Alguns apoiadores do ex-presidente Jair Bolsonaro, no entanto, criticam ausência de fotos ao lado de Bolsonaro no dia da manifestação

A discreta participação do prefeito de São Paulo, Ricardo Nunes (MDB), na manifestação bolsonarista do último domingo foi vista com bons olhos por aliados próximos do emedebista, que trabalham para evitar que ele seja rotulado como bolsonarista, como tem dito o seu principal adversário na disputa eleitoral, o deputado federal Guilherme Boulos (PSOL). Alguns aliados de Jair Bolsonaro, no entanto, criticaram a ausência de fotos ao lado do ex-presidente nas redes sociais do prefeito.

Antes do ato, Nunes se encontrou com Bolsonaro no Palácio dos Bandeirantes, sede do governo paulista. Num vídeo distribuído pela pré-campanha, o prefeito aparece cumprimentando o ex-presidente com um abraço. Próximo aos dois estão o governador Tarcísio de Freitas (Republicanos), e o presidente da Assembleia Legislativa de São Paulo, deputado André do Prado (PL).

O prefeito ficou pouco mais de uma hora na manifestação e saiu logo no início do discurso inflamado de Silas Malafaia — não chegou a presenciar os ataques do pastor ao Supremo Tribunal Federal (STF) e nem mesmo o ex-presidente se defendendo das investigações.

Além de rápida, a participação do emedebista no ato foi discreta: ele ficou longe de Bolsonaro e, em vários momentos, era difícil enxergá-lo em cima do caminhão de som. Como previsto, Nunes também não discursou. E foi citado por Bolsonaro apenas num agradecimento à presença da Guarda Civil Metropolitana na Avenida Paulista.

Ao deixar o evento, por volta das 15h50min, Nunes justificou que precisava dar suporte à esposa em um evento de adoção de animais — a camiseta amarela que ele usou no ato trazia o logo da feira promovida pela ONG "SOS Caramelo". Mais tarde, ele voltou a se encontrar com Bolsonaro e outros aliados numa "pizzada" organizada no bairro da Santa Cecília, com mais de 100 convidados.

Nunes participa de 'pizzada' após ato bolsonarista na Paulista — Foto: Reprodução

Ao GLOBO, o prefeito elogiou o ato "organizado, pacífico e democrático" e ressaltou a ausência de cartazes com ofensas a instituições. Questionado se acredita na inocência de Bolsonaro, ele afirmou que todos são inocentes até que se tenha um julgamento.

— É um erro grave incriminar alguém antes de todo o processo legal, não só o presidente Bolsonaro, qualquer um —defendeu Nunes, que tirou foto com apoiadores antes de deixar o local.

Nunes contrariou o próprio partido ao ir à manifestação bolsonarista de domingo. A legenda tem demarcado distância do ex-presidente, sobretudo por conta de sua postura nacional, e pressionado o prefeito não adotar uma guinada excessiva à direita. Hoje, o MDB está na base do governo Lula, com três ministérios, e no passado rejeitou embarcar na gestão Bolsonaro.

A principal preocupação é que, ao ter sua imagem associada à de Bolsonaro, o chefe do Executivo paulistano herde a rejeição enfrentada pelo ex-presidente na capital, além de prejudicar o partido nacionalmente. Na última eleição, de 2022, Lula e Fernando Haddad saíram vitoriosos na capital paulista.

A ligação entre Nunes e Bolsonaro é a principal estratégia de campanha de Boulos. No domingo de manhã, o líder sem-teto distribuiu uma mensagem num grupo de WhatsApp com apoiadores dizendo que "enquanto São Paulo sofre, Ricardo Nunes marca presença em camarote do golpe".

A busca pelo palanque do ex-presidente da República tem duas justificativas pragmáticas: assegurar a presença do PL na chapa do emedebista, garantindo assim um maior tempo de televisão, e impedir que Bolsonaro apoie outro candidato e fragmente os votos da direita.

Em nota, o presidente do diretório municipal do MDB de São Paulo, Enrico Misasi, afirmou que, caso vença o pleito de 2024, o prefeito continuará sendo ele.

"São Paulo tem um prefeito conservador, cristão, contra a liberação das drogas, contra a liberação do aborto e, principalmente, contra a invasão de propriedades", diz o dirigente.

Ele ainda acrescenta:

"O arco de apoio do Nunes vai do ex-presidente Jair Bolsonaro ao Paulinho da Força (Solidariedade), passando pelo Aldo Rebelo. O Boulos tenta polarizar, porque não tem um projeto de cidade e tem zero experiência no assunto. Todos sabem que Nunes é do MDB e o MDB é um partido de centro. Falar que o MDB é bolsonarista significa dizer que o Lula tem em seu governo ministros bolsonaristas."

Bolsonaristas criticam

Apesar de reconhecerem o gesto do prefeito, alguns aliados do ex-presidente Jair Bolsonaro não aprovaram a participação breve dele e tampouco a ausência de publicações ao lado do ex-mandatário nas redes sociais. No domingo, Nunes postou fotos ao lado do governador de Goiás, Ronaldo Caiado (União), e do governador Tarcísio de Freitas, ambas nos stories, cuja duração é de 24 horas. Nesta segunda-feira, um dia depois do ato, ele postou outro storie: neste, há um trecho do abraço em Bolsonaro.

Criticado por ausência de fotos ao lado do ex-presidente, Nunes publicou trecho de vídeo com Bolsonaro um dia depois de ato — Foto: Reprodução

— Fiquei muito feliz em ver o prefeito de São Paulo na manifestação, ainda que de forma muito tímida e sem explicitar o apoio em suas redes sociais. Espero que tenha sido uma percepção equivocada de minha parte e que o apoio do presidente Bolsonaro à sua reeleição seja recíproco e incondicional — disse o deputado estadual bolsonarista Lucas Bove, do PL, que estava na manifestação.

Fabio Wajngarten, advogado e braço-direito de Bolsonaro, declarou que a participação de Nunes foi "adequada" e que o prefeito "demonstrou apoio e solidariedade" ao ex-presidente:

—Todos que decidiram participar, prestigiar, são bem-vindos. É um momento histórico da democracia. O Nunes constrói neste momento a verdadeira frente ampla — declarou o ex-secretário de Comunicação do governo Jair Bolsonaro.

Embora não tenha publicado nas redes sociais, a pré-campanha de Nunes enviou vídeos do prefeito com o o ex-presidente e, em nota, classificou o ato como a "maior manifestação pública já realizada na Avenida Paulista e na história da democracia brasileira".


Fonte: O GLOBO