Impasses ainda são significativos, contudo, e acentuados por dúvidas sobre reais intenções do premier e dimensão de suas concessões

Um dia após protestos maciços e uma enorme greve geral forçarem o primeiro-ministro de Israel, Benjamin Netanyahu, a suspender temporariamente sua controvertida reforma judicial, representantes do governo e da oposição se reuniram nesta terça-feira em busca de uma solução negociada para a crise. Os obstáculos, contudo, continuam, com manifestantes que demandam o cancelamento total do projeto e questionamentos sobre a dimensão das concessões do premier para seus aliados de extrema direita.

O presidente de Israel, Isaac Herzog, convocou representantes da coalizão mais conservadora da História do país, além de integrantes dos partidos opositores Yesh Atid e Unidade Nacional para sua residência em busca de um consenso. O cargo de Herzog é majoritariamente simbólico, mas cujas atribuições envolvem a promoção da unidade.

Netanyahu, contudo, não poderá participar pessoalmente das reuniões, já que foi vetado pela procuradora-geral, Gali Baharav-Miara, de intervir pessoalmente nos esforços para aprovar sua reforma. A decisão foi tomada devido à possibilidade de conflitos de interesse, já que as mudanças no Judiciário podem beneficiá-lo.

O atual chefe de governo foi o primeiro mandatário israelense a se tornar réu e está em julgamento por acusações de fraude, quebra de confiança e suborno. Ele nega qualquer irregularidade. Para voltar ao poder em dezembro do ano passado, contudo, fez um acordo com a Suprema Corte concordando que não se envolveria em potenciais conflitos de interesse.

Pontos-chave da reforma incluem o veto à intervenção da Suprema Corte em nomeações judiciais e a possibilidade de o Legislativo derrubar veredictos. Diante das semanas de protesto, contudo, Netanyahu já havia anunciado que postergaria ambos na semana passada.

O premier insistia no voto de outro aspecto importante do projeto o aumento do controle do governo sobre a nomeação de juízes, desequilibrando uma comissão atualmente composta pelo mesmo número de magistrados, políticos e advogados. As grandes manifestações de segunda e o racha que causaram no governo, contudo, o forçaram a congelar por completo a reforma até ao menos o fim do recesso parlamentar de Páscoa, dos dias 2 a 30 de abril.

Possibilidade de diálogo

Há atos maciços há 12 semanas, mas o rechaço atingiu outro patamar após Netanyahu destituir no domingo seu ministro da Defesa, Yoav Gallant, em repúdio às críticas que o aliado fez ao projeto. Houve protestos em ao menos 150 pontos pelo país, com dezenas de milhares de pessoas nas ruas de Tel Aviv e Jerusalém e greve geral que paralisou do atendimento médico não emergencial à indústria de tecnologia, passando por escolas, portos, shoppings e aeroportos.

Pressionado, o premier disse em um pronunciamento à nação— atrasado três vezes, o discurso só foi ao ar 10 horas após o inicialmente planejado — que "quando há uma opção de evitar guerra civil por meio do diálogo", ele acata tal possibilidade. Ele será representado na reunião desta terça por um grupo encabeçado por seu secretário de Gabinete, Yossi Fuchs, e os ministros de Assuntos Estratégicos, Ron Dermer e Talia Eihorn.


Fonte: O GLOBO