Município de São Desidério, no Oeste baiano, está no topo do ranking dos que mais derrubaram o bioma no primeiro semestre deste ano; cidade é a maior produtora de grãos do país
Na Bahia, estado que lidera o ranking de desmatamento do bioma, foram detectados 157 mil hectares derrubados, 67% a mais do que no ano passado. Maranhão e Piauí registraram 152 mil e 136 mil hectares desmatados, respectivamente.
— A região abriga grandes produtores de soja, milho e algodão. O cenário, em conjunto com a expansão de novas áreas para agricultura e pastagem, e a deficiência de ações de fiscalização por parte dos órgãos ambientais, são os motivos para a concentração do desmatamento — disse Roberta Rocha, pesquisadora do Instituto de Pesquisa Ambiental da Amazônia (Ipam).
São Desidério, no topo do ranking, é seguido por Balsas, no Sul do Maranhão, e Correntina, também na Bahia. Juntos, os três municípios totalizaram 51,5 mil hectares desmatados.
Em São Desidério, 30 grandes propriedades foram responsáveis pelo desmate de 18,2 mil hectares — cerca de 76% de tudo que foi derrubado na cidade no semestre —, segundo o Sistema de Alerta de Desmatamento do Cerrado do IPAM. Lá, a economia é movimentada pelo algodão e pela soja: o município é o maior produtor de grãos do país.
O Matopiba responde por metade de todo o desmatamento do bioma no Brasil, que totalizou 367 mil hectares derrubados no primeiro semestre deste ano. Na parte do bioma que não está inserida em estados da Amazônia Legal, a reserva legal obrigatória é de 35% da área e, nas demais regiões, o limite cai para 20%. Enquanto isso, na Amazônia, a área que pode ser desmatada com autorização é de 20%.
Diante do forte peso do agronegócio e da escalada do desmatamento no Cerrado, moradores do bioma preocupados com a mudança climática se mobilizam para reduzir os danos causados à savana brasileira.
O apelido que o Cerrado recebeu de “caixa d’água do Brasil” não é em vão: as nascentes do bioma alimentam 8 das 12 bacias hidrográficas do país. As águas do Cerrado também contribuem para as bacias do Paraná e do Tocantins, para o rio São Francisco e para o Pantanal.
— Toda a atenção que a Amazônia recebe muitas vezes apaga o Cerrado, o que é triste para o país todo. Temos muitas nascentes, e o desmatamento aqui afeta 80% do sistema hídrico — diz Caroline Nóbrega, diretora-geral da ONG Aliança da Terra.
Foi em meio ao aumento do desmatamento que a ONG surgiu, para apoiar a produção agropecuária de forma correta. Em 19 anos de atuação, a associação conseguiu expandir as atividades para diversas áreas do Cerrado, com foco em Goiás e Mato Grosso. A organização também ensina voluntariamente as comunidades locais, produtores rurais e pecuaristas a prevenir e combater incêndios.
— Hoje temos brigadas em cinco estados que compõem o Cerrado. Temos cursos para produtores de soja para adotar cuidados socioambientais e trabalhamos junto com produtores rurais para alinhar cultivação e preservação — explica Caroline.
Desmate autorizado
Em um ano, a área derrubada no Cerrado foi de 6.359 km², total aproximadamente cinco vezes maior que o município do Rio de Janeiro. O registro anual foi feito pelo sistema Deter, do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe), entre agosto de 2022 e julho de 2023.
Embora seja o segundo maior bioma da América do Sul, o Cerrado é o que tem a menor porcentagem de áreas com proteção integral contra o desmatamento no país. Outro problema, segundo o Ministério do Meio Ambiente, é que as regras estaduais para o desmatamento no bioma são permissivas demais.
— A nossa estimativa é que mais da metade do desmatamento no Cerrado é autorizado pelos órgãos ambientais estaduais. Nosso grande desafio agora é sincronizar essas informações e dados para, realmente, identificar o que é autorizado, de fato, e fazer uma fiscalização mais eficiente — disse o secretário de Controle do Desmatamento e Ordenamento Ambiental Territorial do ministério, André Lima, durante apresentação dos dados do Deter.
Em visita ao Senado, a ministra do Meio Ambiente, Marina Silva, disse que o plano para frear o desmatamento no Cerrado só terá bons resultados com uma “forte participação dos estados”, sobretudo os que compõem a Matopiba.
— Sem isso, não teremos sucesso. Considerando que mais de 70% (da área desmatada) do Cerrado tem a licença, precisamos revisitar essas licenças para saber o nível de legalidade, e essa articulação já está sendo feita — afirmou a ministra.
Fonte: O GLOBO
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