Como no caso há dois anos, novo atentato teve uso de arma branca e escolha de alvos vulneráveis, no mesmo estado

Realizado menos de duas semanas após os assassinatos na Escola Thomazia Montoro, em São Paulo, o ataque desta quarta, numa creche de Blumenau (SC), se insere no período crítico, alertado por especialistas, de 14 dias após massacres em escolas, quando surgem potenciais imitadores. Além disso, o novo atentado imita o massacre de outra creche, em Saudades, também em Santa Catarina, em 2021, pelas semelhanças no uso de arma branca, de escolha de alvos e proximidade geográfica.

Há dois anos, um jovem de 18 anos invadiu uma creche em Saudades portando uma adaga e matou cinco pessoas: três bebês, uma professora e uma funcionária do estabelecimento. O ataque desta quarta, que por enquanto fez quatro vítimas, traz fatos semelhantes, explica a pesquisadora Michele Prado, integrante do "Monitor do Debate Político no Meio Digital", da USP, e autora dos livros "Tempestade Ideológica- Bolsonarismo: A alt-right e o populismo iliberal no Brasil" e "Red Pill - Radicalização e extremismo em nome de Deus, dos Homens e da Liberdade ".

— Houve uma escolha por alvos extremamente vulneráveis para arma branca. O atentado imita o massacre em Saudades — afirma Prado. — Além disso, o caso está dentro da janela de 14 dias do efeito contágio e de potenciais imitadores, em relação ao ataque de São Paulo (ocorrido no último dia 27).

Como massacres dessa natureza costumam ser celebrados entre integrantes da subcultura online extremista, o período de duas semanas após um atentado é considerado uma janela de alerta, pois há a chance de ação de imitadores. Especialistas em extremismo estão investigando informações sobre o autor do ataque desta quarta, como se ele fazia parte dessas comunidades.

Em nota técnica do "Monitor do Debate Político no Meio Digital" da USP, divulgada na semana passada, Prado explicou que ramificações do ecossistema digital chamado "manosfera", nome para a rede de comunidades masculinas, são porta de entrada para a radicalização dos jovens que cometem atentados contra as escolas. O desafio das autoridades e pesquisadores é entender como esses jovens, na maioria brancos, são atraídos por essa vertente.

O autor do ataque de Saudades, que tinha 18 anos na ocasião, está preso e irá a júri popular. Em maio de 2021, ele entrou na creche e atacou dezenas de pessoas, causando cinco mortes. Segundo a polícia, ele não possuía um alvo definido, e seu objetivo era conseguir o maior número possível de vítimas. Ao final do massacre, ele tentou suicídio.

Crime desta quarta

O prefeito de Blumenau, Mário Hildebrandt, disse que o autor do ataque a creche Cantinho Bom Pastor, no município, saltou o muro da unidade de ensino e agrediu crianças que estavam no pátio e outras dependências. O homem de 25 anos estava armado com uma machadinha e matou pelo menos quatro crianças, na manhã desta quarta-feira. A informação foi confirmada pela Polícia Militar de Santa Catarina.

A creche particular Cantinho Bom Pastor oferece serviço de berçário e pré-escola, atende crianças de até 6 anos. Além das aulas "tradicionais", a creche também oferece aulas extras de karatê, capoeira, ballet e funcional.


Fonte: O GLOBO