Presidente da Turquia declara três meses de estado de emergência nas dez províncias do país mais afetadas por tragédia

O terremoto que devastou parte da Turquia e da Síria nesta segunda-feira foi provocado por um deslocamento de três metros da placa tectônica Arabica, de acordo com o Instituto Nacional de Geofísica e Vulcanologia (INGV) da Itália, que faz o monitoramento geológico da região. 

A placa arábica se moveu em relação à placa Anatólia. O encontro das duas forma uma fenda no subsolo. O resultado deste movimento foi a morte de milhares de pessoas nos territórios turco e sírio.

"É como se a Turquia tivesse se deslocado em relação à placa árabe em direção ao Sudoeste", explicou o chefe do INGV, Carlo Doglioni. "Aconteceu que o que chamamos de placa arábica se moveu cerca de 3 metros na direção nordeste-sudoeste em relação à placa da Anatólia; estamos a falar de uma estrutura na zona fronteiriça entre este mundo, o da placa arábica, e o da placa da Anatólia", acrescentou ao jornal Corriere Della Sera.

O movimento tectônico resultou em um terremoto de magnitude 7.8, com as placas "escorregando" de 30 a 40 segundos, segundo o Doglioni. "Pelas estimativas de que dispomos, e que vão sendo gradualmente aprimoradas, sabemos que a falha foi ativada por pelo menos 150 quilômetros com um deslocamento de mais de três metros", disse.

Doglioni também explicou que a fronteira da Turquia com a Síria é uma "zona altamente sísmica, uma das áreas mais perigosas do Mediterrâneo". O pesquisador lembrou que, nos últimos séculos, houve terremotos extremamente violentos na região.

Mortos e feridos

Milhares de socorristas enfrentam condições congelantes enquanto vasculham destroços em uma busca desesperada por sobreviventes de um terremoto que atingiu o país e a vizinha Síria na segunda-feira, deixando mais de 5 mil mortos, número que deve continuar a aumentar nesta terça-feira levando em consideração a magnitude da destruição.

Enquanto vários países enviaram equipes de resgate para ajudar nos trabalhos, especialistas alertaram que a janela para encontrar sobreviventes está se fechando após o tremor de 7,8 de magnitude, um dos desastres naturais mais mortais deste século. 

Além do frio, a localização da zona da tragédia complica ainda mais os esforços de busca, já que aconteceu em uma região já afetada por uma guerra, uma crise de refugiados e o controle territorial dividido entre oposição e governo na Síria.

Ao menos 3.419 pessoas morreram na Turquia e 1.602 na Síria, o que eleva o total a 5.021, de acordo com as autoridades locais e fonte médicas.

Apenas na Turquia, as autoridades contabilizaram quase 5 mil imóveis desabados. Além disso, a queda da temperatura representa um risco adicional de hipotermia para os feridos e as pessoas bloqueadas nos escombros.

Em vários momentos sem ferramentas, os bombeiros prosseguiram com a dramática busca por sobreviventes durante a noite, desafiando o frio, a chuva ou a neve, assim como o risco de novos desabamentos.

Em Hatay, sul da Turquia, as equipes de emergência resgataram com vida uma menina de 7 anos que estava bloqueada sob uma montanha de escombros.

— Onde está minha mãe? — perguntou a criança, com um pijama de cor rosa manchado pela poeira, no colo de um socorrista.

As condições meteorológicas na região de Anatolia dificultam os trabalhos de resgate e prejudicam as perspectivas dos sobreviventes, que se aquecem em tendas ou em fogueiras improvisadas.

Ajuda internacional

A ajuda internacional para a Turquia deve começar a chegar nesta terça-feira, com as primeiras equipes de socorristas procedentes da França e Catar. Segundo o presidente turco, Recep Tayyip Erdogan, 45 países ofereceram ajuda.

O presidente dos Estados Unidos, Joe Biden, prometeu ao turco "toda a ajuda necessária". Duas equipes americanas com 79 socorristas cada devem seguir para a região, informou a Casa Branca.

A equipe francesa deve seguir para Kahramanmaras, epicentro do terremoto, uma região de acesso difícil e que sofre com a neve.

A China também anunciou o envio de uma ajuda de 6,9 milhões de dólares, que incluirá equipes especializadas em resgates em áreas urbanas, equipamentos médicos e material de emergência.

O pedido de ajuda do governo da Síria recebeu resposta da aliada Rússia, que prometeu enviar equipes de emergência nas próximas horas. E 300 militares russos que já estavam na região ajudam nos resgates.

A ONU afirmou que a ajuda deve chegar "a todos os sírios em todo o território", incluindo a parte que não está sob controle do governo.

Aproveitando o caos provocado pelos tremores, 20 supostos combatentes do grupo extremista Estado Islâmico (EI) fugiram de uma prisão militar em Rajo, controlada por rebeldes pró-Turquia.

Dormir ao relento

A Organização Mundial da Saúde (OMS) afirmou que teme por números ainda piores e um balanço de vítimas "oito vezes mais elevado". Com base nos mapas da região afetada, segundo a organização, "23 milhões de pessoas estão expostas às consequências do terremoto, incluindo cinco milhões de pessoas vulneráveis".

— A OMS está ciente da forte capacidade de resposta da Turquia e considera que as principais necessidades não atendidas podem estar na Síria, no imediato e a médio prazo — afirmou a diretora da OMS Adelheid Marschang ao conselho executivo da agência da ONU.

O secretário-geral da OMS, Tedros Adhanom Ghebreyesus, alertou para a a urgência da situação.

— Agora é uma corrida contra o tempo. A cada minuto que passa, a cada hora que passa, diminuem as chances de encontrar sobreviventes — disse.

Na segunda-feira foram registrados pelo menos 185 tremores secundários, além dos dois terremotos principais: um de 7,8 graus às 4h17 (22h17 de domingo no horário de Brasília) e outro de 7,5 graus de magnitude por volta do meio-dia (6h no horário de Brasília). 

Os tremores prosseguiram durante a madrugada de terça-feira. O mais forte, de magnitude 5,5, aconteceu às 6h13 (0h13 de Brasília) a nove quilômetros de Gölbasi (sul).

As autoridades adaptaram ginásios, escolas e mesquitas para abrigar os sobreviventes. Mas com medo de novos terremotos, muitos moradores preferiram passar a noite ao relento.

— Todo mundo está com medo — disse Mustafa Koyuncu, um homem de 55 anos que passou a noite com a esposa e os cinco filhos no carro da família em Sanliurfa (sudeste da Turquia).


Fonte: O GLOBO