O presidente Luiz Inácio Lula da Silva disse à ministra do Planejamento, Simone Tebet, que a indicação do economista Marcio Pochmann para o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística, o IBGE, é sua, pessoal, e que portanto o economista deve ser nomeado para o cargo.

O instituto está desde janeiro sob o comando de um interino, o ex-diretor de pesquisas Cimar Azeredo, mas o nome de Pochmann não agradava a equipe do Planejamento, pasta à qual o IBGE está subordinado.

A conversa entre Lula e Simone se deu na última segunda-feira (24), em uma reunião fechada no Palácio do Planalto. Segundo relatos feitos por interlocutores de Lula à equipe da coluna, a ministra do Planejamento pediu ao presidente um tempo de mais ou menos um mês para preparar a chegada do novo dirigente.

Como o IBGE está subordinado à pasta do Planejamento e, pelo menos em tese, a escolha de seu presidente cabe a Simone Tebet.

Por isso a ideia de nomear Pochmann, um desenvolvimentista ligado ao PT e com postura política muito diferente — chamado por auxiliares de Tebet de "terraplanista econômico” —- colocou em alerta a equipe do Planejamento.

Internamente, os técnicos passaram a tratar a indicação como um "desastre".

Até o início da semana, porém, a ministra não havia sido comunicada oficialmente e nem tinha conversado com o presidente sobre o assunto.

Ela havia sido apenas sondada por um ministro do Palácio do Planalto, que inicialmente apresentou a indicação como obra do ex-presidente do Instituto Lula Paulo Okamotto.

Contudo, na reunião de trabalho que tiveram na segunda-feira, Lima foi peremptório e disse que queria ver Pochmann no IBGE.

Embora não tenha cargos cobiçados e nem emendas ou verbas a distribuir, o IBGE é uma instituição crucial para o desenho das políticas econômicas – além do censo, compila também os dados de inflação e crescimento do PIB, entre outras estatísticas relevantes.

O instituto acaba de concluir o Censo demográfico brasileiro com atraso de dois anos, em razão da pandemia, corte de verbas sob Bolsonaro e, mais recentemente, uma série de dificuldades logísticas.

Desenvolvimentista e heterodoxo da escola da Universidade de Campinas, Pochmann é considerado Ele foi presidente da Fundação Perseu Abramo e do Instituto Lula, fez parte da equipe de transição e também já foi presidente do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada, o Ipea.

Sua gestão no Ipea foi tumultuada por polêmicas e disputas com o corpo técnico, em razão de acusações de aparelhamento político e dirigismo ideológico dos trabalhos e até mesmo dos concursos para a contratação de novos servidores.

Pochmann é um crítico das políticas de austeridade fiscal, foi contra a reforma da previdência e costuma dizer em seus discursos que a economia tem que estar sempre subordinada ao projeto político do governo. No entorno de Lula, seu grupo também acumula divergências com o do ministro da Fazenda, Fernando Haddad.

Há quem cite inclusive o temor de que, uma vez no IBGE, Pochmann possa querer seguir o exemplo do Instituto Nacional de Estatísticas e Censos (Indec) argentino, que maquiava dados durante os governos de Néstor e Cristina Kirchner para manter a taxa de inflação anual em 10% ao ano.

Tebet havia deixado para escolher o presidente definitivo do IBGE após a divulgação do censo, mas até o início desta semana não tinha decidido quem seria o novo presidente.

Seu plano era trazer um nome de fora do instituto para comandá-lo, mas não estava descartado transformar Azeredo, o interino, em titular.

Até agora, porém, não havia um nome de consenso no instituto. Nesta segunda feira, Lula decidiu a parada em favor de Pochmann.


Fonte: O GLOBO