Em entrevista ao ge.globo/ro, o pai do camisa 1 da Seleção conta a história do goleiro rondoniense sobre como ele quase foi lateral e relembra do primeiro contato do atleta no gol. Mycael tem contrato profissional com o Athletico desde os 16 anos

Porto Velho, RO - A cada defesa que Mycael, goleiro da Seleção Brasileira sub-20 e do Athletico Paranaense realiza, seu pai Moisés Moreira pensa: e se ele tivesse seguido como lateral? É quando a sua memória volta para os primeiros passos dados pelo camisa 1, quando a bola atravessou o seu caminho.

Os primeiros contatos de Mycael foram rua e na área de casa, onde o goleiro começou a jogar futebol. Na época, Moisés percebeu a habilidade do jogador com a perna esquerda, a perna mágica de tantos outros craques como Messi, Maradona, Rivaldo, entre outros. Aos dez anos, o pai conta em entrevista ao ge.globo/ro, que colocou o jovem na primeira escolinha de futebol na carreira.

Foi com o seu Zeca, na escolinha do bairro Areia Branca, que o goleiro começou a treinar. Em um dia, com a ausência do goleiro da equipe, Mycael foi lançado para o gol pela primeira vez, e neste momento, a sua vida mudou de trajetória.

– Com dez anos eu coloquei ele na escolinha de futebol. Eu queria que ele fosse lateral-esquerdo, só que num belo dia, num torneio que teve, o goleiro da escolinha que ele treinava não veio, aí ele foi para o gol, defendeu pênalti, fez um monte de defesas e daí para cá só foi no gol – conta Moisés Ferreira ao ge.globo/ro.


Mycael durante a infância — Foto: Reprodução/Arquivo Pessoal

A trajetória de Mycael podia ter tomado outro rumo, mas segundo o pai do atleta, o desejo de ser guarda-redes está no sangue da família. Moisés conta que tiveram outros goleiros na família, inclusive o avô do goleiro da Seleção Brasileira sub-20, Hermes das Chagas.

– Eu acho que nós descobrimos que ele queria ser goleiro por causa da família. Eu tenho três irmãos que foram campeões na várzea de Porto Velho que foram goleiros, o meu pai também foi e hoje eu tenho um sobrinho que joga na várzea que é goleiro. Então eu acho que é de família. Só eu que nunca gostei de jogar no gol – disse o pai do jogador.


Mycael foi campeão em Ji-Paraná, quando treinava na escolinha do Avaí — Foto: Reprodução/Arquivo Pessoal

Desde então, o rondoniense Mycael passou a defender o gol. Em Porto Velho, ele teve a oportunidade de treinar em outras escolinhas de futebol, como o Avaí, o Rondoniense e o R1, com o treinador na época, Ronald Lage, que destacou ter formado um atleta com bastante qualidade. Segundo ele, é possível que Mycael tenha condições de chegar à titularidade da Seleção Brasileira principal em alguns anos.

Mas foi no Athletico Paranaense que o goleiro passou a ser observado para as categorias de base da Amarelinha. Aos 12 anos, o garoto de Porto Velho teve a oportunidade de participar de uma peneira do Furacão. O campo do CFA foi palco para atletas da cidade correrem atrás de seus sonhos. Mas ainda não era o momento de Mycael, apesar de ter atraído os olhares do professor Ferreira, foi outra promessa rondoniense que passou nos testes.

– Ele tinha 12 anos quando fez a peneira do Furacão. Depois o olheiro do Athletico, o professor Ferreira, me chamou no canto e falou do potencial do Mycael, mas que iriam escolher outro jogador, o Arielson que está no Cruzeiro. Ele me disse que teria outra oportunidade para fazer outra avaliação com ele (Mycael) – relembra o pai do atleta.

A segunda oportunidade foi quando Moisés, o pai de Mycael, trabalhava como motorista de um supermercado da cidade. E ele viu que era uma chance para o filho agarrar, como o pênalti em que defendeu pela primeira vez.

O pessoal do Athletico veio aqui, eu estava no trabalho e ele me ligou: Pai, o pessoal do Athletico tá lá no Aluizão e eu quero ir lá!
— Moisés Moreira

Na ocasião, Moisés pediu a liberação para o seu chefe na rede de supermercados. O pai conseguiu ser liberado, e pegou a sua motocicleta para levar o filho para a avaliação novamente. Dessa vez, entre outros vários avaliados, foi a vez do filho. A corrida para o Aluizão valeu a pena.

– No Aluizão estava o professor Ferreira e mais uns empresários de Curitiba. E foi escolhido só ele entre uns 500 atletas que estavam lá. Daí para cá ele ficou sendo observado pelo Athletico, depois foi para Curitiba e passou quase um mês lá – comenta.


Mycael Athletico Brasil seleção — Foto: Bruno Pacheco/CBF

Após o período de avaliações na capital do Paraná, o goleiro retornou à Porto Velho. Ainda realizou outros dois testes em outros grandes clubes, o Grêmio e o Flamengo, clube do coração do pai do arqueiro, mas foi em outro rubrunegro que ele escolheu ficar.

– Teve a peneira do Grêmio e depois teve outra peneira do Flamengo, e os caras do Flamengo queriam levar ele, mas ele já estava em observação com o Athletico. Até eu como flamenguista, o meu sonho era ver ele no Flamengo. Levei a minha família no campo do Rondoniense, mas optei em ficar com ele no Athletico e hoje vai fazer seis anos com a camisa do Furacão – salienta Moisés.

Aos 16 anos, Mycael assinou o seu primeiro contrato profissional com o Furacão. Segundo ele, dormia sonhando e acordava sonhando com esta oportunidade.


Mycael Athletico — Foto: Gustavo Oliveira/Athletico

Como pai, eu sempre fico em cima. Tem horas que eu sou muito grosso e cobro muito dele quando ele erra. Quando termina um jogo, eu já ligo e falo o que ele errou.
— Moisés Moreira, pai do jogador.

Na cidade do clube que revela grandes goleiros no futebol nacional, como o goleiro Santos, hoje no Flamengo, Moisés morou por quatro anos perto do filho. Nesse período, ele relembra ter exigido bastante do filho e hoje pode estar colhendo os frutos de tanta dedicação com o goleiro.

– E agora é só alegria. O orgulho do paizão que é fanático por futebol. Quem não quer ver o seu filho como um jogador profissional? Aí é só alegria! – frisa.

O sonho de ver o filho com a camisa da Seleção


Goleiro do Athletico, Mycael, conquista o Sul-Americano sub-15 com a Seleção — Foto: Thais Magalhães/CBF

Quando ele foi convocado pela primeira vez para a Seleção a sensação foi de alegria, né? Ver um filho seu ser convocado para a Seleção Brasileira é o sonho de todos os pais que amam o futebol, né?
— Moisés Moreira sobre a primeira convocação

Na primeira convocação do filho, o coração bateu mais rápido. O pai conta, em entrevista ao ge.globo/ro, que o primeiro contato após a notícia foi com o avô do goleiro. Moisés tinha acabado de chegar na cidade de Curitiba, e para ele foi uma alegria imensurável. O pai relata que Mycael quebrou recordes com o Furacão, ao se tornar o jogador com mais convocações nas categorias de base da Seleção.

– Na mesma hora eu sozinho lá em Curitiba, tinha acabado de chegar na cidade, sozinho no quarto, acho que eram umas 20h, e a primeira pessoa que eu liguei foi o meu pai para contar que o meu filho foi convocado – disse ao ge.globo/ro.

Em 2019, no torneio sul-americano sub-15, o goleiro Mycael defendeu pênalti na final contra a Argentina, como na primeira vez que atuou como goleiro.

Hoje o coração do pai está mais tranquilo em relação às convocações. Nesta última lista para o torneio sul-americano, o coração estava mais aliviado.

– Eu já tô mais tranquilo porque já estou acostumado com tantas convocações nas categorias de base. Mas na primeira convocação foi uma alegria muito grande – finaliza.

Pode ser que o destino do goleiro rondoniense estivesse traçado desde o primeiro contato com a bola. A ausência do colega de equipe, a primeira defesa, o primeiro pênalti, a linhagem de goleiros na família e até mesmo a escolha pelo Furacão ajudaram Mycael a chegar na Seleção, e desde então, esteve fadado a jogar com a camisa amarelinha representando Rondônia.

Fonte: G1/RO