'Seguro' contra alta do dólar pode diminuir em até 30% retorno exigido por investidores

O projeto de “hedge cambial”, ou seguro contra variações abruptas do dólar, anunciado nesta segunda-feira pelo Ministério da Fazenda, pode reduzir entre 20% e 30% a taxa de retorno exigida por investidores em projetos de longo prazo no Brasil, como os de infraestrutura.

O cálculo foi feito pelo Ministério dos Transportes, a pedido do Tesouro Nacional. Com isso, a expectativa da pasta é de que até seis grupos internacionais despertem interesse nos próximos leilões de rodovias este ano.

Segundo o secretário-executivo dos Transportes, George Santoro, o investidor estrangeiro, quando olha para projetos de longo prazo no país, entre 30 e 35 anos, precisa incorporar na conta o risco de o real se desvalorizar. Isso porque, em caso de perda do valor da nossa moeda, o lucro que será enviado à matriz no exterior ficará menor, depois da conversão cambial.

Na ponta do lápis, se o investidor exige uma taxa de retorno de 11% em um projeto no país, por exemplo, com o risco cambial, ele pode cobrar um percentual de 14%, ou 27% a mais. E muitas vezes o Brasil não tem projetos com esse percentual elevado de retorno.

— Se eu não fizer algum tipo de mitigação do risco cambial, o investidor externo inclui isso como risco, o que aumenta a Taxa Interna de Retorno (TIR) exigida do projeto. Com o hedge, o custo médio do capital (WACC, em inglês) pode cair até 30% — afirmou Santoro ao GLOBO.

De acordo com ele, os contratos terão "cláusulas verdes" para que seja adequado à proteção cambial anunciada pela Fazenda.

Fundos internacionais

Santoro explica que grandes fundos de previdência internacionais têm preferência por ativos que oferecem esse tipo de proteção cambial.

— É muito importante para o país, vamos atrair capital novo. Diferenciado. Se for, por exemplo, investimento de um fundo previdenciário, precisa de hedge cambial. Os operadores se financiam com esses fundos. Eles podem ter um apetite de custo de capital de 11%, mas quando incorporam o risco cambial, sobe para 14%. Isso inviabiliza a vinda - explicou.

Hoje, o modelo adotado no país é a criação de um fundo, com cerca de 0,5% do valor dos contratos, para a mitigação desse tipo de risco. Isso já é usado para evitar aumento da tarifa. O projeto do “hedge”, no entanto, é visto como uma evolução pelo Ministério dos Transportes e uma solução mais estrutural.

— A Fazenda nos procurou porque a nossa carteira de projetos hoje é a mais cara para todo mundo. A cláusula atual não é boa. Pegamos os nossos modelos atuais e testamos, fazendo conta reversa, e chegamos a esse percentual de redução entre 20% a 30% no retorno exigido — afirmou.

Regulamentação

A ideia da pasta é editar uma portaria para se adequar ao projeto da Fazenda, assim que o Conselho Monetário Nacional (CMN) baixe a resolução para se adequar ao setor de transportes.

— Vamos fazer em paralelo. Eles divulgam a resolução do CMN e na sequência tem a portaria de política pública aderindo. E vai se casar com nossa ida à Espanha, onde vamos conversar com nove grupos grandes espanhóis — afirmou.

Com a medida, Santoro acredita que até seis grupos estrangeiros possam já se interessar por projetos no Brasil este ano.

— Fizemos cinco rodadas de conversa com investidores estrangeiros, em cada uma com 22 reuniões bilaterais. Acho que vamos atrair em torno de seis novos grupos. Grupo que já teve aqui e saiu.

O objetivo do governo é aumentar em até um ponto percentual a taxa de investimentos no país.


Fonte: O GLOBO