Competição terminou com o título da anfitriã Costa do Marfim e ainda mais histórias do principal torneio do continente

Porto Velho, RO - A Copa Africana de Nações chegou ontem ao seu fim — com a vitória da Costa do Marfim sobre a Nigéria por 2 a 1 — sendo um grande sucesso. A maior competição de seleções do continente é pródiga em entretenimento e imprevisibilidade. Tanto é que reuniu em sua final a Nigéria, desacreditada após resultado ruins nas eliminatórias da Copa do Mundo, e a seleção dona da casa, que percorreu um caminho tortuoso até a glória da taça.

Recheada de seleções com apelidos relacionados a animais, a CAN 2023 (disputada no início de 2024 por questões climáticas na Costa do Marfim), ficou marcada em algumas oportunidades pelo passeio da zebra, que curiosamente não é usada como alcunha por nenhuma participante do torneio. Resultados como os empates de Moçambique contra Egito e Gana, O massacre de Guiné Equatorial contra a anfitriã Costa do Marfim mostram que por regra, todo resultado pode ser esperado na copa do impossível.

Palancas e tubarões azuis, as sensações lusófonas

Angola e Cabo Verde são exemplos de seleções que o público geral pouco apostou que poderiam ser as sensações da competição. Palancas negras e tubarões azuis, cada um à sua maneira, conquistou as atenções e os corações ao redor do globo. Angola e suas danças comandadas por Gilberto, acompanhado da sua “coluna de som” (como os angolanos chamam as caixas de som portáteis), foram compartilhados aos montes nas redes sociais. 

E não foi só fora de campo que a seleção de Gelson Dala e companhia conquistou corações. Com um estilo alegre, um trio de ataque letal e um bom encaixe, Angola teve um desempenho histórico na competição, caindo para a finalista Nigéria em confronto equilibrado nas quartas de final. A recepção em Luanda foi com festa, com imagens que mais uma vez foram um viral no mundo virtual.

Festa da seleção da Costa do Marfim com o título da Copa Africana de Nações — Foto: FRANCK FIFE/AFP

Já Cabo Verde, a seleção de língua portuguesa que mais evolui nos últimos anos no continente, foi a primeira colocada em um grupo com duas das maiores campeãs da competição. Gana e Egito viram os tubarões nadarem em águas tranquilas ofuscando jogadores como Kudus e o lesionado Salah. A equipe insular do atlântico terminou sua participação de forma invicta nos gramados marfinenses.

Histórias bonitas fazem parte da mística do futebol africano. Países que antes não apareciam para o mundo, conseguem vislumbrar a possibilidade de relevância, o que consolida o número de 24 participantes em sua fase final. Em 2024, a Mauritânia conquistou sua primeira vitória no torneio. 

Se classificou ao bater a poderosa Argélia, e foi eliminada pelos cabo-verdianos nos momentos finais nas oitavas. A Namíbia, país que se tornou independente na década de 90, viu sua equipe vencer a tradicional Tunísia e passar de fase.

Campeões e maiores vencedores da Copa Africana de Nações — Foto: Editoria de Arte

A possibilidade de ver a variedade de estilos de jogo foi um brinde que o torneio deu ao mundo. Isso mostra que a diversidade que marca o torneio não é só cultural, mas também técnica e tática. Ao observar os quadrifinalistas da atual edição, todos diferentes da edição anterior, é possível identificar equipes de posse de bola, de transição rápida, de jogadas concentradas nos corredores, de imposição física, de jogo pelo meio e formas de jogar que agradam todos os públicos.

A possibilidade de ver a variedade de estilos de jogo foi um brinde que o torneio deu ao mundo. Isso mostra que a diversidade não é só cultural, mas também técnica e tática. Ao observar os quadrifinalistas da atual edição, todos diferentes da anterior, é possível encontrar diferentes escolas. Esse choque de formas de pensar o jogo proporcionou entretenimento, tensão e duelos que ficarão marcados para sempre. 

Os donos da casa virando um jogo com um a menos no último minuto da prorrogação contra Mali, depois de já terem mandado Sadio Mané e os campeões de 2021 para casa, A Nigéria sólida e dando um passo rumo ao favoritismo, congoleses-democráticos mostrando sua força ao correr atrás do resultado contra Guiné e um jogo louco com a África do Sul superando uma das mais gratas surpresas do certame tendo seu goleiro, Ronwen Williams defendendo quatro penalidades.

O nigeriano William Troost-Ekong decepcionado com o vice-campeonato da Copa Africana de Nações — Foto: FRANCK FIFE/AFP

A final chegou e colocou frente a frente Nigéria e Costa do Marfim. As super águias com sua trinca de zagueiros saiu na frente, mas não resistiu ao impossível. Os elefantes viraram o placar com Kessié e Haller, aquele que venceu um câncer, deu o título para os donos da casa. 2 x 1 e festa em Abidjan. Da morte para a vida, do inferno ao céu, elefantes voando mais alto que super águias. A copa é deles, que subverteram a lógica e riram da improbabilidade.

A Copa Africana de Nações mostra mais uma vez que os clichês sobre futebol e competições africanas são descabidos. Futebol de qualidade, novas ideias e a afirmação da diversidade entre as escolas de futebol presentes no continente serão um grande legado. O outro é a certeza de que cada sonho tem valor no mundo da bola, e que o impossível pode sim acontecer, basta que alguém o faça.

Ponta de lança joga luz, no GLOBO, nas histórias pouco conhecidas do futebol e da cultura do continente africano


Fonte: O GLOBO