Socióloga é uma das apostas do Planalto para impulsionar a popularidade da gestão no universo digital

Figura influente no entorno do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) desde a campanha do ano passado, a primeira-dama Rosângela da Silva, a Janja, é uma das apostas do governo para impulsionar a popularidade da gestão nas mídias digitais. Além de atuar como uma espécie de influenciadora informal do Planalto, a socióloga também usa as próprias redes sociais para defender ministros e elogiar aliados, que chegam a ganhar cargos na estrutura federal.

No início de julho, pouco depois de Jean Wyllys retornar de um autoexílio de quatro anos nos Estados Unidos, Janja foi a primeira figura vinculada ao governo a aparecer publicamente com o ex-deputado federal. "Dia de dar um abraço apertado no nosso Jean Wyllys e de dizer pessoalmente como é bom tê-lo de volta. O Brasil é seu!", escreveu a primeira-dama, junto de um vídeo ao lado do ex-parlamentar — horas mais tarde, ele também apareceria em uma foto com o próprio Lula.

Em abril, Janja já havia compartilhado nas redes um encontro anterior com Jean, durante uma agenda internacional de Lula em Madri, capital da Espanha. "Estamos te esperando de braços e corações abertos. Volta logo pra casa", postou a primeira-dama na ocasião.

Uma semana após ser recebido por Janja, o Planalto informou, na última quinta-feira, que Jean assumiria um cargo na Secretaria de Comunicação Social (Secom), órgão vinculado diretamente à Presidência da República. Segundo o divulgado na ocasião, o "jornalista e escritor baiano irá atuar como assessor no planejamento de comunicação do governo".

Outro nome que caiu nas graças de Janja foi o da influenciadora digital de economia popular Nath Finanças, convidada pela primeira-dama, no fim de junho, para participar de uma transmissão ao vivo sobre o programa Desenrola, que prevê a renegociação de dívidas. Nath também integra, desde maio, o CDESS (Conselho de Desenvolvimento Econômico Social Sustentável, ou apenas Conselhão). Ela soma mais de meio milhão de seguidores no Instagram e no Twitter.

Janja e Nath costumam trocar afagos carinhosos nas redes sociais. Em setembro do ano passado, a influenciadora postou uma foto com o então candidato e escreveu: "É Lula no primeiro turno". Janja respondeu: "Linda! Adorei te conhecer". Em maio, na véspera do anúncio de seu nome como integrante do Conselhão, Nath postou que estava "indo para Brasília". A primeira-dama cobrou: "Vou ganhar um abraço?". "CLAROOOO", retrucou a jovem, em tom efusivo e com um emoji de coração.

A mulher de Lula também vem tentando empregar sua influência a favor de ministros. Em meio a notícias sobre a cobiça do Centrão em relação à pasta de Desenvolvimento e Assistência Social, Família e Combate à Fome, Janja surgiu ao lado do titular Wellington Dias. 

"O coração do governo, a menina dos olhos do Lula está aqui, onde estão todos os programas e as políticas públicas que mais podem ajudar o Brasil a sair da pobreza", disse ela na gravação. Dias depois, na última quinta-feira, o próprio presidente ecoou o discurso da primeira-dama: "Esse ministério não sai", resumiu.

Outra ministra que aparece frequentemente com Janja é Margareth Menezes, da Cultura, cujo nome foi indicado ainda na transição pela própria primeira-dama, que venceu uma queda de braço com a cúpula do PT, focada à época em um nome mais afeito ao universo político. A cantora também já esteve em lives com a socióloga, como um encontro sobre a Lei Paulo Gustavo em junho. "Janja é uma nova primeira-dama, ela é ativa", elogiou Margareth em entrevista ao UOL.

Janja estende seus afagos a outros nomes, como o da presidente do PT, a deputada federal Gleisi Hoffmann. Em uma postagem no fim de junho, a primeira-dama chamou a parlamentar de "futura senadora", em alusão a uma possível cassação de Sergio Moro (União-PR), que é alvo de uma ação no Tribunal Superior Eleitoral (TSE) ainda em tramitação. 

O gesto incomodou o ex-juiz da Lava-Jato: "A fala da esposa de Lula foi uma falta de respeito aos 1,9 milhão de eleitores paranaenses que me escolheram para o Senado e igualmente à Justiça eleitoral", reclamou Moro.


Fonte: O GLOBO