Segundo fontes, líder brasileiro visitará a empresa de tecnologia na quinta-feira; roteiro completo da viagem ainda não foi divulgado

A viagem do presidente Luiz Inácio Lula da Silva à China, que começa nesta quarta-feira, incluirá um tour pelo centro de inovação da Huawei em Xangai, uma parada que pode irritar os EUA, que alegam que a empresa de tecnologia representa uma ameaça à sua segurança nacional.

O presidente brasileiro visitará a Huawei Technologies na quinta-feira, de acordo com duas fontes que pediram anonimato, já que o roteiro completo da viagem ainda não foi divulgado. Sua visita à China— que inclui um encontro bilateral com o presidente chinês, Xi Jinping, em Pequim, na sexta-feira — foi adiada por algumas semanas depois que Lula teve um caso leve de pneumonia no fim do mês passado.

A viagem, que ocorre pouco mais de um mês após a visita de Lula aos Estados Unidos, mostra a importância dada pelo líder brasileiro às potências, as duas maiores parceiras comerciais do Brasil. E a visita à Huawei envia uma mensagem de que ele não escolherá lados na disputa entre Washington e Pequim, que se acirrou nos últimos meses.

A presença de Lula na China segue-se a uma viagem do francês Emmanuel Macron a Pequim, que exortou a Europa a desenvolver mais autonomia estratégica, inclusive em relação ao dólar, para evitar ser atingida em uma possível escalada de tensões entre os EUA e a China. Depois de Lula, as autoridades chinesas receberão Elon Musk, cuja viagem pode incluir uma parada na fábrica da Tesla, em Xangai, segundo pessoas familiarizadas com os planos.

A visita de Lula também faz parte do plano do presidente de esquerda de retomar a tradição de multilateralismo do Brasil, parcialmente abandonada no governo do ex-presidente Jair Bolsonaro.

— Queremos ter relações boas e próximas com todos, em todos os lugares — disse o ministro das Relações Exteriores do Brasil, Mauro Vieira, a um pequeno grupo de jornalistas em abril.

Resposta dos EUA

Para o chanceler, os EUA não devem ver a possível visita de Lula à Huawei como uma provocação.

— Se o presidente visitar outros países, provavelmente visitará outras empresas — disse.

Analistas ouvidos pelo GLOBO no mês passado, no entanto, acreditam que a visita pode "gerar uma percepção negativa nos EUA".

— Acho uma provocação desnecessária — disse ao GLOBO Eduardo Viola, professor de Relações Internacionais do Instituto de Estudos Avançados da Universidade de São Paulo (USP), e professor da Escola de Relações Internacionais da FGV. 

— Nesta nova Guerra Fria, em termos de valores, porque estamos falando, também, de um confronto entre democracias e autocracias, o Brasil está mais próximo dos EUA e da Europa. Mas, do ponto de vista comercial, temos um vínculo forte e uma dependência da China. Chineses e americanos precisam reconhecer isso, e o Brasil precisa ser mais sensível às preocupações dos dois lados.

A decisão de Lula de visitar a Huawei atendeu a um convite feito pela empresa, que está presente no Brasil há mais de 20 anos.

Em 2021, assim que a Federal Communications Commission dos Estados Unidos incluiu a Huawei em uma lista de empresas de tecnologia consideradas de “risco inaceitável” à segurança nacional, a empresa venceu um leilão para fornecer equipamentos para implantação da tecnologia 5G em todo o Brasil. (Com Janaína Figueiredo)


Fonte: O GLOBO