Instituição financeira pretende se tornar o banco verde da região, com US$ 25 bilhões em financiamentos até 2026, diz Sergio Díaz-Granados

Presidente executivo do Banco de Desenvolvimento de América Latina e Caribe (CAF), Sergio Díaz-Granados concedeu uma entrevista por e-mail aos veículos do Grupo de Diarios América (GDA). Falou sobre a situação da região, da realidade de alguns países, das primeiras medidas do governo de Javier Milei na Argentina e dos planos do CAF.
 
Díaz-Granados participará hoje da Conferência CAF América Latina e Caribe: uma região de soluções globais. O encontro, promovido pelo banco de desenvolvimento, busca funcionar como espaço de diálogo e troca de ideias para moldar o futuro regional. Confira trechos da entrevista:

Qual será o papel do CAF na região neste ano?

Em relação aos desafios que temos adiante, não é segredo que os países de América Latina e Caribe enfrentam grande desafio de impulsionar um crescimento potencial nos próximos anos, para reverter perdas acumuladas, preservando a rica biodiversidade da região. Tudo isso diante de limitações, crescentes pressões sociais e contexto global cada vez mais adverso.

Como está a carteira de projetos do banco no Brasil?

O ano de 2023 foi o mais importante para o nosso trabalho com o Brasil. Aprovamos 19 operações por quase US$ 2,9 bilhões para municípios e estados, assim como para o banco de desenvolvimento regional, o BNDES, e bancos privados, focados em financiar o empreendedorismo feminino, ações climáticas, energia limpa, entre muitos outros setores.

O Brasil é um dos países da região onde temos uma ação mais ampla com uma carteira de mais de US$ 3 bilhões e 48 operações em curso em diferentes regiões. No país funcionam também, além de nosso escritório de representação em Brasília, nosso hub do setor privado em São Paulo, de onde coordenamos a estratégia desse tipo de projeto para toda a região.

Recentemente, o Brasil anunciou um conjunto de obras para a integração da América do Sul com um pacote de financiamento de BNDES, BID, CAF e Fonplata. Isso é mais que uma carta de boas intenções?

Em respeito às Rotas para a Integração, é importante destacar que não é uma carta de boas intenções. É a primeira vez que se leva adiante uma iniciativa com o respaldo e o compromisso de US$ 10 bilhões em prol da integração da América do Sul. Este projeto vem sendo gestado desde maio do ano passado, quando nos reunimos no CAF com o presidente Luiz Inácio Lula da Silva e começamos a avançar com o BNDES.

O BID e o Fonplata aderiram ao projeto. Podemos adiantar que de início haverá um foco especial para o Eixo de Capricórnio (que se desenvolve em torno do trópico de mesmo nome), que possui um perfil de projetos mais desenvolvidos e oportunidades para conexões bio-oceânicas.

Como avalia as medidas anunciadas pelo governo de Javier Milei na Argentina?

Destacamos o avanço obtido pela Argentina na negociação com o Fundo Monetário Internacional (FMI) e estamos otimistas de que esse acordo possa ajudar na estabilização econômica do país. Aqui, foi fundamental o apoio do CAF e de toda a região, por meio de nossa diretório, com a aprovação de empréstimo de US$ 960 milhões para que o país possa seguir cumprindo seus compromissos com o FMI.

Isso mostra nosso compromisso com a Argentina. Nosso papel como banco de desenvolvimento é acompanhar necessidades e demandas dos países membros, contribuindo com apoio financeiro e assessoria técnica que promovam o desenvolvimento econômico e inclusivo.

Como o CAF atacará o problema da desigualdade social e mudanças climáticas, em particular no Caribe?

As previsões climáticas para América Latina e Caribe em nosso relatório indicam que a temperatura média no período de 2021-2040 ficará em torno de 1ºC mais alta que entre 1985-2014. Essa realidade implica em sérias alterações no clima que afetarão a todos os países da região, sendo o Caribe uma das regiões mais vulneráveis.

Não pode haver ação climática sem colocar o Caribe no centro, por isso, em 2022, criamos a Gerência Regional para o Caribe e esperamos continuar incluindo países acionistas. Devemos abrir uma rota de transformação produtiva com mais oportunidades aos mais vulneráveis.

Nesse sentido, a redução da pobreza e a adaptação a mudanças climáticas devem ser uma prioridade. Estamos comprometidos em sermos o banco verde da região, com a meta de destinar US$ 25 bilhões em financiamento verde até 2026, o que representa um aumento de 24% a 40% do total de aprovações.

Há outras ações?

Além disso, como anunciamos na COP28, em Dubai, investiremos US$ 15 bilhões até 2030 para melhorar a gestão de riscos ligados a desastres naturais. Também vamos destinar US$ 1,25 bilhão nos próximos cinco anos para financiar projetos que contribuam para preservar, dinamizar e ampliar ecossistemas marinhos e costeiros de América Latina e Caribe.

*Participaram da entrevista os jornais O GLOBO, Listín Diario (República Dominicana), El Tiempo (Colômbia), El País (Uruguai), La Nación (Argentina), El Universal (México), El Mercurio (Chile), El Comercio (Peru), El Nuevo Dia (Porto Rico), La Nación (Costa Rica), La Prensa Gráfica (El Salvador).


Fonte: O GLOBO