(foto: Reprodução/ Palácio do Planalto)Antônio Claudio Alves Ferreira, de 30 anos, foi identificado pela Polícia Federal e preso nesta segunda-feira (23/1) em Uberlândia, no Triângulo Mineiro

Porto Velho, RO - 
Ele é o responsável pela destruição de um relógio dado de presente a Dom João VI, em 1808, durante os ataques terroristas realizados contra as sedes dos Três Poderes, em Brasília, em 8 de janeiro.

É esperado que, nesta terça (24/1), o homem seja encaminhado para a capital federal.

Plantonistas da Polícia Federal em Uberlândia e em Goiânia (GO) - Ferreira mora em Catalão (GO), a cerca de 100 km de Uberlândia - confirmaram a prisão, mas a corporação não deu mais informações a respeito das circunstâncias da detenção.

O relógio, que estava no terceiro andar do Palácio do Planalto, foi derrubado pelo homem que está vestido com uma camisa em homenagem ao ex-presidente Jair Bolsonaro (PL), conforme divulgado pelo "Fantástico", da TV Globo.

A peça, de autoria do relojoeiro francês Balthazar Martinot, foi um presente da corte de Luís XIV. Sendo único no mundo, o mais próximo é um de tamanho menor que está no Palácio de Versalhes, na França.

Essa foi uma das obras históricas destruídas pelos bolsonaristas que invadiram e depredaram as sedes do Palácio do Planalto, do Supremo Tribunal Federal e do Congresso Nacional.

Além do relógio, foram depredados um quadro de autoria de Di Cavalcanti, vasos chineses e outros objetos.

A ministra da Cultura, Margareth Menezes, havia dito que ainda não era possível saber se o relógio poderia ser restaurado.

Mais de mil pessoas foram presas durante ou após o ataque, sendo que algumas já foram encaminhadas para os presídios da Papuda e da Colmeia, no Distrito Federal.

Antônio estava “desaparecido”

Testemunhas reconheceram o bolsonarista Antônio Cláudio Alves Ferreira. Ele foi flagrado pelas câmeras de segurança com a blusa do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) e quebrando o relógio de Dom João VI.

Uma das testemunhas que o reconheceram, de acordo com informações dos repórteres Patrik Camporez e Paolla Serra, do jornal "O Globo", é irmã de Ferreira.Rosinaline Alves Ferreira disse que está "muito triste" e "preocupada" com a situação.

“Fiquei sabendo que era ele mesmo pela reportagem (do 'Fantástico'), que eu vi que era ele. Eu queria até saber notícias de onde ele está. A gente acaba ficando preocupada. Pelas atitudes dele, eu vi que o que ele fez é muito errado. Mas estou preocupada porque não sei se ele foi preso e onde está”, afirmou.

Goiás

A reportagem de O Globo foi até Catalão, município do interior de Goiás com 113 mil habitantes, conversar com habitantes da mesma cidade em que Antônio Alves morava antes de sumir. A proprietária da casa alugada pelo suspeito também assegura se tratar da mesma pessoa que devastou uma peça rara no Planalto.

Desde novembro, segundo ela, Ferreira deixou de fazer os pagamentos mensais de R$ 400, justificando ter gastado dinheiro com as recorrentes viagens a Brasília, onde participava do acampamento em frente ao Quartel General do Exército. A dona do imóvel, que pediu para não ser identificada porque teme retaliação, conta ainda ter ficado estarrecida quando reconheceu o seu inquilino nas imagens que circularam pelo país afora.

Na residência de Ferreira, a fachada da casa abandonada exibe uma bandeira do Brasil e um adesivo com foto, nome e número de campanha de Bolsonaro colado na parte superior do portão de entrada de veículo.

O pintor Valderlei Gonçalves, que mora em um imóvel construído nos fundos do mesmo terreno e teve acesso ao interior da residência, relata que o suspeito deixou para trás uma Bíblia, uma faca, um boné com o nome do ex-presidente Jair Bolsonaro, roupas e uma panela cheia de arroz.

O pintor conta ainda que em cima do sofá havia um caderno com anotações escritas à mão ao lado do nome “Bolsonaro”, em letras garrafais. Uma delas é o endereço de um site com informações falsas sobre as urnas eletrônicas.

“Antes daquela bagunça lá em Brasília, ele (Ferreira) colocava o hino da Bandeira e tocava durante três horas aquela barulheira”, contou o vizinho, relembrando que o suspeito sumiu da residência um dia após o episódio que o tornou conhecido.

Ferreira

Informações levantadas por investigadores apontam que o automóvel de Ferreira foi flagrado na madrugada do dia 9 de janeiro por câmeras de uma rodovia dirigindo de Brasília para Catalão, a 314 quilômetros da capital federal. Em nota enviada a "O Globo", a Polícia Civil de Goiás confirma que "tem contribuído com a Polícia Federal com informações sobre um suspeito de atos de vandalismo no Palácio do Planalto que teria moradia em Goiás". A PF não comenta investigações em curso.

Ex-chefe de Ferreira em uma oficina mecânica da região, Fernando Zorzetti também confirma ter reconhecido o ex-funcionário após ver a imagem na televisão. Ele disse que o golpista era "uma pessoa simples" e que acredita que "pode ter confundido" o relógio centenário "com um vaso de planta".

“Eu vi na televisão. Era ele mesmo. Eu tenho 100% de certeza que é ele. Fiquei assustado. Como assim, o Claudinho?" afirmou Zorzetti.

“Pode ter passado na cabeça que aquilo (o relógio) era um vaso de planta ou um trem qualquer, sem ter noção que era um patrimônio histórico ou relíquia. Se as imagens não forem montagens ou se ele não tiver irmão gêmeo, é ele com certeza”, completou.

Pessoas que tiveram contato com Ferreira relatam que ele costumava mandar mensagens com vídeos em apoio ao ex-presidente Jair Bolsonaro e com registros de acampamentos golpistas localizados em frente ao QG do Exército.

No perfil do WhatsApp do mecânico, há uma foto do acampamento com um boneco extraterrestre verde segurando uma faixa com uma mensagem inconstitucional: "Intervenção militar com Bolsonaro no poder".

Fonte: O ESTADO DE MINAS