Tricolor é irreparável em 4 a 1 no Maracanã sobre um Flamengo que derreteu após três meses

Convencionou-se dizer que o atual Fluminense, bicampeão carioca com uma apresentação de gala diante do Flamengo, é o time de Fernando Diniz, que no próximo dia 30 completa um ano à frente do clube. A ausência do técnico na beira do campo no jogo de volta da final do Estadual, por conta de uma expulsão na semana passada, nos faz lembrar que este Fluminense já é a criatura que se confunde com seu criador, ainda mais depois de reverter um placar de 2 a 0 e fazer 4 a 1 sem dó.

Foi um verdadeiro chocolate de Páscoa, com recheio de "olé" e "créu", que coroa o novo melhor futebol do Brasil, que até pouco tempo era o adjetivo usado para se referir ao Flamengo. Hoje, o trabalho de três meses de Vítor Pereira derreteu. O de Fernando Diniz, se estabeleceu de uma vez por todas.

Mas esse é também o Fluminense de Marcelo, recém-chegado, mas que se entrosou em poucos dias a um esquema moderno e corajoso, que possibilitou que o veterano marcasse um gol após 17 anos pela equipe em que foi revelado. Foi mais uma vez o Fluminense de German Cano, artilheiro implacável e solidário, autor de dois gols na finalíssima. Na decisão contra o Flamengo, foi sobretudo o Fluminense de Alexsander. 

O jovem de 19 anos se tornou aposta para as finais depois da lesão de Martinelli, e se juntou a André para anular o meio-campo do Flamengo, representado ironicamente por Gerson, ex-cria do Fluminense. Com seu golaço no segundo tempo também deu números finais à goleada, é verdade, mas Aleksander se mostrou importante por encaixar em um esquema maduro, que desde o começo do jogo ignorava a vantagem do Flamengo.

Flamengo mudou, Fluminense não

A decisão de Vítor Pereira de voltar com Gabigol entre os titulares fez a equipe rubro-negra perder o que tinha alcançado no jogo de ida: mais intensidade e capacidade de competir com o Fluminense. Desta vez, o time tricolor conseguiu fazer o que mais gosta. Tocar a bola desde sua defesa, abrir espaços atraindo o adversário ao seu campo. Não havia mais do lado do Flamengo capacidade de roubar a bola e ficar com ela. Logo, o Fluminense foi senhor do jogo desde o início. E os gols pareceram questão de tempo, tanto quanto a iminente demissão do treinador rubro-negro.

No primeiro, Marcelo demonstrou toda sua categoria. Atuando sem a bola como um lateral mais recuado, quando o Fluminense tinha o domínio o veterano avançava para trocar passes por dentro, seja do lado esquerdo como do lado direito, por onde saiu o gol. Marcelo se colocou como opção de passe em velocidade, mas sabia que essa não seria sua maior arma. Logo, dominou, girou com tranquilidade, levou a bola para fora da área, e encaixou um chute certeiro no canto algo de Santos para abrir o placar.

No segundo gol, a troca de passes do Fluminense evidenciou estratégia clara, que era alargar a linha de zaga do Flamengo e ir costurando ela de fora para dentro, com tabelas e ultrapassagens em progressão. A defesa, representada por David Luiz, marcou a bola. Ela veio de Arias pela esquerda, Ganso tocou de primeira e Cano saiu livre, tocando também de uma vez para vencer Santos.

Antes do fim do primeiro tempo a vantagem do Flamengo não valia mais nada. Na volta do intervalo, Vítor Pereira tirou Gabigol e Léo Pereira, desfez a linha de três zagueiros, e lançou Matheus França e Éverton Ribeiro. Quando poderia igualar mais as ações de meio-campo, Fabrício Bruno colocou o braço na bola em cobrança de escanteio do Fluminense, e o juiz reviu o lance para dar pênalti. Cano parou em Santos, mas no rebote para o centro da área, ampliou. O gol inibiu qualquer reação do Flamengo e de sua torcida, que passou a hostilizar Vítor Pereira e membros da diretoria.

Sem clima e sem ânimo

Não havia mais clima nem condições para uma reviravolta. O Flamengo se transformou em passageiro da própria agonia, enquanto o Fluminense se impunha pela sua consistência. As trocas dos dois lados deram o tom de um time organizado e que manteve o seu padrão e o outro totalmente perdido na falta de ideais, refém de lampejos de alguns talentos amontoados.

Vítor Pereira, não à toa, ficou sentado no banco de reservas a maior parte do tempo, e quando esteve na linha lateral apenas assistiu a uma aula do adversário. O erro na escalação custou caro, mas talvez com o mesmo time, tendo poupado no meio de semana pela Libertadores, ainda assim não seria possível jogar mais futebol do que o Fluminense. Tanto que o gol de Pedro nos acréscimos não motivou nem comemoração por parte da torcida e dos jogadores do Flamengo. Em noite de Maracanã dividido, foi a torcida do Fluminense que fez a festa no final.


Fonte: O GLOBO