse espaço possa ser de mais mulheres — afirmou, em março.

Durante o evento, Janja discursou na ONU e defendeu as iniciativas do governo voltadas para as mulheres, como a igualdade salarial e a construção da política nacional de cuidados, e falou das prioridades brasileiras na presidência do G20.

— Em um mundo capaz de produzir anualmente riquezas na ordem de US$ 1 trilhão, a fome é fruto de uma escolha política e em pleno 2024 está sendo usada, inclusive, como arma de guerra. Também uma escolha política a manutenção da desigualdade de gênero. A insegurança alimentar afeta mais mulheres do que homens em todos os cantos do planeta. O combate à fome e à pobreza está diretamente conectado ao alcance da igualdade de gênero — afirmou Janja na ocasião.

Única primeira-dama no meio das delegações de 193 países que participaram da reunião da ONU, Janja foi designada por Lula para a missão oficial com a ministra das Mulheres na condição de socióloga, a sua área de formação. Janja não tem não tem um cargo oficial na estrutura do governo, mas se mantém como uma das conselheiras mais influentes do presidente.

Essa, no entanto, não foi a única vez que uma primeira-dama se envolveu em discussões sobre o direito das mulheres em eventos organizados pela ONU. Em 1995, Ruth Cardoso participou em Pequim da IV Conferência Mundial sobre a Mulher, junto com 189 governos e mais de 5.000 representantes de 2.100 ONGs.

Janja realizou mais de dez agendas bilaterais, com representantes de países como a Alemanha, África do Sul, Indonésia, Espanha, Austrália, Cuba, Canadá, União Europeia, Paraguai e Chile. A primeira-dama participou ainda de um café da manhã oferecido pela Missão do México junto à ONU para Ministras, Representantes de Missões e Embaixadoras dos países membros da Comissão Econômica para a América Latina e o Caribe (CEPAL).

Em um dos últimos compromissos, Janja e Cida ofereceram um café da manhã às delegações que integram a Comunidade dos Países de Língua Portuguesa (CPLP), realizado na Missão do Brasil junto à ONU. Lá, o Brasil assumiu a presidência do grupo informal de Representantes Permanentes das Missões junto à ONU.


Fonte: O GLOBO