Líder há mais tempo no posto protagonizou série de atritos com governo central do Reino Unido nos últimos meses

Porto Velho, RO - A primeira-ministra da Escócia, Nicola Sturgeon, anunciou sua renúncia ao cargo nesta quarta-feira (15). A notícia surpreendeu o país —uma das mais ferrenhas defensoras da independência, ela foi a líder que mais tempo permaneceu no posto e primeira mulher a ocupá-lo.

Eleita há mais de oito anos, Sturgeon afirmou a jornalistas que sua decisão não foi motivada por polêmicas recentes, mas por concluir que chegou a hora de deixar que um novo nome assuma o poder.

"Dar absolutamente tudo de si mesmo é a única forma de exercer essa função, e o país não merece nada menos do que isso. Mas a verdade é que qualquer pessoa só é capaz de fazer isso por um determinado período. Para mim, esse período pode ter se tornado longo demais."

"Minha decisão vem de um lugar de responsabilidade e amor. Um amor difícil, talvez, mas amor de todo modo, pelo meu partido e, acima de tudo, pelo meu país", disse. "Precisamos ir além da polarização na política escocesa, e sei que um novo líder será melhor nesse sentido, alguém sobre quem o país não tenha uma mentalidade definida ainda."

Sturgeon acrescentou que não deixará o cargo imediatamente, de modo a permitir que seu partido, o SNP (Partido Nacional Escocês, na sigla em inglês) organize eleições, e que não pretende deixar a política.

Questionada sobre quem ela gostaria que fosse seu sucessor, disse que não revelaria nomes. Mas afirmou ter convicção de que seu sucessor levará a Escócia à independência, a maior bandeira de seu governo —que ela, no entanto, não conseguiu empreender. O objetivo de seu partido é tornar o território que hoje integra o Reino Unido um estado autônomo e membro da União Europeia (UE).

Embora a primeira-ministra tenha reforçado que sua decisão de deixar o cargo não tem a ver com polêmicas recentes, seus últimos meses no poder foram marcados por fricções com o governo central do Reino Unido, que ela chamou de "anti-democrático".

Um desses enfrentamentos gira em torno da independência da Escócia. No final do ano passado, a Suprema Corte britânica jogou um balde de água fria sobre a administração da escocesa ao decidir que seu país não tem o direito de realizar uma nova consulta pública do tipo sem consentimento do Parlamento britânico.

Outro imbróglio tem a ver com uma lei sobre direitos de pessoas transgênero aprovada pelo Parlamento também no fim de 2022. A legislação simplificava a burocracia relacionada à alteração legal de gênero na Escócia, propondo por exemplo a diminuição da idade mínima para a realização do procedimento, de 18 para 16 anos, e a retirada da exigência de diagnóstico médico de disforia de gênero —bastaria solicitar um certificado de mudança para emitir uma nova certidão de nascimento.

Também esta lei foi desafiada pelo Reino Unido ao ser barrada pelo premiê Rishi Sunak. Foi a primeira vez que um líder britânico fez uso dessa prerrogativa desde que ela foi estabelecida, 25 anos atrás.

Fonte: Folha de São Paulo