Ex-ministro manifestou preocupação em relação a uma característica do petista no seu terceiro mandato
O presidente Lula está lento, ressentido e não tem ninguém com autoridade para "dizer não" e impedi-lo de tomar certas atitudes – como, por exemplo, comprar uma briga pública com o presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto.
A avaliação não é de nenhum opositor do governo, mas sim de um ex-ministro de Lula: Nelson Jobim, ex-ministro da Defesa que hoje é membro do conselho de administração do BTG Pactual.
Jobim fez essa análise diante de um grupo seleto de pessoas na última quarta-feira, em São Paulo, logo depois da sequência de painéis dos ministros Fernando Haddad, da Fazenda, e Flávio Dino, da Justiça, na conferência anual do banco para investidores.
A conversa do pequeno grupo, de que faziam parte banqueiros e parceiros de negócios do BTG, girava em torno da recente crise entre o presidente Lula e o presidente do BC, que também esteve na conferência, na última terça-feira.
Jobim, que além de ministro da Defesa de Lula ocupou a mesma pasta no governo Dilma Rousseff, afirmou na conversa que a situação inevitavelmente traria problemas para o petista, em especial na condução da política econômica.
A exposição do diagnóstico foi acompanhada com atenção também porque Jobim é tido como um conselheiro de Lula até hoje.
Segundo ele disse na quarta-feira, só uma crise que coloque em xeque o capital político do presidente poderia reequilibrar as forças de seu governo. Nesse cenário, ministros que têm tido sua autoridade tolhida poderiam ganhar novos apoios políticos e se reposicionar no governo.
O caso mais emblemático é o do ministro da Fazenda, Fernando Haddad, que tem buscado ampliar o diálogo com o mercado e viabilizar a reforma tributária no Congresso, ao mesmo tempo que sofre oposição de alas do governo mais à esquerda, que defendem políticas econômicas mais heterodoxas.
Quem ouviu a avaliação de Jobim entendeu que uma sinalização forte do mercado em prol de Haddad, por exemplo, poderia levar Lula a garantir mais autonomia ao ministro. Durante a campanha eleitoral, o atual presidente chegou a dizer que ele próprio determinaria a política da Fazenda.
A própria fala de Haddad naquela manhã diante dos investidores, garantindo que vai antecipar a divulgação do novo arcabouço fiscal do governo, foi vista como um sinal de aproximação pela audiência, em que estavam os principais operadores do mercado financeiro.
A despeito de atropelos nas primeiras semanas de governo, Haddad tem ganhado a confiança de setores do mercado que veem com bons olhos a proposta de reforma tributária em gestação. Muitos deles estavam na plateia do evento do BTG.
Depois de Haddad, que conversou no palco com o economista-chefe do BTG, Mansueto Almeida, foi Jobim quem entrevistou Flávio Dino.
O próximo teste de tensão na área econômica do governo deverá ser a própria definição do arcabouço fiscal do governo.
Como mostramos na última segunda-feira (13), Haddad tem no horizonte um embate potencial com o presidente do BNDES, Aloizio Mercadante, que encomendou um seminário para definir um modelo de âncora a ser proposto ao presidente.
Uma coisa é certa: ao contrário de seus outros dois mandatos, a margem de acerto de Lula é bem mais estreita - e a tradicional lua de mel dos primeiros 100 dias de governo está cada vez mais próxima do fim.
Fonte: O GLOBO
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