Pessoas próximas ao presidente esperam que ele anuncie sua candidatura à reeleição em um vídeo, da mesma forma que fez na última campanha

O presidente dos Estados Unidos, Joe Biden, anunciou formalmente sua candidatura a reeleição nesta terça-feira, pedindo mais uma chance aos americanos para terminar o que começou. 

A disputa do ano que vem caminha para ser um repeteco do pleito de 2020, quando o democrata venceu o então presidente Donald Trump — e a recusa do republicano de reconhecer a derrota mergulhou os EUA na maior crise institucional de sua História recente.

Biden, que caso seja eleito terminará o segundo mandato aos 86 anos, fez o anúncio em um vídeo de três minutos compartilhado nas redes sociais às 6h (7h no Brasil). Na gravação, o presidente retrata a disputa eleitoral como uma batalha contra a extrema direita, dizendo entre as entrelinhas que mais quatro anos são necessários para solucionar as tensões e a polarização americana.

— Quando me candidatei para presidente há quatro anos, disse que estávamos em uma batalha pela alma dos EUA. E ainda estamos — disse ele no vídeo, que começa com imagens do ataque ao Capitólio em 6 de janeiro. — O dilema com o qual nos deparamos agora é se nos anos adiante teremos mais ou menos liberdade, mais ou menos direitos. Sei qual eu quero que seja a resposta e acho que você também. Não é hora de ser complacente. É por isso que concorro à reeleição.

O anúncio de Biden ocorreu exatos quatro anos após o lançamento de sua pré-candidatura à nomeação democrata para a eleição de 2020, também por vídeo. Sem mencionar o nome de Trump, o democrata diz na gravação que os "extremistas MAGA" — sigla em inglês para "Torne os EUA novamente grande", o slogan da campanha que levou Trump ao Salão Oval em 2016 — ameaçam a liberdade do povo americano.

— Toda geração de americanos enfrentou um momento em que precisaram defender a democracia — disse Biden. — Defendam nossas liberdades pessoais. Defendam o direito ao voto e nossos direitos civis. Esse é o nosso momento.

A agenda do presidente não prevê nenhum compromisso de campanha nesta a terça-feira, mas o primeiro discurso do presidente americano após o anúncio será ao 12h30 (13h30, hora do Brasil) em um sindicato de Washington, onde deve falar sobre devolver a "dignidade" ao povo "esquecido". A tática é similar ao anúncio de quatro anos atrás, quando discursou em um sindicato de Pittsburgh, no estado da Filadélfia, após divulgar o vídeo confirmando-o como candidato.

À noite, o presidente e a primeira-dama, Jill Biden, visitarão o Memorial à Guerra da Coreia, em Washington, junto com seu par sul-coreano, Yoon Suk-yeol, e sua esposa, Kim Keon-hee. Ao New York Times, conselheiros do presidente disseram que ele não deve mudar muito sua rotina nos próximos meses: o foco deve ser em seu trabalho à frente da Presidência, na recuperação da economia e culpando os republicanos pelos retrocessos no direito ao aborto e à dificuldade de aumentar as restrições às armas de fogo.

Os principais doadores do presidente, contudo, foram convidados para um evento em Washington que dará o pontapé inicial na campanha de arrecadação. O site da candidatura de Biden e sua vice, Kamala Harris, já aceita também doações, afirmando que "juntos, podemos terminar o trabalho pelo povo americano".

"Joe está dentro. Contribua para dar o pontapé na nossa campanha", diz a parte que pede doações, sugerindo valores entre US$ 10 e US$ 250, com uma sessão para "outros".

A expectativa sobre o anúncio da candidatura de Biden havia aumentado após uma declaração do presidente na Casa Branca na segunda-feira. Ao ser questionado por jornalistas sobre sua campanha de reeleição, Biden respondeu:

— Eu disse a vocês que estou planejando concorrer (...) Eu vou deixar você saber em breve — afirmou Biden.

A idade avançada do presidente desperta desconfianças entre o eleitorado, contudo,. Segundo uma pesquisa da NBC News publicada no fim de semana, 70% dos americanos, incluindo 51% dos democratas, acreditam que ele não deveria concorrer a um segundo mandato.

Mas a legenda enfrenta dificuldades de renovação, e não há um nome de peso para substitui-lo, frustrando os desejos de alas esquerdas democratas, que desejam um representante mais jovem, mais progressista e mais representativo da diversidade do partido — e dos EUA. Apesar disso, não há grandes desafios internos à candidatura de Biden.

A campanha pela reeleição será chefiada por Julie Chávez Rodríguez, sua conselheira e a latina a ocupar o cargo mais alto no atual governo americano, dirigindo o Escritório da Casa Branca para Assuntos Intergovernamentais. Será provavelmente a disputa política derradeira da vida de um homem que já concorreu sete vezes ao Senado e quatro vezes à Presidência e à Vice-Presidência.

Enquanto o ex-presidente continua sendo o favorito para a indicação republicana, o governador Ron DeSantis, da Flórida, também está se preparando para uma provável oferta.

Veja quem é quem na disputa eleitoral americana

Marianne Williamson (Partido Democrata)


A escritora, de 70 anos, anunciou formalmente sua segunda candidatura à Casa Branca — após uma campanha malsucedida em 2020 — em março deste ano. Na eleição passada, a guru de autoajuda e líder espiritual não conseguiu ganhar espaço em meio a tantos outros candidatos democratas, mas suas aparições nos debates chamaram a atenção.

Durante a pré-candidatura em 2020, Williamson pressionou pela expansão dos programas de assistência social e por reparações aos descendentes de escravizados. Depois de suspender a campanha, apoiou o empresário e pré-candidato Andrew Yang, antes de endossar oficialmente a candidatura de Bernie Sanders.

Robert Kennedy Jr. (Partido Democrata)

Filho do senador Robert F. Kennedy, assassinado em 1968, e sobrinho do ex-presidente John F. Kennedy, o político teve a pré-candidatura confirmada pelo tesoureiro da sua campanha na semana passada. Aos 69 anos, Kennedy Jr. é conhecido pelo ativismo antivacina e pelo compartilhamento frequente de informações falsas nas redes sociais. Ele teve sua conta removida pelo Instagram em 2021.

Apesar disso, o democrata é elogiado pelo seu posicionamento em questões como preservação da água potável, e trabalhou ativamente para limpar o rio Hudson.

Donald Trump (Partido Republicano)

O ex-presidente Donald Trump lançou oficialmente sua campanha em novembro do ano passado, poucos dias após as últimas eleições legislativas e apesar dos apelos de alas do Partido Republicano para que ele voltasse atrás após o mau desempenho dos candidatos apoiados por ele.

Na semana passada, Trump se tornou o primeiro ex-presidente americano a se tornar réu, por 34 imputações referentes a três casos relacionados à falsificação de registros comerciais antes das eleições presidenciais de 2016, incluindo o suposto suborno de US$ 130 mil da atriz pornô Stormy Daniels para abafar um caso extraconjugal — que ele sempre negou.

As penas, somadas, podem chegar a 136 anos de prisão. A denúncia, no entanto, não impede seus planos de voltar à Casa Branca em 2024 — pelo contrário, pode até impulsioná-los.

Ron DeSantis (Partido Republicano)

O governador da Flórida ainda não anunciou que será candidato, mas aparece à frente em várias pesquisas, inclusive de seu guru, o ex-presidente Donald Trump. No fim de fevereiro, ele lançou seu novo livro de memórias — "The Courage to be Free: Florida's Blueprint for American Revival" ("A coragem de ser livre: o projeto da Flórida para o renascimento americano", em tradução livre) —, uma espécie de pontapé não-oficial de sua pré-candidatura.

O livro detalha a resposta de DeSantis à pandemia, que, ao lado da questão migratória, o colocou nos holofotes nos últimos anos. O governador, de 44 anos, é visto como a maior ameaça, pelo menos inicialmente, de ganhar a indicação republicana no lugar de Trump. Em seus anos no Congresso, entre 2013 e 2018, DeSantis chegou a ser chamado de “jovem líder brilhante” pelo ex-presidente. Hoje, Trump o chama de “DeSanctimonius” (“DeHipócrita”, em português).

Os dois devem se encontrar no mês que vem durante o fórum anual da National Rifle Association (NRA, associação que defende o livre acesso às armas).

Nikki Haley

A ex-governadora da Carolina do Sul foi a primeira republicana a anunciar sua pré-candidatura, em fevereiro. Embaixadora dos EUA na ONU durante o governo Trump, Haley é considerada uma figura em ascensão no Partido Republicano e ficou conhecida no cenário nacional por seguir a agenda de política externa do ex-presidente.

Em seu anúncio, a pré-candidata prometeu enfrentar adversários estrangeiro e aproveitou para pedir uma "mudança geracional" na legenda. Ela tem 51 anos. Caso vença a disputa pela indicação, Haley se tornaria a primeira mulher e a primeira asiática-americana a ser candidata pelo Partido Republicano.

Vivek Ramaswamy

Aos 37 anos, o ex-executivo de biotecnologia ganhou fama nos círculos da direita americana por se opor aos esforços corporativos de promover causas políticas, sociais e ambientais — os chamados "woke". Ele critica particularmente o investimento ambiental, social e de governança, ou ESG (na sigla em inglês).

Sem qualquer experiência política, Ramaswamy é o fundador da Roivant Sciences, uma empresa de saúde apoiada pelo SoftBank, em 2014, e cofundador da Strive Asset Management, que conta com o apoio do bilionário fundador do PayPal, Peter Thiel. Filho de imigrantes da Índia, foi uma criança superdotada na escola e teve uma curta carreira no rap enquanto estudava em Harvard.


Fonte: O GLOBO