Entidade que administra o Hóquei e Patins pode se tornar a responsável pelo esporte por determinação da World Skate; COB diz que não cabe a ele decidir quem é o representante do esporte

O skate, esporte que foi a sensação dos jogos olímpicos de Tóquio — e tem tudo para repetir a dose em Paris —, está vivendo uma sublimação em seus bastidores que pode fazer atletas desistirem de disputar os jogos de 2024. O motivo é uma determinação da World Skate (entidade internacional que representa o esporte perante o COI) que diz que apenas uma confederação filiada por país pode representar o skate.

A questão é complexa. O skate do nome da entidade internacional não se refere apenas ao esporte de Rayssa Leal e companhia, mas aos praticados sob rodas como a patinação, hóquei e diversos outros correlatos. Quando se tornou olímpico, o skate foi incluído sob esse guarda-chuva da WS.

O problema em questão é que o Brasil tem duas entidades filiadas à WS, que são a Confederação Brasileira de Skateboarding (CBSk) — ela mudou de nome recentemente para se caracterizar apenas como de skate) — e a Confederação Brasileira de Hóquei e Patins (CBHP), que é mais antiga e filiada à WS desde a década de 1950.

A determinação da WS é que as entidades se resolvessem entre si e caso não haja acordo, o comitê olímpico nacional, no caso do Brasil o COB, faça uma indicação. Se ainda assim não houver solução, a decisão final será da própria WS. O prazo para que apresentem uma solução é dia 31 de dezembro. Até agora, as entidades ainda não entraram em acordo.

CBHP x CBSK

Moacyr Júnior, presidente da CBHP, diz que a necessidade da fusão entre as federações foi definida em assembleia da WS, em 2019. E que neste mesmo ano ele fez uma proposta de união à CBSk, sugestão que foi repetida em 2021 após as olimpíadas. Ele disse ainda que de todas os mais de 130 países filiados à WS apenas nove não chegaram a um acordo, o que inclui Estados Unidos e Canadá.

— Eu sei desde 2019 que esse dia ia chegar. Mas como vai chegar, a gente não sabe. Se a minha proposta fosse aceita a gente já estava tomando chope juntos em bar e cada um tocando a sua vida — contou Moacyr.

Segundo o presidente da CBHP, a proposta era contratar um CEO e dividir a confederação em duas vices-presidências, com a estrutura do skate em uma e a outra com as modalidades adicionais. E que os valores seriam divididos conforme determina a lei Agnelo Piva.

— Eles não aceitaram e a proposta foi revogada. Tentei uma solução de união, sem perda para ninguém. Eles foram para o tudo ou nada. Não queríamos a briga e estamos seguindo o que diz o estatuto da entidade somos filiados desde os anos 1950 — disse o presidente da CBHP, acrescentando que a resposta da CBSk veio após o prazo estipulado e que por isso a proposta foi revogada.

Eduardo Musa, presidente da CBSK, diz que nunca chegou a haver uma negociação e que não recebeu proposta por parte da CBHP. De acordo com ele, a CBSk enviou uma sugestão recentemente à CBHP, em que frisou que ela quem deveria estar à frente e que o trabalho seria através “da independência total, estatutária, financeira, administrativa, esportiva, com uma representação única”.

— A CBSK é a única entidade no Brasil que administra um esporte olímpico com a garantia documental através de um contrato civil. E que todas as vezes que o assunto fosse pertinente às modalidades deles, eles indicariam o representante e a gente daria uma procuração com totais poderes para decisão sobre as modalidades deles. Eles disseram que não era mais o momento de negociar — disse o presidente da CBSk.

Musa disse ainda que caso a decisão da WS seja por retirar a representatividade do skate da CBSk, a confederação continuará trabalhando pelo skate. E alfinetou a CBHP.

— A CBSK continua trabalhando pelo skate, é o DNA, é pra isso que ela foi formada, ela foi formada pela comunidade do skate e até hoje ela atende a comunidade do skate. Vamos continuar normalmente, a gente não é uma entidade parasita que fica buscando o que é dos outros — afirmou Musa, lembrando que a CBHP não possui os certificados 18 e 18A o que a impede de receber dinheiro público.

Por outro lado, Moacyr diz já ter um plano para receber o skate:

— Eu tenho tudo planejado. Não vou verbalizar e nem escrever nada porque não sei qual vai ser a decisão da WS. Se a CBHP for a representante, no dia seguinte vou estar no COB para apresentar o plano.

Skatistas de posicionam

Nesta semana diversos skatistas se manifestaram nas redes sociais cobrando uma posição do COB e alegando que o esporte já tem uma entidade que os representa, que é a CBSK.O único nome de destaque que não participou da campanha foi Kelvin Hoefler, prata em Tóquio, mas que rompeu com a confederação logo após os jogos e se desligou da seleção.

— Nós skatistas entendemos que a CBSK é a entidade que nos representa desde sempre e não faz sentido para gente ter outra federação para cuidar da nossa modalidade. É apenas a CBSK que nos representa — disse Rayssa Leal em uma postagem.

Nos bastidores há um movimento de boicote aos jogos de 2024 entre alguns skatistas caso a representatividade saia das mãos da CBSK. Porém, esse movimento pode perder força a depender dos contratos particulares de cada profissional.

Os skatistas têm se posicionado contrários à fusão há algum tempo. Em março deste ano, a comissão de atletas da CBSK, enviou uma carta ao COB manifestando o seu descontentamento com a situação.

O que diz o COB

Procurado, o COB repassou a responsabilidade de escolha à WS. Em nota, o comitê disse que é “exigência da Carta Olímpica que apenas uma única entidade por país trate de todas as modalidades sob a responsabilidade da Federação Internacional correspondente”.

O comitê disse também que a responsabilidade por indicar quem é seu filiado é da WS. “A solução da questão não passa por decisão do COB, pois ao comitê cabe somente conceder filiação à entidade que seja vinculada à Federação Internacional”, diz a nota.

Por fim, o COB disse que “continuará a apoiar a preparação dos atletas e equipes que buscam a participação nos Jogos Olímpicos e reitera a necessidade de adequação das entidades que compõem o Sistema Olímpico Brasileiro às exigências da Carta Olímpica”.


Fonte: O GLOBO