Brasil precisa atuar para deter uma guerra à nossa porta

O que Nicolás Maduro está fazendo ao reivindicar o território da Guiana para a Venezuela é o que todo ditador faz, cria um inimigo externo quando percebe que há ameaça de perder o poder. Com uma pressão cada vez maior sobre ele, inclusive do Brasil, por eleições limpas, Maduro usou a sua estratégia de sempre que é impugnar todo candidato de oposição que tenha condições de lhe fazer frente, fez isso com María Corina. 

A pré-candidata oposicionista favorita às eleições presidenciais de 2024, da ala mais radical da oposição, foi considerada inelegível por 15 anos para cargos públicos.

Depois disso, arranjou um inimigo externo. Ele inventou essa história totalmente fora de propósito contra a Guiana. Essa é uma reclamação antiga da Venezuela, mas que já foi resolvida. Estamos no século XXI, as fronteiras da América do Sul já estão resolvidas, pacificadas e consolidadas, não tem razão alguma para fazer isso.

Mas ao criar esse inimigo externo, principalmente, numa área que tem muito petróleo, angaria apoio popular. Ele fez campanha durante todo o tempo abraçado por esse nacionalismo, até as crianças nas escolas foram ensinadas que o verdadeiro mapa da Venezuela inclui dois terços da Guiana.

Estão todos os venezuelanos unidos. O que acontece quando se cria um inimigo externo? Fortalece politicamente o governo, então essa é uma técnica antiga dos governantes fracos e autoritários.

Então o próximo passo é previsível, da mesma forma que era previsível que Maduro fosse ganhar de lavada esse referendo. É muito perigoso o que está acontecendo, há um risco de uma guerra que está à nossa porta. As forças armadas já deslocaram tropas para fortalecer a nossa fronteira, mas isso não basta. É preciso dissuadir a Venezuela de fazer essa invasão.

Maduro criou isso de uma forma tão grande, tão forte que até a oposição ficou a favor do referendo, por isso ele teve quase uma unanimidade de venezuelanos a favor dessa incorporação de território da Guiana.

Maduro está criando uma guerra na América do Sul de propósito e esse é o momento da diplomacia brasileira mostrar seu valor. Não adianta querer ser o pacificador em outros lugares do mundo, como no Oriente Médio, por exemplo, onde não tem influência. Aqui tem influência e tem que tomar uma posição firme contra a discussão das fronteiras em pleno século XXI.

É preciso rechaçar de forma mais veemente qualquer tentativa de invasão. O Brasil até agora não fez nenhuma condenação peremptória e nem tentou fazer uma negociação para convencer a Venezuela a não fazer essa invasão.

Isso já foi condenado pela Corte de Haia, mas a Venezuela ignora. O governo não reconhece a corte internacional, que já o condenou por outros motivos. Então nós estamos indo rumo ao precipício, à uma guerra de território, em pleno século XXI na América do Sul.


Fonte: O GLOBO