Em outro caso envolvendo a violação de sigilos, o senador também considerou a nomeação de servidores da Receita suspeitos de vazar dados fiscais de adversários políticos de Bolsonaro como uma "premiação" pelo trabalho deles

O senador Hamilton Mourão (Republicanos-RS) defendeu neste domingo o monitoramento de cidadãos pela Agência Brasileira de Inteligência (Abin). Como O GLOBO mostrou, durante os três primeiros anos do governo de Jair Bolsonaro (PL), a Abin utilizou, sem autorização legal, o programa “FirstMile”, que permite a geolocalização de alvos por meio do número de celular.

Questionado pelo GLOBO sobre a possibilidade de o órgão ter usado a ferramenta para espionar adversários do ex-presidente, de quem foi vice, Mourão disse considerar “especulação”, mas que a atividade faz parte das atribuições da agência de inteligência.

— A Abin deve monitorar qualquer elemento nocivo ao Estado brasileiro. O monitoramento de adversários, até o momento, a meu ver, é mera especulação .

O uso da ferramenta, contudo, suscitou questionamentos entre os próprios servidores da Abin e motivou a abertura de investigação interna. Integrantes da agência relataram que o programa era usado sem a necessidade de registros sobre quais pesquisas eram realizadas. Na prática, qualquer celular poderia ser monitorado pelo programa sem uma justificativa oficial.

Após a reportagem ser publicada, Polícia Federal, Ministério Público Federal, Controladoria-Geral da União e Tribunal de Contas da União também abriram procedimentos para investigar o uso do sistema.

O senador também minimizou a promoção, assinada por ele em 30 de dezembro, de servidores da Receita Federal acusados de uma devassa em informações sigilosas de opositores de Bolsonaro.

— Para mim, a nomeação foi uma questão de mérito e desempenho, nada além disso — disse, ressaltando não saber se houve realmente violação de dados.


Fonte: O GLOBO