Movimento afeta transporte público e educação, enquanto projeto de lei que aumenta idade de aposentadoria de 62 para 64 anos avança no Parlamento

A França vive nesta terça-feira o terceiro dia de protestos convocado pelos sindicatos contra a proposta da reforma da Previdência do presidente Emmanuel Macron, em uma tentativa de aumentar a pressão durante a análise do projeto impopular pelo Parlamento.

Dois em cada três franceses, segundo as pesquisas, são contrários ao aumento da idade de aposentadoria de 62 para 64 anos a partir de 2030 e ao aumento de 42 para 43 anos do tempo de contribuição a partir de 2027 para obter o direito a receber à pensão completa, como propõe o governo.

Apoiados por esta rejeição, os sindicatos lideram uma ofensiva com greves e protestos pacíficos que, há uma semana, resultaram na maior manifestação contra uma reforma social em três décadas, com entre 1,27 e 2,8 milhões de pessoas nas ruas.

O número superou a primeira jornada de mobilização, em 19 de janeiro, quando 1,12 milhão saíram às ruas, segundo as autoridades.

A terceira jornada de greve geral começou nesta terça-feira com o serviço de trens e os transportes públicos de Paris prejudicados, mas com menos intensidade que nas duas paralisações anteriores, particularmente por causa das férias escolares em diversas regiões do país. Pelo menos 20% dos voos cancelados no aeroporto de Orly.

Uma nova jornada de paralisações está marcada para o dia 14 de fevereiro.

— Estamos diante de um presidente que, por um ego inflado, quer demonstrar que é capaz de aprovar uma reforma independentemente da opinião pública, algo perigoso — advertiu o líder do sindicato CGT, Philippe Martinez, à rádio RTL.

A CGT apontou uma queda de 4.500 MW na produção de energia, o equivalente a mais de quatro reatores nucleares, com as paralisações no setor, assim como uma greve de 75% e 100% nas refinarias da Total Energies (56% segundo a direção da empresa).

A continuidade do apoio e da mobilização é crucial para os sindicatos. O governo anunciou a mobilização de 11.000 policiais e gendarmes. Laurent Berger, líder do sindicato CFDT, fez um apelo ao governo no jornal La Croix e pediu que o Executivo escute os manifestantes: "Qual seria a perspectiva se não respondesse? Precisamos da indignação, da violência e da raiva para sermos ouvidos?", questiona.

A proposta de reforma é ampla, mas há duas cláusulas principais às quais os manifestantes se opõem: o aumento para 64 anos como idade mínima para a aposentadoria, em comparação aos atuais 62, e a exigência de 43 anos de contribuição para ter direito a uma aposentadoria integral.

Os apelos das ruas não foram ouvidos no Parlamento até o momento. Na segunda-feira, no primeiro dia de debates no plenário da Assembleia (câmara baixa), 292 deputados votaram contra e 243 a favor de uma moção da esquerda que pedia retirada da reforma.

— É a reforma ou a falência do sistema — afirmou o ministro das Contas Públicas, Gabriel Attal.

Os cofres da Previdência devem registrar déficit de US$ 14,6 bilhões (R$ 78,6 milhões) em 2030, segundo o governo.

Em uma concessão de última hora, a primeira-ministra francesa, Elisabeth Borne, anunciou que as pessoas que começaram a trabalhar entre 20 e 21 anos poderão solicitar a aposentadoria com 63 anos, mas isto não foi suficiente para convencer todos os deputados dos Republicanos, partido de Macron.

O governo optou, no entanto, por um procedimento parlamentar que limita o tempo de debate nas duas câmaras do Parlamento e permite aplicar a reforma caso ambas não se pronunciem até 26 de março. Com a contagem regressiva ativada, o tempo é curto para a oposição. Os sindicatos apostam em aumentar a pressão sobre os deputados com os protestos nas ruas e convocaram um dia de protestos para sábado.

Este é o quinto ciclo de greves contra mudanças na Previdência na França nos últimos 30 anos, e a primeira vez em mais de 12 anos que as oito maiores centrais sindicais francesas aderem juntas a uma greve.


Fonte: O GLOBO