Clube sabe que volta do Mister é difícil, mas faz sua parte enquanto ganha tempo para buscar outros nomes

O ano do Flamengo, que começou com Vítor Pereira e cinco títulos desperdiçados, pode terminar com Jorge Jesus e o tetracampeonato da Libertadores no Maracanã. É esse tipo de projeção que fez a diretoria ignorar rusgas do passado, questões táticas e até dinheiro para fazer uma proposta para o retorno do treinador quase quatro anos depois.

Há interpretações no clube que trata-se de uma cortina de fumaça diante de um planejamento atrapalhado, mas as conversas entre a diretoria e Jorge Jesus de fato tiveram início, mesmo com a consciência de que a volta é complicada, e de que o técnico tem a preferência por permanecer na Europa. Caso se confirme a negativa, o clube carioca entende que terá feito o dever de casa e partirá para o plano B após ganhar algum tempo.

Através dos mesmos agentes que trouxeram Vítor Pereira ao Flamengo e ajustaram a sua saída, mediante pagamento de R$ 15 milhões em multa, o Flamengo passou a Jorge Jesus as suas intenções e aguarda uma resposta imediata. O recado é claro: o clube quer o treinador para já, e não pode esperar até o fim de maio, quando terminar o contrato com o Fenerbahçce. Se necessário, paga também a multa de saída.

A impossibilidade de esperar a boa vontade de Jesus se deve ao calendário importante que terá continuidade essa semana. Até o meio do ano, o Flamengo disputará 13 jogos, dois jogos com o o Maringá pela Copa do Brasil, três partidas da Libertadores e oito rodadas do Brasileirão. Do lado de Jorge Jesus, o argumento é que há possibilidade de conquista de título na Turquia e o sonho com a seleção brasileira até junho.

A questão financeira também pode pesar. O Mister já tem proposta de renovação de dois anos no Fenerbahçce, fora a abertura de mercado na Arábia Saudita caso obtenha sucesso na Turquia. Voltar ao Flamengo e encontrar um elenco com deficiências é visto por pessoas próximas ao treinador como um risco grande.

A sensação da torcida de que Jesus dará jeito em tudo não é compactuada nem na diretoria do Flamengo, que analisa também outras mudanças no departamento de futebol. Preparador físico que trabalhou com Jorge Jesus em 2019, Mário Monteiro deixou o clube junto à comissão de Vítor Pereira, com cinco membros no total. O técnico do sub-20, Mário Jorge, assume interinamente, pois não há comissão permanente.

Sampaoli no aguardo

Se não houver acordo com o técnico Jorge Jesus, Sampaoli segue como a alternativa inicial, mas também gera desconfiança pelo passado recente em clubes brasileiros. O técnico argentino não obteve conquistas relevantes no Santos e no Atlético-MG, e deixou um passivo com a contratação de muitos jogadores. De volta à Europa, também não conseguiu fazer bons trabalhos no Olympique, da França, e no Sevilha.

Agora, Sampaoli está na cidade espanhola também à espera de um contato do Flamengo. Diferentemente de Jorge Jesus, o argentino vê com bons olhos o retorno ao Brasil. Ele tem casa em Búzios, na Região dos Lagos do Rio, e também na Barra da Tijuca. Sem representantes diretos, aguarda o convite que o Flamengo sabe que não precisa fazer correndo. Embora o argentino tenha proposta do Nottingham Forest, da Inglaterra, preferiria voltar ao Brasil.

Enquanto espera a resposta de Jorge Jesus e avalia Sampaoli, o Flamengo também coloca na mesa outras alternativas mais viáveis. 

Técnicos que fizeram bons trabalhos na América do Sul e no Brasil marcam presença em debates internos que obedecem ao processo natural de contratação do clube. Há uma preocupação em adequar o treinador ao elenco para que não seja necessário ir desesperado ao mercado para atender a demandas táticas.

Nesse contexto, Gallardo, ex-River Plate, e Vojvoda, do Fortaleza, agradam a diretoria. Também não está descartada uma nova ronda internacional. Dorival Júnior, que comandou a equipe em 2022, também está disposto a voltar em caso de convite.


Fonte: O GLOBO