Operação é coordenada pelo Grupo Nacional de Combate às Organizações Criminosas, que reúne os ministérios públicos estaduais e a União, ocorre em estados como São Paulo, Minas Gerais e Ceará

O Grupo Nacional de Combate às Organizações Criminosas (GNOC), formado pelos ministérios públicos estaduais, realizou nesta quarta-feira uma megaoperação em 13 estados para combater organizações criminosas que atuam em presídios brasileiros e tráfico de drogas. Segundo o Ministério Público de São Paulo (MP-SP), 159 pessoas foram presas na megaoperação, que apreendeu mais de 10 quilos de drogas e R$ 125,2 mil em espécie. Também houve bloqueio de R$ 3 milhões em contas.

O GNOC cumpriu 228 mandados de prisão e 223 mandados de busca e apreensão nos estados do Acre, Bahia, Ceará, Espírito Santo, Goiás, Mato Grosso do Sul, Minas Gerais, Rondônia, Pará, São Paulo, Sergipe, Paraná e Tocantins. A equipe reúne 43 promotores de Justiça e 40 integrantes de grupos de atuação especial de combate ao crime organizado (Gaecos). A ação contou com apoio de mais de mil policiais militares e da Polícia Rodoviária Federal.

Segundo o MP-SP, foram presos diversos líderes das principais facções criminosas do Rio e de São Paulo. A maior liderança presa, com atuação nacional, atuava pela facção que domina os presídios paulistas no estado do Paraná. O nome não foi divulgado, mas a pessoa era responsável por reunir os dados de julgamentos e transgressões ao estatuto da facção e ao código do crime.

A operação visa desarticular organizações criminosas que atuam no tráfico de drogas e lavagem de dinheiro, prender participantes e buscar provas para investigações que têm sido conduzidas pelo Ministério Público brasileiro. Trata-se da primeira grande operação a nível nacional organizada pelo GNOCO.

— Nossa ideia foi uma ação articulada, em nível nacional, para golpear de forma efetiva o crime organizado. Essa difusão de informações para outros Gaecos via GNOCO permitiu que várias investigações pudessem ser deflagradas — afirmou Mário Sarrubbo, procurador-geral de justiça do Estado de São Paulo e presidente do GNOC.

A megaoperação apreendeu 12 armas, entre pistolas, espingardas e revólveres, e 163 munições. Onze veículos também foram apreendidos pela polícia, além de telefones e documentos com anotações sobre a organização e estrutura das facções, que serão utilizadas em novas investigações.

O GNOC é formado por integrantes dos ministérios públicos estaduais e do Ministério Público Federal e foi criado depois do assassinato do promotor Francisco José Lins do Rego Santos, de Minas Gerais, por criminosos que atuavam com adulteração de combustíveis. O promotor, conhecido como Chico lins, tinha 43 anos e foi assassinado há 21 anos, em janeiro de 2002. A execução ocorreu em plena hora do almoço, em um movimentado cruzamento de Belo Horizonte, quando ele ia para o trabalho. Os dois autores do crime estavam em uma moto, que emparelhou com o carro do promotor.

Mandados cumpridos

Em Minas Gerais, o Gaeco de Varginha cumpre 18 mandatos de prisão - 10 preventivas e oito temporárias - e 16 mandados de busca e apreensão. Batizada localmente de Operação Escritório do Crime, o foco é em criminosos que atuam na região do município de Campo Belo e atuam, além do tráfico de drogas, com tráfico de armas. Dez pessoas já foram denunciadas pela prática de 17 crimes. O tráfico ocorria entre estados, com uso de ameaças e práticas de tortura.

A investigação começou depois de vários homicídios praticados pela quadrilha na região e os promotores descobriram que um dos líderes, responsável pela articulação dos crimes e vinganças, integra a faccção criminosa que nasceu em São Paulo, onde atua na maioria dos presídios. Financiamento do tráfico de drogas e armas, sequestro e receptação de carros clonados estão entre os crimes praticados em solo mineiro.

Em São Paulo, que compartilhou as provas e coordena a operação nacional, os mandados são cumpridos na capital, em Santana de Parnaíba, Jacareí e São Vicente, na Baixada Santista.

No Paraná, o Gaeco do estado cumpre 25 mandados de busca e apreensão e três de prisão. Os mandados estão sendo executados na capital, Curitiba, na Região Metropolitana, Paranaguá, Londrina e Foz do Iguaçu. Dos 25 mandados, 16 decorrem de investigações conduzidas pelo Gaeco de Londrina.

Com base em investigações feitas em Minas Gerais, por grupos que atuam em cidades mineiras, estão sendo ainda cumpridas no Paraná 16 ordens judiciais, dos quais sete são mandados de prisão temporária, sete de busca e apreensão e dois de sequestro de veículos nas cidades de Maringá, Cascavel, Campo Mourão, Marialva e Cianorte. 

A Justiça também determinou o bloqueio de mais de R$ 1 milhão em bens e valores dos criminosos. Este grupo contava com apoio de grandes fornecedores de drogas em áreas de fronteira, para realizar o tráfico em larga escala.

No Ceará a operação desta quarta-feira foi batizada de Sintonia e cumpre oito mandados de prisão preventiva em Fortaleza. Na capital cearense o foco principal é um líder de faccão criminosa que atua também na Guiana Francesa. As investigações tiveram base em compartilhamento de provas encaminhadas pelo Ministério Público de São Paulo em 2021. Com apreensão de celulares, foi identificado que o criminoso era cearense

As ações no Estado do Espírito Santo decorrem de investigação iniciada em agosto de 2022. No total são 23 mandados de prisão e 29 mandados de busca e apreensão em Cachoeiro de Itapemirim, Castelo, Vitória, Vila Velha, Viana, Serra e Cariacica. Segundo o Gaeco de Vitória, já foram presos ao longo da investigação seis integrantes da facção criminosa surgida em presídios paulistas, que foram denunciados à Justiça do Espírito Santo. 

De acordo com os promotores, entre os criminosos estão integrantes da cúpula da facção que atuam também no sistema prisional capixaba, dividindo funções que vão desde a coordenação do caixa do grupo até a atuação no estado.

O Gaeco de Goiás executa em conjunto com as demais forças policiais 70 mandados de prisão preventiva e 38 mandados de busca e apreensão na capital e mais 20 municípios do estado contra uma célula de organização criminosa conhecida como "Sintonia de Goiás". Até às 10 horas, 56 integrantes da facção foram presos. Os crimes incluem, além do tráfico, roubos a agência bancária com uso de explosivos e homicídios.

No Acre são cumpridas 25 prisões preventivas de integrantes de organização criminosa de atuação nacional e 12 mandados de busca e apreensão na capital, Rio Branco, e no município de Porto Acre.

Na Bahia foram cumpridos oito mandados de busca e apreensão nas cidades de Camaçari, Feira de Santana, Andaraí e Itaetê e o alvo são integrantes de organização criminosa que atua na Chapada Diamantina. Um dos mandados foi cumprido em Aracaju, Sergipe.

Em Rondônia, são 30 mandados de prisão e pelo menos 17 pessoas foram presas durante as primeiras horas da manhã.

No Tocantins os alvos são 39 integrantes de organizações criminosas em 13 municípios. Pelo menos 20 deles fazem parte da faccção criminosa que atua em presídios paulistas.

Segundo o Gaeco do Ministério Público do Pará, dos 12 criminosos que eram alvo no estado, seis já estavam mortos e quatro foram presos nesta manhã. Outros dois estão foragidos.

Não há ainda detalhes sobre as operações no Mato Grosso do Sul.


Fonte: O GLOBO